A Arte de Rua

A arte na sua generalidade é um reflexo da cultura, da história, de momentos da humanidade, que expõe os seus valores estéticos da beleza e da harmonia, e comunica de forma simbólica e criativa com a sociedade.

Arte de rua ou Street Art é a expressão que se refere às manifestações artísticas desenvolvidas no espaço público. O conceito de arte urbana surgiu no início dos anos 60, do século XX, alicerçado nos movimentos sociais e culturais dessa época, utilizando códigos e linguagens, como uma nova forma de comunicar ao ar livre.

Por intermédio de recursos plásticos, linguísticos, imagísticos ou sonoros, utilizando poemas, estátuas vivas, apresentações de caráter teatral, musical, circense, performance, graffiti e outros tipos de instalações artísticas, a arte de rua permite expressar ideias, emoções, sentimentos, crenças, perceções e sensações. Mas, como tudo, nem sempre estas intervenções artísticas são bem compreendidas ou aceites pela comunidade.

O problema começa logo, quando não há um cuidado, um conjunto de critérios, bem definidos, sobre o que se pode ou não, colocar em determinado espaço público.  Em determinadas intervenções, parece que tudo – ou quase tudo – vale.  Mas não pode ser, para bem da salvaguarda e valorização do espaço público.

Lá de tempos a tempos, um pouco por todo o lado, parece que há uma espécie de febre artística, para pintar murais, túneis, portas, escadarias, mobiliário urbano, e o que mais aparecer pela frente, deixando tudo (des)caracterizado e à boa maneira do gosto momentâneo.  No início é tudo bonito, elogios, fotos atrás de fotos. Mas o tempo passa, as obras deterioram-se e ninguém se chega à frente para a devida manutenção.

A rua deve ser acarinhada e cuidada, enquanto espaço público de identidade coletiva, local de interação com as pessoas que lá vivem e com as que por lá transitam.  Pois o espaço público urbano modifica-se, positivamente ou negativamente, com a forma que a população de relaciona e se apropria dele, desenvolvendo novas dinâmicas ao seu redor. Os espaços públicos devem através da arte gerar laços com os seus frequentadores, como lugares de excelência para a expressão coletiva.

Acho aprazível, que uma cidade seja aberta e saiba acolher, de braços abertos, a arte urbana, mas por outro lado, também acho desprezível uma cidade que permite descaracterizar-se com algumas intervenções artísticas de rua duradouras, quando as mesmas ficam desenquadradas e votadas ao deus-dará.

A arte urbana é claramente uma arte democrática e acessível, que tem como premissa, interagir com o local e atrair os espetadores para o espaço urbano e comunitário, dando-lhe uma maior e melhor visibilidade. Surge para não se remeter as intervenções artísticas, somente aos espaços fechados e por vezes, exclusivos. Há uma maior acessibilidade, interação e visibilidade das manifestações artísticas quando estas são expostas no espaço público. Por isto, é que os artistas e os decisores políticos, entendidos, devem dialogar e terem uma maior responsabilidade no planeamento de projetos de arte urbana. Qualquer intervenção, deve ser algo artístico que contribua para a reabilitação e transformação sustentável da imagem do espaço público.

Perante isto, importa analisar e debater constantemente o crescimento da arte urbana nos últimos tempos, de forma que possa ser vista e assegurada como um valor cultural de interesse para os centros urbanos.