Sé do Funchal, 29 de Março de 2015
“Felizes os puros de coração, porque verão a Deus” (Mt 5,8)
Em profunda comunhão com toda a Igreja, recordamos hoje a entrada triunfal de Jesus, o Rei Messiânico, na cidade de Jerusalém, e proclamamos o Mistério da sua Paixão, que ali teve lugar. O Domingo de Ramos é, assim, a porta que abre solenemente a Semana Santa, na qual se celebra e atualiza o acontecimento mais importante da nossa fé cristã: o Mistério Pascal da paixão, morte e ressurreição de Jesus.
Viemos em procissão, caminhando em festa. Muitos foram os jovens que nela se incorporaram, testemunhando a sua fé em Jesus Cristo, Rei e Senhor. Eles aqui estão, vindos de vários pontos da Diocese e unindo-se aos jovens católicos de todo o mundo, neste domingo em que se celebra o 30º Dia Mundial da Juventude.
Queridos jovens, saúdo-vos a todos, com muita alegria e amizade, e em vós, aqui presentes, saúdo todos os jovens da Diocese. E convido-vos a reconhecer e a aclamar Jesus Cristo, único Salvador do mundo, com os ramos da vossa alegria e entusiasmo e as capas da vossa generosidade e amor.
Participantes da Páscoa de Cristo
Neste tempo de graça, peço a todos os caríssimos diocesanos da Madeira e Porto Santo, muito particularmente aos jovens, que acompanheis e contempleis Jesus, o Filho amado de Deus, que em obediência ao Pai Se entrega voluntariamente à morte por amor. “Ele que era de condição divina, não se valeu da sua igualdade com Deus, mas aniquilou-se a si próprio”(Fip 2,6). A Liturgia aponta, desde logo, para aspetos que parecem contraditórios, mas constituíram, de facto, o caminho da vida e missão de Jesus: triunfo e glória, sofrimento, morte e ressurreição.
Escutámos o relato da Paixão segundo S. Marcos, que nos ajuda a meditar sobre o caminho e a resposta de Jesus ao mistério paradoxal do sofrimento e da morte. Na sua impressionante narrativa, a Paixão do Senhor torna-se para os discípulos uma grande manifestação do amor eterno de Deus e da sua misericórdia infinita pela humanidade.
Também nós somos contemporâneos da Paixão do Senhor, porque o mistério Pascal continua, ainda hoje, na vida de todos os batizados e, em particular, naqueles que mais sofrem: nos doentes, nos pobres e excluídos, nos desempregados, nos idosos abandonados e em tantas situações de injustiça e miséria humanas. E, como tem alertado o Papa Francisco, com insistência, perante a grave situação de tantos cristãos perseguidos e martirizados, por causa da sua fé, em diversos lugares, todos esses nossos irmãos são associados à Paixão de Cristo e participam nela, de uma forma muito particular.
Com o Santo Padre, apelamos ao respeito dos direitos humanos, à justiça e à liberdade religiosa, à sensibilidade e intervenção da Comunidade Internacional. Segundo a nossa fé, sabemos que o caminho da Cruz não é a derrota final, mas aponta, como no caso de Jesus, para a vitória da vida sobre a morte! Tal não impede, porém, que em nome da fé, da ética fundamental e da boa convivência humana, tais situações se devam resolver, na verdade e na justiça, com o maior empenho e cooperação de todos.
30º Dia Mundial da Juventude
Neste 30º Dia Mundial da Juventude, somos contagiados pela onda de alegria, entusiasmo e de esperança, que brilha no rosto dos jovens que acreditam em Jesus, nos seus ensinamentos e na força do Seu amor. Já a pensar na próxima Jornada Mundial, a realizar em Cracóvia (Polónia), em Julho de 2016, o Papa Francisco dirige aos jovens a sua habitual mensagem de Domingo de Ramos sobre o tema “Felizes os puros de coração, porque verão a Deus” (Mt5,8).
Deste modo, o Santo Padre dá seguimento à preparação que tem vindo a fazer com os jovens para essa grande Jornada e convida cada um a “lançar-se com coragem na busca da felicidade”. Para isso, deverão contemplar a harmonia inicial da criação e comprometer-se no desenvolvimento de uma verdadeira ecologia humana e ambiental, como espaço de fraternidade cósmica, onde a luz divina possa permear de verdade e transparência todas as relações humanas e com a natureza.
O Papa faz um forte apelo aos jovens para viverem esta harmonia como caminho para uma verdadeira felicidade. O pecado rompe a relação com Deus e com os outros e as consequências são desastrosas. Olhando os problemas atuais dos jovens, a vida sem sentido de muitos, a tristeza e a solidão de tantos outros, o Santo Padre convida-os a reatar a comunhão e a vida com Deus, fonte de toda a harmonia, de verdadeira pureza e felicidade humana.
