O 20 de Fevereiro de 2010 foi um dia trágico para a Madeira e em especial para aqueles que sofreram perdas de familiares e a destruição dos seus bens. Sendo a memória humana curta, o 20 de Fevereiro voltou a recordar aos ilhéus as vulnerabilidades ambientais a que estão sujeitos periodicamente e recolocou na esfera pública a discussão sobre medidas de prevenção e menorização dos efeitos causados pelas aluviões, indemnizações por danos sofridos, e busca de culpados da falta de planeamento e prevenção.
O ser humano é estranho. Quando é afetado diretamente preocupa-se por remover a causa daquilo que o afetou podendo até ficar traumatizado. Quando não é afetado mostra-se, na generalidade indiferente. Eventos relativamente raros como os aluviões levam, com cada ano que passa, a uma perceção de risco menor, especialmente por aqueles que nenhuns ou menos danos sofreram no evento. Até ao próximo evento… Paralelamente à perceção individual, a vontade de investimento público dirigido à prevenção diminui com cada ano que passa, e os atropelos a uma gestão de risco cuidado aumentam. Daí que nunca é demais relembrar as tragédias como forma de as minorar no futuro.
Muito havia por dizer quanto à gestão adequada do pós 20 de Fevereiro. A indemnização tardia daqueles que muito perderam, a utilização, a meu ver duvidosa, de verbas que deveriam ser gastas na prevenção para produzir obras emblemáticas de regime, a transformação das ribeiras e ribeiros em corredores de água desobstaculizados, que na minha opinião irão provocar danos futuros em vez de os reduzir, tudo isso deve continuar a ser discutido e reclamado. Pelo outro lado os estudos das bacias hidrográficas, a medição de caudal em tempo real, o radar meteorológico, e outras medidas preventivas são de saudar.
Tendo em conta que, com base nos aluviões registados por Raimundo Quintal, a média de tempo entre aluviões é de aproximadamente 7 anos, e que para uma dada localidade essa média ainda será maior, é preciso contrapor a tendência da memória humana, e relembrar, em especial a esfera pública, que os aluviões irão sempre ocorrer, e que portanto temos que ter sempre uma atitude preventiva relativamente a estes riscos ambientais. E essa atitude não passa somente por cimento e obras, mas também por monitorização e estudos de risco. Tem de ser um esforço continuado.