Manuel Villaverde Cabral ao FN: “Mário Soares – príncipe da política”

 

22/11/10, Lisboa - Manuel Villaverde Cabral, coordenador do instituto do envelhecimento (Diana Quintela / Global Imagens) © Proibido o uso editorial sem autorização da Global Notícias. Esta fotografia não pode ser reproduzida por qualquer forma ou quaisquer meios electrónicos, mecânicos ou outros, incluindo fotocópia, gravação magnética ou qualquer processo de armanezamento ou sistema de recuperação de informação, sem prévia autorização escrita da Global Notícias.O Funchal Notícias solicitou ao Professor Manuel Villaverde Cabral um depoimento sobre Mário Soares. De forma pronta, este investigador emérito do Instituto de Ciências Sociais, que tem uma vasta obra publicada em Portugal desde a ditadura aos nossos dias, também ele um exilado político, e atual diretor do Instituto do Envelhecimento da Universidade de Lisboa, acedeu partilhar com o FN as suas impressões.

O Doutor Mário Soares só não deixa um vazio maior na vida portuguesa porque o seu perfil está construído há muito tempo e o lugar ímpar que ele ocupa na nossa história contemporânea durará para sempre. Ele foi de longe o principal fundador da democracia portuguesa. Garantiu esse lugar mesmo quando para isso foi necessário opor-se a membros do seu próprio partido, assim como aos partidos e aos militares de Abril que participaram no derrube da ditadura mas combateram a estabilização do regime democrático maciçamente votado nas Constituintes de 1975 e confirmado nas legislativas de 1976 nas primeiras eleições genuínas realizadas em Portugal.

Mais: graças à sua cultura cosmopolita, herdada da geração do seu pai, ministro da 1.ª República, bem como dos anos que passou em França antes do 25 de Abril no exílio a que a ditadura o condenou, Mário Soares cedo entendeu que a democracia portuguesa precisava de se juntar à comunidade dos países livres da Europa ocidental a fim de se proteger dos seus inimigos internos e externos. E assim foi ele quem, contra muita da Esquerda de então, se bateu pela adesão à então Comunidade Económica Europeia, conseguida em 1986, em cujo seio Portugal permanece até hoje, mesmo se ele poderia colocar hoje questões que então não se levantavam.

Imediatamente a seguir, fez-se eleger como o primeiro político civil para a presidência da 2.ª República e, a partir desse lugar, pilotou o processo de consolidação democrática, atingindo porventura então o auge da sua carreira política ímpar.

Para terminar esta recordação do político mais importante do país da nossa época, é preciso acrescentar que falar de Mário Soares é evocar, ao mesmo tempo, sua mulher, Maria Barroso, bem como a família de ambos, que o acompanharam no seu longo percurso de príncipe da política portuguesa.