Edgar Silva diz que há “coisas muito estranhas na Saúde da Madeira e conseguiram desmantelar a jóia da coroa”

“É escandaloso que ainda estejam por resolver problemas de habitação resultantes do 20 de fevereiro de 2010”. Foto Rui Marote

Para a CDU-M, este diferendo que se agudizou, nos últimos tempos, entre Madeira e República, como que num reeditar naquele que em tempos foi chamado de contencioso das Autonomias, não é positivo para a população. Mas sobre isso, em entrevista ao Funchal Notícias, Edgar Silva tem uma certeza: “Há muita encenação e instrumentalização nestas querelas entre o Governo Regional e o Governo da República. E os protagonistas desse suposto conflito não estão preocupados nem como o País nem com a Região, não estão comprometidos com a resolução dos os problemas que importam ter solução, antes só querem fazer encenações”.

É escandaloso que ainda esteja por resolver habitação do 20 de fevereiro

Neste plano de relacionamento institucional entre Região e República, Edgar Silva considera “escandaloso que ainda estejam por resolver problemas de habitação resultantes do 20 de fevereiro de 2010. Que estejam tantas vidas no meio desse empurra entre o Governo Regional e a República. É escandaloso que não se resolvam as questões da mobilidade a pretexto dessa falsa querela. São projetos de grande importância para a nossa vida coletiva”.

Naqueles que são os assuntos colocados em agenda, por parte do Governo Regional, neste universo de conflito com a República, ao longo dos últimos tempos, o novo Hospital, com om concurso público lançado, o modelo de mobilidade, o ferry, estes essencialmente. Como vai a CDU abordar estas questões?

Edgar Silva garante que a CDU, aqui e na República, tudo fará para travar processos que possam resultar em prejuízo para a Madeira e Porto Santo. “Vamos confrontar o Governo, em sede da Assembleia da República, com a presença do ministro, nesta matéria que tem a ver com o modelo de mobilidade aérea. E vamos requerer o agendamento do diploma que foi aprovado, por unanimidade, na Assembleia Regional. O que a CDU quer mesmo é “intrometer-se nesta luta de comadres” com o objetivo de “contribuir para soluções”.

Há coisas muito estranhas na área da Saúde

Relativamente ao novo hospital, Edgar Silva estranha que “as entidades com responsabilidades governativas da Região mostrem tanto empenho na construção do novo hospital e, ao mesmo tempo, estejam de braço dado com os privados. Há coisas muito estranhas nos últimos tempos, na área da Saúde na Madeira, muitos interesses repentinos. O discurso não é coerente”.

Entre os grandes temas para debate, aponta que “as prioridades da CDU passam pela luta contra o abandono da economia produtiva. A Madeira tem potencialidades que não estão salvaguardadas e estes Governos têm empurrado a Região para uma monocultura do Turismo. E sempre que a Madeira dependeu, ao longo de séculos, de monocultura, isso correspondeu, sempre, em cada uma delas, a crises profundas de subsistência, como aconteceu com o açúcar, com o vinho. Agora, o PSD, de braço dado com o Governo da República, comete o erro grave ao não diversificar a base económica”.

Conseguiram destruir e desmantelar a “jóia da coroa”, a Saúde

O desenvolvimento da área da Saúde está no conjunto de prioridades da CDU-M: “Se houvesse um barómetro, relativamente à qualidade do desenvolvimento económico e social, esse barómetro é a forma como as pessoas olham o setor da Saúde, em qualquer sociedade. E na Região, esse barómetro é francamente negativo. Viemos de uma época em que a Saúde era a “jóia da coroa”,

que quando alguém queria apontar algo de positivo que havia na Região, falava na Saúde. Hoje é precisamente o contrário, conseguiram destruir e desmantelar o que havia de mais bem conseguido no processo autonómico”. Para recuperar o tempo perdido, o caminho de futuro, pela visão da CDU, passa pela “revalorização do Serviço Regional de Saúde”.

A Habitação é um dos focos mais importantes, em articulação entre o Governo e as Autarquias, mas a criação de uma escola inclusiva e um emprego com direitos, constituem, também algumas das “bandeiras” que a CDU leva neste percurso de ano eleitoral, registando a necessidade de combater a “precariedade”, nas suas diferentes formas, sendo que Edgar Silva deixa uma mensagem de que “o desenvolvimento não pode acontecer sem a valorização do trabalho e dos trabalhadores. Estes são pilares fundamentais do nosso projeto alternativo para a Madeira. É por aqui que passa uma linha de diferenciação da CDU, relativamente a outros projetos”.

Solução na Venezuela passa por eleições

Uma das questões que tem colocado o PCP na ordem da discussão, nos últimos tempos, tem sido a posição da liderança de Jerónimo Sousa no que se prende com a Venezuela, país onde a Madeira conta com uma grande comunidade, além de que segundo os registos governamentais, a Região já conta com cerca de 6 mil regressados. Edgar Silva, colocado perante uma certa reserva do PCP em condenar Maduro de forma aberta, enquanto institucionalmente a União Europeia e especificamente Portugal reconheceram Guaidó como presidente interino, não responde diretamente, mas sempre vai dizendo: “Preocupa-me que não estejam a ser feitos todos os esforços no sentido de uma solução negociada e de paz para a Venezuela. O povo venezuelano não poderão ter saída de futuro se não for pela via da paz e pouco tem sido feito para isso. Acompanhamos com muita atenção e dizemos que é preciso respeitar o Direito Internacional, mas também é preciso respeitar a Constituição e as regras democráticas. Uma solução para a Venezuela deve ser encontrada de forma negociada e através de eleições. Se há um problema de legitimidade, então que haja eleições para que o povo possa decidir pela via democrática. É esse compromisso que defendemos e não pela via do mais forte”.