As Sociedades dos investimentos loucos

Começo com uma passagem das afirmações de Sérgio Marques que melhor caracteriza o regime.

Eles fizeram tudo.

“Fizeram tudo… o necessário e o desnecessário, o que nunca vai ser preciso, o que nunca ficou pronto, nem vai ficar.

Ninguém fazia contas, toda a gente autorizava tudo. E pronto, a Madeira foi à bancarrota.”

“A dadas alturas começaram a inventar-se obras… obras sem necessidade, aquela lógica das Sociedades de Desenvolvimento, todo aquele investimento louco…”.

E sobre um empresário da nossa praça, Sérgio Marques afirmou: “… ele [empresário] sempre se habituou a ter um secretário que o servisse”.

Não é difícil imaginar o banquete servido aos empresários na mesa do orçamento da Região, servido por secretários contratados, formados e treinados na escola hoteleira da negociata.

Eles fizeram tudo.

A maioria que governa e que se governa, inventou as Sociedades de Desenvolvimento, ludibriou as pessoas e as autarquias, também.  Fez expropriações, usurpações do património privado e público, descaracterizou e vandalizou a natureza e fez aqueles investimentos loucos…

Ludibriou as autarquias com investimentos faraónicos que iriam transformar a Região, numa Região mais desenvolvida, com menos assimetrias, mais próspera e mais rica, mais tudo…

Inventaram as Sociedades dos investimentos loucos para possibilitar o endividamento tresloucado que levou a Madeira à bancarrota, com uma dívida de 6.3 mil milhões de euros.

Uma dívida contraída de forma irresponsável, insensata e dolosa que pesa nas nossas costas, nas costas das gerações atuais e pesará nas costas das gerações vindouras, por muitos e muitos anos.

Hoje, perante a comprovada inutilidade de muitas obras espalhadas pelos concelhos da Região, é fácil de perceber qual foi a sua verdadeira intencionalidade. As obras que foram desenhadas, projetadas e, agora como diz Sérgio Marques, inventadas para satisfazer os apetites dos empresários que se fizeram à mesa do orçamento da Região.

Dinheiro público, para obras sem utilidade pública.

Dinheiro público para investimentos sem retorno económico, social e ambiental.

Dinheiro público que delapidou o património das câmaras municipais e vandalizou a paisagem e a natureza.

Dinheiro público que faz uma falta imensa. Que dava mais que suficiente para acabar com os problemas das listas de espera no sistema de saúde. Dava para resolver o problema dos 117.000 atos médicos em lista de espera.

Dinheiro público que fez falta nas políticas de educação, de formação ou de empregabilidade para devolver a esperança aos 9.000 jovens que não têm trabalho, não estudam, nem estão em formação.

Dinheiro público que dava para gerar oportunidades de investimento e de emprego, evitando assim que 17.000 madeirenses fossem obrigados a emigrar desta Terra sem oportunidades e sem esperança.

Dinheiro público furtado pelas Sociedades de Desenvolvimento que dava para resolver os graves problemas de risco de pobreza e de exclusão que entram na casa de 74.000 madeirenses.

Ao longo do tempo, as Sociedades de Desenvolvimento já furtaram largas centenas de milhões de euros. Tudo para investimentos loucos e irresponsáveis dos governos passados, para servir os interesses que não os do coletivo, que não os do bem comum.

Mas, se dúvidas existissem sobre a vantagem da mudança de chefe de governo, rapidamente se desvaneceram. Miguel Albuquerque fez a propaganda das expectativas de mudança de paradigma de desenvolvimento, mas foi pior a emenda que o soneto.

Continua a injectar dinheiro público nestas Sociedades de Desenvolvimento que delapidaram os madeirenses e o património público. Miguel Albuquerque, nestes anos já injetou mais de 320 Milhões de euros.

Parece pouco ante a dimensão do ataque que estas Sociedades já fizeram aos cofres da Região, ao longo de décadas.

Parece pouco, mas é dinheiro suficiente para a construção do novo hospital que só agora avança por vontade e determinação do Governo da República, do Partido Socialista, que assume 50% do pagamento da obra.

Assim, pelas razões que acabei de apresentar, acredito que ninguém tem dúvidas que é necessário pôr fim às Sociedades de Desenvolvimento ou, como diz Sérgio Marques, às Sociedades dos investimentos loucos.

Pôr fim ao empobrecimento dos madeirenses e à gestão irresponsável do dinheiro de todos os contribuintes.

Pôr fim a uma gestão insana do dinheiro público que faz falta às famílias, às crianças, aos jovens, aos idosos, aos doentes, aos comerciantes, aos agricultores, aos pescadores, … ao povo que trabalha.

Basta para isso, extinguir as Sociedades de Desenvolvimento, as dos investimentos loucos.