
Maria Cristina Andrade Pedra Costa sucedeu a Duarte Rodrigues na presidência da centenária Associação, um cargo até então reservado à ala masculina. Conta no seu curriculum experiências empresariais diversas, quer ligadas à própria família quer na gestão de outros investimentos.
Quando assumiu as rédeas da instituição que representa os empresários, o burburinho instalou-se. Para uns, era a mão invisível do Grupo Sousa a pôr na vetusta Associação uma pessoa da sua confiança; para outros significava uma lufada de ar fresco potenciada por uma gestão no feminino. O tempo passa e a presidente não se fecha em copas mas defende a Associação em todo o lado, no seu estilo direto e frontal.
Funchal Notícias – Que balanço faz ao seu mandato à frente da ACIF-CCIM?
Cristina Pedra – Este mandato tem sido um desafio face a um significativo conjunto de questões, que tem levado a direção da ACIF-CCIM a encontrar soluções e a empregar todos os nossos esforços na obtenção de resultado positivos. A atuação da atual direção tem sido transversal a todos os sectores de atividade económica e a toda a RAM.
FN – Que tipo de questões são essas que tem mobilizado a sua atenção?
CP – Questões diversas como a elaboração do documento estratégico para o turismo da Região até 2020; a concretização do cluster do mar; os projetos de internacionalização que têm sido desenvolvidos através de uma linha protocolada com o Governo Regional (IDE-RAM) e que tem concretizado missões empresariais a diversos pontos geográficos do mundo e para todos os sectores empresariais; a defesa intransigente do Centro Internacional de Negócios da Madeira; a celebração de diversos protocolos com preços e condições muito vantajosas para os associados; a aposta na formação profissional (geral e especializada); o conjunto de eventos e mostras empresariais muito dirigidas para a vertente comercial; a sistematização de todo o tipo de subsídios ao dispor de todos os empresários, desde a micro empresa até a grande empresa, não só no âmbito regional mas também comunitário.
Tivemos sempre a preocupação de sensibilizarmos os nossos empresários associados, obter o seu envolvimento, com um trabalho de casa muito forte e apresentando propostas concretas, válidas, bem fundamentadas defendendo, nomeadamente junto dos governantes, que as nossas legítimas pretensões se associam ao bem estar da economia e portanto dos próprios madeirenses. E acreditamos que assim é.
FN – Quais têm sido os vossos principais obstáculos?
CP – Os maiores obstáculos com que nos temos deparado são a austeridade e a continuação da política de agravamento fiscal. Na Região Autónoma da Madeira, não obstante a recuperação de alguns indicadores, como sejam a redução da taxa de desemprego ou o menor desequilíbrio registado entre empresas constituídas e dissolvidas, a assistência financeira por parte da República prossegue e continua a determinar e a distribuir, do mesmo modo que ainda se verifica no Continente, sacrifícios por cidadãos e empresas. Adicionalmente, como elemento agravante, o ano de 2014 coincidiu com o final de vários programas comunitários de apoio, não estando ainda operacional o novo sistema de incentivos.
A ACIF-CCIM, por via deste enquadramento, em particular pelo menor acesso a fundos comunitários, viu limitada a sua ação e aguarda, com expetativa os novos sistemas de incentivos – fundamentais para impulsionar o investimento empresarial e a criação de postos de trabalho. Independentemente da data em que tal venha a acontecer, a Direção da ACIF e os seus colaboradores continuarão a dar continuidade à sua missão e ao propósito de encontrar novas oportunidades de negócio e contribuir para consolidar casos de sucesso empresarial dos seus associados.
FN – Como comenta a atual situação das empresas associadas face à crise?
CP – As empresas encontram-se com enormes dificuldades a vários níveis. As palavras de ordem são sobreviver, encontrar novas alternativas de negócio, minimizar o esforço financeiro, diversificar produtos, serviços e mercados.
A iniciativa privada tem conseguido, no global, adaptar-se ao cenário económico restritivo, assumindo decisões de reorganização interna, procura de novos mercados, diversificação na oferta, inovação, criatividade e estratégias de fidelização dos seus clientes – incluindo um diferente reposicionamento para o mercado interno.
Num contexto de forte limitação de recursos, acreditamos que o futuro dos empresários não pode estar dissociado da sua associação de classe: a ACIF-CCIM que deve pugnar pela união e defesa intransigente dos interesses dos seus associados empresários e que seja criadora de valor acrescentado e sinergias para enfrentar os desafios.

FN – A alteração dos estatutos da ACIF-CCIM, com o prolongamento do mandato dos órgãos sociais, foi uma alteração à sua medida?
CP – Não. A alteração proposta, por dezenas de associados, à AG da ACIF, e que veio a ser aprovada, era uma pretensão anterior a esta direção e há muitos anos falada.
No que toca à limitação de mandatos, os estatutos anteriores previam um limite máximo de 2 mandatos (cada um de três anos) para os órgãos sociais – independentemente do cargo que fosse desempenhado.
Significa isto que um diretor (não presidente), ao cumprir um mandato, se se candidatasse a presidente no mandato subsequente, só podia exercer um mandato enquanto tal.
Os estatutos, ora aprovados, mantêm a limitação de mandatos anterior com a exceção para o presidente da direção que, enquanto tal, pode permanecer dois mandatos.
Em resumo, no limite, um diretor pode fazer um mandato e ficar em presidente durante dois mandatos.
