Trabalhos na Ribeira de Santa Luzia proporcionam descoberta de antiga calçada do séc. XV

A antiga calçada do séc. XV.

*Com Rui Marote

Nas obras de recuperação da Ribeira de Santa Luzia, os trabalhos, supervisionados pelo arqueólogo Daniel Sousa, da Direcção Regional de Cultura, puseram a nu o que nos disseram tratar-se do pavimento original de acesso entre a Rua Direita e uma das primeiras pontes construídas na Madeira, datada possivelmente, segundo António Aragão, de 1466 e originalmente em madeira. O dito pavimento, realizado em pedra, conforme é visível nas fotografias, reveste-se de interesse porque pertencia a uma estrada que seguia na direcção Oeste-Este, atravessando a ponte sobre a Ribeira, num corte perpendicular a duas ruas que não existiam ainda na altura como as conhecemos hoje, a 5 de Outubro e a 31 de Janeiro. A ponte era conhecida por “Ponte da Cadeia”, pois conduzia, da Rua dos Ferreiros, às proximidades de um antigo estabelecimento prisional situado na Rua Direita, artéria principal do centro da cidade antiga, cujo eixo era o Largo do Pelourinho. O arqueólogo Daniel Sousa pensa, todavia, que a ponte data de 1486.

Recentemente, foi anunciado que será ali construída uma nova ponte pedonal, no local onde ficava a antiga Ponte da Cadeia. O projecto está entregue ao arquitecto Paulo David.

Estruturas da ponte da Cadeia, que originalmente era em madeira, tendo mais tarde sido reconstruída em pedra

Os trabalhos de manutenção daquela ribeira, conduzidos pela Secretaria Regional dos Equipamentos e Infraestruturas, a cargo do governante Pedro Fino, mantêm no fundo uma estrutura betonada, alegadamente para escoar melhor as águas da ribeira em situações de maior caudal, mas preservam as muralhas da ribeira realizadas no tempo do Brigadeiro Oudinot, numa extensão que vai sensivelmente da orla marítima até à zona do Bazar do Povo. Conforme nos disse o arqueólogo Daniel Sousa, a estrutura de betão no fundo deve-se ao facto de o aparelho pétreo das muralhas do Brigadeiro Oudinot sofrerem de corrosão pelo tempo e pelo movimento das águas, pondo em causa a sua sustentabilidade.

Os acessos do séc. XIX ao fundo da ribeira, utilizados pelas lavadeiras

Se muito se criticou a betonização das ribeiras do Funchal, há pelo menos que nos congratularmos com a preservação, consolidação e salvaguarda para as futuras gerações desta secção das antigas muralhas. A tentativa de preservar as estruturas antigas não só colocou visível este pavimento, como as antigos fundamentos de pedra da ponte da Cadeia e também vários acessos pedonais, datados do século XIX, que permitiam às lavadeiras descer ao fundo da ribeira para cumprirem esse penoso trabalho de então, de fazer a barrela das peças de roupa nas pedras e na água corrente. Essas escadas, encontram-se visíveis num dos casos; noutro, foram emparedadas e encontram-se actualmente tapadas. Do lado Oeste da ribeira, um desses acessos pedonais ao fundo da ribeira conduziu em tempos, disseram-nos, ao Mercado D. Pedro V, situado mais ou menos nas proximidades da actual Rua da Praia.

Conforme nos explicou Daniel Sousa, o pavimento a que nos referimos no início do artigo, e que foi posto a nu, deverá ser novamente tapado, uma vez tendo sido feito o seu registo fotográfico e levantamento topográfico. Será, disse, “salvaguardado in situ para o futuro”, devidamente acondicionado… mas tapado.