A programada destruição do belo prédio que albergou noutros tempos a FAOJ (Fundo de Apoio aos Organismos Juvenis) e a Direcção Regional da Juventude está a ser denunciada por historiadores da nossa região, caso de Nelson Veríssimo, nosso colaborador, que considerou tal desiderato “um crime” na sua página na rede social Facebook. A ele veio juntar-se nos comentários o também historiador Emanuel Gaspar.
O prédio em questão deverá ser substituído por um prédio de apartamentos com 72 residências para jovens casais ou solteiros, estudantes estrangeiros ou professores, segundo anunciou o próprio Governo Regional. A PATRIRAM, com os seus próprios recursos, deverá construir estes “Living Studios” na Rua 31 de Janeiro, no Funchal, devendo a demolição do antigo prédio e a construção do novo estar concluída até finais de 2026, segundo adiantou o Governo Regional ao apresentar publicamente o projecto, no passado dia 2 do corrente mês de Novembro. Trata-se de um investimento da ordem dos 7 milhões.
Mas não deixará, certamente, de estar envolvido em polémica. Nelson Veríssimo diz que “demolir este prédio é um crime! Mas eles já têm a mira apontada”.
Por seu turno, Emanuel Gaspar refere: “A Quinta das Lagartixas, datada de finais do século XVIII, situada na rua 31 de Janeiro, onde funcionou o Instituto de Juventude da Madeira e onde actualmente funciona a PATRIRAM será demolida, pelo próprio governo, para dar lugar a um bloco de apartamentos! Trata-se de um imóvel de tipologia singular que se encontra em bom estado de conservação, com torre avista-navios e que ainda preserva o pátio calcetado no tradicional calhau rolado e respetivo jardim. Um dos poucos exemplares de pequenas Quintas que ainda sobrevivem no centro do Funchal”.
Para muitos, aquele espaço é uma referência da juventude, tendo sido muitas as actividades ali desenvolvidas e planeadas, desde xadrez a excursões de campismo. Foi ali que trabalhou a dinâmica Manuela Aranha, em tempos em que tinha a seu cargo as actividades ligadas à juventude, e era um ponto de encontro dos jovens para imensas coisas. A sua destruição é altamente penalizadora não só do ponto de vista do património, como da memória histórica de uma geração.
Mas Pedro Calado e Miguel Albuquerque não se comoveram, ao visitar o lugar a 31 de Outubro, para conhecer o projecto, conforme se pode ver no facebook do Governo da Madeira. Na publicação defende-se que o presidente do Governo Regional vem sendo apologista da criação de “vários projectos na área da habitação”.
“O imóvel apresenta janelas com vidraças de guilhotina e protegidas pelos tradicionais tapassóis. Os vãos possuem molduras em cantaria rija regional. O edifício é coberto por telhados múltiplos em telha de meia cana. O imóvel também está na aérea de protecção do classificado Recolhimento do Bom Jesus da Ribeira”, insurge-se o historiador Emanuel Gaspar.
O prédio alberga actualmente instalações do Laboratório Regional da Saúde Pública e, ironicamente, da própria PATRIRAM.