O silêncio é um convidado de peso

Quem nunca aspirou, pelo menos, por um simples momento de silêncio. De facto, o silêncio é de ouro, para quem sabe e consegue usufruir desse bem que tanto precisamos.  O silêncio é, indiscutivelmente, um parceiro benéfico para esta sociedade que corre mais depressa do que, efetivamente, vive. Vivemos mergulhados na era do aqui-e-agora! Nos dias do instantâneo. Rodeados de remas de imagens e pouquíssimo conteúdo.  Hoje, quase tudo é momentâneo.

Custa acreditar, mas é uma realidade, que em pleno século XXI, algo correu tão mal, que atravessamos uma pandemia que (dizem os entendidos, devido ao silêncio – neste caso infra-humano) parece que não nos quer deixar, rouba-nos mesmo todo o silêncio, leva-nos o silêncio, mata-nos o silêncio. Com este COVID-19, o silêncio no mundo está mesmo de pernas para o ar.

O silêncio é um estado brutal que compactua com a inspiração do bem, temos é que ter a consciência aberta e uma predisposição benigna para o bem receber. Encaixa-se perfeitamente aqui o sabedor chavão: Escuta e o silêncio ajuda-te!

Dirão alguns, que mais do que tudo é preciso saber agir. Mas quem é que disse que silenciar não é agir?

Como outros tantos, felizmente, por vezes, mergulho inteiro no mundo da poesia, em busca de algum silêncio. E não é que o encontro mesmo. “É um imperativo ético não calar o que conhecemos. A poesia não deve arredar-se desse imperativo.” (Carlos Castilho Pais)

Mas, claro que, – e até indo ao encontro da nova encíclica do Sumo Pontífice Papa Francisco – perante a demónica falsidade, a mentira, a miséria, a desigualdade, a falta de emprego, a injustiça, o terrível populismo, entre outros tantos males que teimam sujar o seio da sociedade, o silenciar não pode significar esquecimento. Aí, sim, há que fazer-se ecoar bem forte o silêncio que nos perturba constantemente e até, pode estar aí mesmo o verdadeiro despertar de uma justa resposta. Embora a corrente silenciosa seja a mais perigosa, em determinadas ocasiões, há que ter discernimento para romper com o mordaz silêncio no momento certo para corresponder às nossas convicções.

Se – como diz a sabedoria popular – o silêncio também fala, resta-nos ouvir e agir fortemente de forma plena e em assertiva conformidade. Pois, o silêncio é uma confissão pessoal, um autêntico momento imersivo que ajuda a compreender melhor a vida. Assim, para terminar, por ora, não se esqueçam de usufruir plenamente do silêncio, que é uma experiência muito especial que não se pode mesmo perder.