
O Governo Regional da Madeira estabeleceu hoje a maior reserva marinha totalmente protegida da Europa, e entidades internacionais como a National Geographic Society não deixaram de, imediatamente, dar destaque a esta singularidade. As Ilhas Selvagens beneficiam agora de uma protecção que se estende 2,677 quilómetros quadrados à sua volta.
O programa da National Geographic, “Pristine Seas”, estudou o ecossistemas daquelas ilhas em Setembro de 2015, em parceria com a “Oceano Azul” e a Waitt Foundation. Na altura, a biodiversidade existente naquele local foi analisada e filmada desde a superfície às profundezas marinhas, descobrindo que as águas abertas à volta das ilhas é uma zona fulcral de passagem para as migrações de peixes e mamíferos marinhos no Atlântico, enquanto que as zonas mais próximas de terra constituem habitats importantes para o desenvolvimento de juvenis de diferentes espécies.
Paul Rose, o líder da expedição National Geographic Pristine Seas, diz ser essencial proteger os corredores migratórios dos quais a vida marinha depende. “Esta nova reserva marinha garantirá que a impressionante diversidade subaquática do arquipélago das Selvagens ficará protegida e continuará a prosperar”.
Com o estabelecimento desta reserva, o programa “Pristine Seas” apoiou já a criação de 25 reservas marinhas ao redor do mundo. Actualmente, menos de 8 por cento dos oceanos estão protegidos. A intenção é trabalhar com comunidades locais, governos e demais parceiros para garantir que pelo menos 30 por cento dos mares do planeta estarão protegidos em 2030, potenciando a conservação oceânica, para mitigar as alterações climáticas e garantir “um planeta mais saudável para todos”.
O projecto “Pristine Seas” é de exploração, pesquisa e divulgação mediática, e foi fundado e dirigido pelo explorador residente da National Geographic Society, Enric Sala. Cientistas e cineastas trabalham para inspirar a criação de reservas marinhas e sua conservação.
Hoje, na apresentação do novo regime jurídico da Reserva Natural das Ilhas Selvagens, que decorreu no Salão Nobre do Governo Regional, o respectivo presidente, Miguel Albuquerque, salientou que esta decisão não é apenas política, mas que comporta um imperativo ético.
“Temos a obrigação de delegar às futuras gerações um mundo melhor do que aquele que recebemos. (…) esta decisão tem uma repercussão intergeracional óbvia. “Os nossos oceanos controlam a vida, produzem a maior parte do oxigénio que respiramos e a fonte principal de proteínas para mais de mil milhões de pessoas”, salientou.
A decisão governamental, é, assim, lúcida face aos imperativos do futuro, sublinhou. Dizendo que muitas decisões políticas são “emocionais” e têm a ver com a aceleração do tempo mediático, defendeu: “Temos que assentar as decisões políticas para além dos ciclos eleitorais (…) e mediáticos”.
Esta criação de um novo regime jurídico das Selvagens vem preservar “uma área de regeneração e de estudo”, paradigmática mesmo, para que outros países e regiões sigam o nosso exemplo.
Elogiou, por outro lado, a visão de classificar as Selvagens como reserva já há décadas, num trabalho realizado por várias gerações de madeirenses e de cientistas, a quem agradeceu, bem como às entidades que fiscalizam aquelas áreas, protegendo a natureza.