Raimundo Quintal denuncia estado dos jardins do Funchal

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A variedade e a riqueza da flora existente nos jardins do Funchal é bem conhecida. Aqui se mantêm há muito tempo, em espaços ajardinados públicos e privados, plantas tropicais e subtropicais que encontram condições favoráveis para crescerem na fertilidade do solo e na amenidade do clima. O interesse e o agrado daqueles que visitam a cidade pela diversidade botânica que aqui encontram é tradicional e bem conhecido. E não tende a esmorecer com o passar dos anos. Já nos séculos passados suscitava encanto. Hoje não é diferente. Com mais um factor de peso: o turismo de jardins é um nicho que tende a aumentar internacionalmente e, se bem que não devidamente explorado na Madeira até à data – nomeadamente estabelecendo parcerias e procurando cativar o interesse de organizações internacionais do género da Royal Horticultural Society, de Londres – pode vir a crescer na Região no futuro, dando ainda maior impulso económico à nossa actividade turística. Teremos, portanto, tudo a ganhar se soubermos preservar a tradição dos nossos jardins, que sofreram uma forte influência das famílias estrangeiras, particularmente britânicas, que já há largos anos se estabeleceram no arquipélago.

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A qualidade e variedade dos jardins funchalenses é reconhecida por especialistas, como o ecologista Raimundo Quintal. Porém, este, ao tecer-lhes elogios, não deixa de apontar o dedo ao que considera ser a lamentável degradação da situação relativa à sua manutenção.

“O Funchal tem jardins, parques, quintas, com uma riqueza extraordinária. Aqui podemos encontrar plantas de todo o mundo, com excepção da Antártida. Mas, se por um lado, existe toda esta qualidade, por outro, “infelizmente a maioria dos jardins públicos encontra-se num estado que me preocupa imenso”.

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O geógrafo e antigo vereador da CMF responsável pelo pelouro do Ambiente recorda que a cidade, no ano 2000, recebeu o galardão de ouro das Cidades Floridas da Europa, mas nunca mais recebeu um prémio internacional que ateste, de facto, a qualidade do património que tem.

“Se dermos uma volta pela maior parte dos jardins, infelizmente, constatamos que estão mal cuidados. É recorrente falar-se, a esse respeito, da Quinta Magnólia, mas neste momento, pelo que sei, avançará agora um projecto para a sua recuperação, que espero que, desta vez, seja mesmo feita. Mas o Jardim Municipal, que tem perdido algumas palmeiras, por doença – e foi bem feito, o seu corte – carece de substituição das mesmas. Já há mais de um ano que foram cortadas, e não foram substituídas. Na parte norte do Jardim, também há mais de dois anos foi cortada uma araucária… mas não houve o cuidado de plantar algo ali, numa zona onde ficou, claramente, uma falha”.

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Raimundo Quintal prossegue denunciando, por outro lado, “o péssimo estado do Parque de Santa Catarina”.

Este jardim, refere, tornou-se numa feira entre Junho e Setembro. “Parece que não há mais nenhum sítio para fazer eventos”, queixa-se, referindo-se a acontecimentos como o Funchal Jazz ou outros festivais musicais que levam àquele espaço uma componente humana apreciável, colocando-o sob pressão.

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“O Parque de Santa Catarina não tem capacidade para a carga humana que se tem ali imposto. É pena que esse espaço esteja nas condições em que está”, sublinha.

Por outro lado, e referindo-se ao Jardim de Santa Luzia, lugar que, entende, deveria desempenhar um papel importante enquanto área de recreio da muita população que reside nas imediações, “depois de muita guerra entre o Governo e a Câmara para ver quem é que mantinha aquele jardim, era importante que olhassem com mais atenção para o seu estado”.

Finalmente, e referindo-se aos jardins do Almirante Reis, frisa que quem passar na rua da parte norte, Rua D. Carlos I, depara-se com árvores secas, além de outra cujos ramos foram cortados porque alegadamente estavam mortos, “que seria para fazer uma escultura e que agora está transformado num pombal”.

