BES, João Alexandre e a Venezuela ou produtos tóxicos, donos disto tudo e triângulo das Bermudas

Quem é João Alexandre Silva, indiciado por factos suscetíveis de integrarem os crimes de corrupção de agentes públicos internacionais, branqueamento, e corrupção ativa e passiva no setor privado?

É madeirense, fez quase toda a carreira na banca, foi gestor e administrador desportivo (da SAD do Marítimo por indicação do accionista Região Autónoma da Madeira), clube ao qual está umbilicalmente ligado por via do seu avó, Alexandre Rodrigues.

Foi detido e foi-lhe aplicada a medida de coação de prisão domiciliária na sequência da investigação levada a cabo pelo Ministério Públio (MP) no âmbito da investigação ao universo GES -Grupo Espírito Santo.

Pelo menos até 2015, João Alexandre Rodrigues da Silva aparecia como gerente da ‘Parsuni’, sociedade registada na Zona Franca da Madeira, 100% detida pelo BES. Por exemplo, em Fevereiro de 2013, em tal sociedade, era também co-gerente Lino Alberto Rodrigues Bento.

Antes, aparece também como gestor da ‘Girardo -Trading e Serviços Internacionais, Sociedade Unipessola Lda.’, registada na Zona Franca da Madeira, entretanto extinta, e cujo objeto social era a atividade de contabilidade e auditoria e consultoria fiscal.

Neto do histórico dirigente maritimista Alexandre Rodrigues, João Alexandre Rodrigues entrou para o conselho de administração do Marítimo SAD para o mandato 2007/2010.

Este gestor bancário, cuja família faz parte da história do clube, chegou a chefiar o futebol no tempo de Rui Fontes e regressou em 2007 como um dos administradores indicados pelo Governo Regional para a SAD.

Segundo as últimas notícias, o MP pretende apurar se houve intenção de prejudicar o BES e também se foi montado um esquema financeiro que facilitasse práticas de branqueamento de capitais à ‘Petróleos de Venezuela’ (PDVSA), então um dos maiores clientes do banco.

Foto retirada de http://hinterlaces.com/conozca-la-relacion-de-larga-data-entre-pdvsa-y-el-banco-espirito-santo/

Durante o segundo semestre de 2013, o BES promoveu na Venezuela uma investida financeira com a proposta de venda de produtos financeiros, consistindo em obrigações emitidas por duas entidades relacionadas com o banco e o universo GES: ‘Espírito Santo International’ e ‘Rioforte Investments S.A.’.

A promoção destes produtos terá sido realizada diretamente na Venezuela por, entre outros agentes do banco, João Alexandre Rodrigues da Silva, então na qualidade de conselheiro de administração do BES para a sucursal da Venezuela, registada em 8 de Fevereiro de 2012 no 2.º Registo comercial Distrito Capital, sob o N.40, Tomo 31-A-Sdo.

O BES sempre garantira a solidez financeira dos emitentes dos títulos, promovendo tais papéis como um investimento a curto prazo muito seguro com referência a um grupo financeiro internacional forte.

O BES havia assegurado, tanto verbalmente como por escrito, que as aplicações que o Banco de Desarrollo Económico y Social (Bandes) e Fondo de Desarrollo Nacional  (Fonden), teriam liquidez para o pagamento das obrigações garantidas, em última análise, pelo próprio BES equanto emitentes do GES.

Por isso, depois do colapso do GES/BES, essas duas instituições venezuelanas (Bandes e Fonden) pediram ao BES o reembolso de 372 milhões de dólares que  haviam invertido em obrigações do grupo financeiro português.

Em causa, segundo a TVI 24, estarão as cartas de conforto assinadas por Ricardo Salgado e por José Manuel Espírito Santo nas últimas semanas de vida do BES em que o banco garantia ao investidor PDVSA o reembolso da aplicação feita em títulos de empresas do GES que estavam já em proteção judicial. As cartas tinham o valor de 260 milhões de euros.

Já o blogue de Mariana Mortágua denominado “Disto Tudo”, revela que João Alexandre, na qualidade de gerente da ‘Parsuni’, é um dos 4 maiores devedores privados, responsáveis por uma dívida de cerca de 4,1 milhões de dólares, ao falido ‘ES Bank Panamá’, um dos mais importantes veículos de financiamento do GES.

Na Venezuela, dizia-se que para servir os 7.600 clientes ali domiciliados, o BES contava abrir 15 agências em diversas cidades, desde que abriu a primeira agência em Caracas a 18 de janeiro de 2012, precisamente pela mão de João Alexandre (rede de banca universal).

O BES ocupou em Caracas o rés-do-chão de um prédio da Avenida Francisco Miranda (atendimento ao público), com escritórios de apoio nos primeiro e segundo andares.

Na altura (Sócrates/Chaves) estavam em carteiras obras de grande dimensão, com a intervenção de empresas portuguesas que exigiam financiamentos e garantias bancárias, e grande parte delas seriam conseguidas através do BES.

Apesar de João Alexandre ser o elo de ligação, o director-geral da sucursal do BES em Caracas foi António Ramirez que teve como director-geral adjunto Oscar Tabarez.

António Ferreira, que chefiava o escritório da capital venezuelana, tal como os restantes funcionários, foram integrados na nova estrutura a partir de janeiro de 2012 até ao colapso do banco.

A inauguração na Venezuela foi feita com grande pompa e circunstância, com a presença de 300 convidados e um espectáculo na Quinta Esmeralda para cerca de 1.200 pessoas com atuações da fadista Carminho e da cantora brasileira Vanessa da Mata.