A AG votou favoravelmente esta medida, considerando que um projeto e estratégia de liderança podem ser difícil de materializar em três anos, obrigando muitas vezes a seguir projetos que se prolongam para além desse horizonte temporal.
FN – São muitos aqueles que pensam que o Centro Internacional de Negócios da Madeira será a salvação da economia regional. Qual é a sua opinião e que expetativas tem a este nível?
CP – O CINM é um importantíssimo instrumento ativo de política económica e de desenvolvimento, não só para a RAM como também para Portugal.
A direção da ACIF considera que tem de ser um instrumento acarinhado, defendido e aproveitado tal como existe, sem prejuízo do seu cauteloso e prudente aprofundamento, até onde for possível.
A aposta no CINM prende-se com a nossa história recente de três décadas, que permitiu desenvolver uma ferramenta, por excelência, de atração de investimentos e capital exterior. Neste sentido, apesar das grandes perdas já sofridas, nomeadamente ao nível do número de empresas, emprego e receita fiscal, devido à instabilidade e clima de incerteza que vigorou nos últimos anos em torno do CINM, é fundamental relançar a atratividade do Centro Internacional da Madeira, alavanca de extrema importância para o desenvolvimento económico da Região.
Existem diversas características positivas no CINM que podem, e devem, ser publicitadas; também é fundamental que a ACIF-CCIM continue a persistir na sensibilização, informação e defesa acérrima deste instrumento de captação de investimento e criação de postos de trabalho, aliás, de natureza mais qualificada e, em média, melhor remunerada.
A ACIF-CCIM elegeu como vetores essenciais da economia madeirense o turismo e o Centro Internacional de Negócios da Madeira (CINM), não descurando outras iniciativas na área do comércio, restauração e dinamização da própria cidade do Funchal.
A dinamização do turismo – principal setor transnacional da nossa economia – permitirá induzir o crescimento económico transversalmente a toda a Região: hotelaria, agências de viagens, animação turística, construção civil (especialmente para a requalificação), comércio, restauração, serviços (diretos e indiretos) e indústria. Cumulativamente, será o fator dinamizador da manutenção, ou até mesmo, da criação de emprego.
Não obstante o que já foi referido, é fundamental continuar a apostar neste principal setor de atividade económica para a RAM, em especial criando condições para que os privados possam melhorar os prazos e condições de comercialização, melhorando o Ver-Par.
Neste sentido, e no âmbito do Programa Intervir +, e em parceria com diversas entidades regionais, conseguimos elaborar e apresentar o Documento Estratégico para o Turismo da RAM até 2020, com o qual se pretende estabelecer uma proposta de Visão e Posicionamento Estratégico do Destino Madeira, seus objetivos estratégicos e fatores críticos de sucesso face a destinos concorrentes, suportado em planos de ações, e recomendações, com objetivos mensuráveis.
Tão importante como as áreas acima descritas é a necessidade da ACIF-CCIM ajudar a potenciar a procura de mercados alternativos dos seus associados, que passa pela internacionalização de algumas empresas.
O projeto “Cooperação Empresarial” tem como objeto criar condições para divulgar a Região Autónoma da Madeira em mercados que considera prioritários e promissores do ponto de vista de captação de investimento estrangeiro, bem como criar oportunidades para estabelecer novas parcerias de negócio entre o nosso tecido empresarial e as empresas do exterior. Neste âmbito, estão previstas diversas iniciativas, entre as quais uma Missão Empresarial à Guiné Equatorial, outra à Polónia, ao Reino Unido, a França e aos Açores.
Consideramos que o associativismo é a resposta mais eficiente e com grande efeito de sinergia para o encontro de soluções globais para a classe empresarial.
Foi este pressuposto que norteou a atuação e definição estratégica da ACIF-CCIM ao longo deste mandato.

FN – Consta que o grupo Sousa teve uma influência decisiva na sua eleição na ACIF. Isto tem algum fundamento?
CP – Foi fundamental o apoio do Dr. Luís Miguel de Sousa (e do seu grupo) que, ao acreditar na minha capacidade, me levou a concorrer à direção da ACIF-CCIM.
FN- A apresentação da proposta da ACIF no Plano de Desenvolvimento Turístico pode ser também entendida como a preparação de um programa para o futuro governo regional?
O Plano Estratégico é uma necessidade da RAM.
A ACIF-CCIM contribuiu com um trabalho devidamente sistematizado e fundamentado do ponto de vista técnico e cientifico. Por isso, terá cabimento em todo e qualquer governo, que deverá disponibilizar-se para aprofundá-lo e implementá-lo, até onde for possível.
FN – Como encara a mudança política na Madeira e que reflexos pode ter nas empresas?
Encaro como a ordem natural das coisas e da vida. Passa-se com a família, com os negócios… Vejo com otimismo. Há dinamismo e tudo depende da capacidade e vontade dos responsáveis por cada área.
FN – Qual será o maior grande desafio da ACIF na Madeira?
CP – Não há limites. Procuraremos estar sempre atentos e vigilantes em tudo o que respeita e tem impacto com os nossos associados. E procuraremos ajudar a dinamizar, ainda mais, os setores com atividade económica e produtiva por forma a alcançarmos riqueza e criarmos postos de trabalho. Estes são os objetivos dos empresários, logo é assim que, enquanto Câmara de Comércio, temos de nos orientar e afirmar.