Mais a norte, no Parque Municipal do Monte, Raimundo Quintal diz que desde o 20 de Fevereiro de 2010 que nunca mais teve a sua parte sul devidamente recuperada. “Já passaram cinco anos, e nem a Câmara anterior recuperou, nem a actual gestão da autarquia o fez”, denuncia.

“Custa-me dizer que se tem falado muito, muito, nos jardins do Funchal, mas o estado dos jardins públicos, a meu ver, é lamentável. Estou disponível para debater isso com quem quer que seja. Não se tratam os jardins com palavras, com propaganda. Infelizmente, estamos entregues à propaganda, quer da Câmara quer do Governo, e hoje falta tempo e possivelmente dinheiro, para pagar a equipas de jardineiros bem preparadas, para recuperar jardins”.

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Melhor, no entender de Raimundo Quintal, é o estado do emblemático Jardim Botânico.

“É um excelente jardim, mas há muito que fazer para que aquele jardim esteja com uma verdadeira qualidade de excelência”, aponta.

Espaços como o jardim da Quinta das Cruzes precisam também “urgentemente  de serem olhados, pensado, e plantado, porque de facto, não vale a pena andarmos a fazer propaganda de que temos grandes jardins… eu conheço jardins pelo mundo fora, inclusive em ilhas, e sinto que, em termos de jardins públicos, estamos neste momento, e já desde há uns bons cinco anos que isto se arrasta, numa fase que obriga quer o Governo quer a CMF a pensar muito seriamente qual o destino que querem dar a estes jardins”.

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Raimundo confessa mesmo que “sofre imenso” ao constatar o estado em que se encontra o passeio público marítimo entre o Lido e a Ponta da Cruz, para o qual sublinha ter dedicado muito do seu tempo, empenhando-se “de alma e coração”.

“O estado em que ficou deixa-me verdadeiramente preocupado”, admite. E critica acerbamente o facto de aquele lugar se ter tornado um espaço “para as madames e alguns cavalheiros irem por o cãozinho a fazer chichi e cocó”.

Com todo o respeito que diz ter pelos animais, o ecologista entende que é preciso, de uma vez por todas, “acabar com essa pouca vergonha, e disciplinar”.

“Quem quer ter um animal deve pô-lo a fazer as suas necessidades em sítios apropriados, e deve limpar. Hoje é quase impossível ir brincar com uma criança para um relvado, porque os jardins estão “minados”, queixa-se.

“Houve cultura e houve exigência” no sentido de inverter estes comportamentos, salienta. Mas as campanhas ambientais “esbateram-se”. Hoje, no Funchal, “há mais lixo e menos flores”.

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Hoje em dia o Ambiente, afirma o nosso interlocutor, é mais motivo de palavras do que de actos. “À pala da crise, esqueceu-se o Ambiente, mas as raízes da crise económica são as mesmas da crise ambiental, e os remédios para a crise ambiental são mais complicados”.

Todas estas críticas não impedem que este especialista, que há muito tempo estuda os jardins existentes na ilha da Madeira, reconheça que “existe um património extraordinário”, e, consequentemente, muitas razões para visitar os nossos jardins, e ainda mais para preservá-los.

O Funchal possui também algumas quintas com jardins muito bem tratados, como a Quinta Monte Palace, a Quinta Jardins do Lago, onde funciona um hotel… Os jardins dos hotéis Porto Mare e Cliff Bay são apontados como estando também bem tratados, e bem assim o do hotel Pestana Village.

“Há, de facto, felizmente, casos positivos”.

Mas já o projecto de jardim existente ao longo da Avenida Sá Carneiro é considerado “uma vergonha”, que não pode ser chamado de jardim; “é outra coisa qualquer”.

Finalmente, o jardim plantado à volta da ‘Praça do Povo’, plantado há meia dúzia de meses, está num estado lamentável, diz: “Basta ir ver o estado em que aquilo já se encontra: sujo, relva seca, algumas plantas esgaçadas, alguns espaços sem plantas, e ainda vamos aqui. É chegar ao Inverno, para ver como é que é”.

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