“Se somos convidados a salvaguardar a criação, com muito mais razão”, diz o Papa, pensando no desabrochar da afetividade dos jovens e da vocação para o amor, “devemos defender os bens mais preciosos: os nossos corações e as nossas relações”. E insiste: “rebelem-se contra a cultura do provisório, do relativo, porque vós sois capazes de assumir responsabilidades e de amar de verdade. Eu tenho confiança em vós e rezo por vós. Tenham a coragem de ser felizes”, acrescenta Francisco.
Teresa de Ávila, modelo de santidade
A Ordem Carmelita está a viver o Ano Jubilar Teresiano e, ainda ontem, 28 de Março, celebrámos o aniversário natalício de Santa Teresa de Jesus: 500 anos de Vida! Teresa era uma mulher culta, sábia e determinada. Tinha dezoito anos, quando entrou no Carmelo de Nossa Senhora da Encarnação de Ávila.
No “Livro da Vida”, a jovem narra-nos o seu grande sofrimento, quando deixou a casa da família, principalmente o seu pai, para seguir o Senhor, que a chamava para uma vocação contemplativa, em clausura. De origem nobre, inteligente e alegre, a jovem Teresa apaixonou-se por Jesus Cristo. Deixou tudo quanto tinha, família, bens e amigos, e arriscou toda a sua vida por Cristo, entregando-se incondicionalmente ao Seu amor.
Teresa arrasta e convence, porque vive uma profunda intimidade com Deus. A pedido dos seus confessores, deixou-nos um legado espiritual sobre os caminhos da oração, de grande beleza e profundidade teológica. A Igreja proclamou-a santa e o Papa Paulo VI, reconhecendo a importância dos seus ensinamentos e o testemunho da sua santidade, declarou-a Doutora da Igreja, em Setembro de 1970.
Apelo vocacional
Da vida de Santa Teresa, como testemunho, e da Mensagem do Papa Francisco, como apelo aos jovens, ressaltam três elementos fundamentais na vivência e num projeto de vida cristã: a oração (“Vós rezais?”); a leitura frequente da Palavra de Deus, a começar pelos Evangelhos; e a vocação, devendo cada um procurar reconhecer o chamamento de Deus, seja para o matrimónio ou seja para uma vida de especial consagração.
Neste sentido, o Papa Francisco convida os jovens “a tomarem em consideração o chamamento à vida consagrada ou ao sacerdócio”. E exclama: “Como é belo ver jovens que abraçam a vocação de se darem plenamente a Cristo e ao serviço da sua Igreja! Ponde-vos a pergunta a vós mesmos com ânimo puro e não tenhais medo daquilo que Deus vos pede! A partir do vosso “sim” ao Senhor, tornar-vos-eis novas sementes de esperança na Igreja e na sociedade. Não esqueçais: a vontade de Deus é a nossa felicidade!”
Ao encontro do Papa, em Cracóvia
Queridos jovens! A Igreja pensa em vós, nos vossos problemas e aspirações, e acolhe-vos, como mãe terna e amorosa, para vos conduzir a Cristo, fonte de amor e projeto de felicidade. Procura fazê-lo através da atividade habitual das paróquias e dos movimentos ou grupos de pastoral juvenil, mas propõe também outras formas e experiências de fé, como é o caso das Jornadas Mundiais da Juventude.
Estas nasceram para proporcionar aos jovens espaços alargados de encontro, convivência cristã, celebração e partilha de fé, por parte daqueles que descobriram e se apaixonaram por Jesus Cristo. Já foram muitos os jovens da nossa Diocese que se organizaram, procuraram apoios e conseguiram participar nos Encontros Mundiais de Jovens com o Papa. Oxalá possamos contar, também, com alguns dos nossos jovens, em Julho de 2016, na Polónia.
Eu próprio tive a graça de participar na 1ª Jornada Mundial da Juventude, em Roma, no ano de 1985, com o Papa João Paulo II, e de acompanhar jovens portugueses às Jornadas que a seguir se realizaram na Polónia, no Canadá e na Alemanha. Como pude verificar, foram momentos muito fortes em que o Espírito Santo atua intensamente no coração dos jovens, abrindo perspetivas às suas opções de vida. Muitos deles comprometeram-se, mais generosamente, em grupos e movimentos apostólicos e na formação de famílias cristãs, outros seguiram o Senhor no sacerdócio ou noutras formas de vida consagrada.
Com Jesus, pelas estradas da Vida
Queridos jovens, escutai: o Senhor está sempre “on line” convosco e jamais se desliga do contacto que vocês queiram estabelecer com Ele. Que o santo fundador e padroeiro das Jornadas Mundiais da Juventude, o querido e inesquecível Papa João Paulo II, vos abençoe e que a Jovem de Nazaré, a Mãe do puro Amor e da Beleza, a Virgem Maria, vos acompanhe sempre e até à Polónia, se tiverdes a graça de participar nessa grande Jornada.
Sede testemunhas da Esperança e do Amor do Senhor Jesus! Ele está vivo no meio de nós e acompanha-nos pela estrada da vida! Não tenham medo de abrir o coração a Cristo e inundem o universo com o vosso Cântico de luz, de juventude e de alegria!
Funchal, 29 de Março de 2015
†António Carrilho, Bispo do Funchal