Albuquerque admite candidatura a Belém e acusa Marcelo de ser a “bengala” do Governo PS

Marcelo e Albuquerque numa das visitas do Chefe de Estado à Madeira. Os tempos eram outros, tal como as relações.

Está cada vez mais pública e mais contundente a posição de força de Miguel Albuquerque contra o Governo nacional, liderado pelo PS e por António Costa, mas também contra o Presidente da República, o social democrata Marcelo Rebelo de Sousa, um companheiro de rota político partidária desde sempre do chefe do Governo madeirense, ambos do PSD mais perto do PPD, ambos com ideal de Sá Carneiro no horizonte. Pelo menos foi essa a ideia que sempre deu.

Em declarações à Rádio Observador, Albuquerque confirmou o que já se falava nos corredores da Quinta Vigia e no âmbito social democrata madeirense, ou seja a disponibilidade para lançar este desafio nacional de candidatura à presidência da República, não tanto para concretizar mas antes para ter palco nacional e dizer que a resposta da Madeira à indiferença de Costa e Marcelo é mesmo “acenar” com uma candidatura que aponta a necessidade de um candidato do centro-direita, dado que Marcelo, que deveria ocupar naturalmente essa faixa, será o candidato apoiado pelo PS, a avaliar pelas declarações já feitas por António Costa quanto a uma recandidatura  e uma reeleição do atual Chefe de Estado.

Dado que tanto Costa está satisfeito com Marcelo como Marcelo está satisfeito com Costa, o cenário político deixa em aberto uma nova estratégia que Albuquerque procura ocupar. Tal como o Funchal Notícias salientou num texto ontem publicado, precisamente com a intenção do presidente do Governo e do PSD-Madeira em assumir uma candidatura a Belém, esta atitude surge depois de muitas diligências feitas pela Madeira para chegar até Costa e até Marcelo as reivindicações da Madeira face às medidas necessárias da Covid-19. Diligências essas que deixaram os “emissários” de mãos a abanar e uma não resposta para Albuquerque, situação que fez transbordar o copo.

Face a esta realidade, estava definida a estratégia da Quinta Vigia: Albuquerque manda para o ar a ideia de candidatura, Calado reforça apoio, também em orgão de expansão nacional, com o reforço da posição de Jardim, ainda para Lisboa, para completar a “obra” que ainda vai começar.

Hoje, à Rádio Observador, Miguel Albuquerque critica o “namoro” de Costa e Marcelo e diz que uma candidatura é uma hipótese nunca a descartar face à situação, que segundo o próprio é “um circo montado”. Diz que o papel do Presidente da República não é servir de charneira nem de salva-vdas nem de bengala ao Governo”. Chama a atenção que não quer o debate sobre as presidenciais resumido à esquerda. E o PSD tem duas alternativas: ou dá liberdade de voto ou apoia um outro candidato na área do PSD”.

Recorde-se que esta ofensiva de Albuquerque surge num contexto de grande crispação, tal como o FN já deu conta, designadamente que Belém tem manifestado descontentamento pelas atitudes do líder do governo madeirense, que ajudaram a distanciar posições entre a Madeira e a Presidência da República, a tal ponto de chegar a este patamar de declarações que expressam um mal estar que já ninguém consegue disfarçar.

Estas declarações surgem no dia em que a revista SÁBADO trouxe a público a existência de um processo em que Miguel Albuquerque é suspeito de corrupçã, relacionado com “negócios imobiliários e o ajuste direto da concessão a privados  da Zona Franca da Madeira”.