Ontem empossado como o novo presidente da Junta de Freguesia de Campanário, David Sousa, do movimento “Ribeira Brava em Primeiro”, salienta, numa breve entrevista ao Funchal Notícias, que esta vitória representa um voto de confiança da população nas pessoas que foram escolhidas para constituir a equipa. “Penso que as pessoas reconheceram o nosso trabalho, e também o meu trabalho à frente da Casa do Povo, já desde há alguns anos”, refere. “Somos pessoas com provas dadas, nas mais diversas vertentes”.
O novo autarca salienta a diversidade de percursos, a nível profissional e não só. “Temos pessoas de praticamente todos os sítios da freguesia na nossa equipa, e de todas as profissões”. Algo que enriquece o potencial, salienta, e que se vem somar ao reconhecimento da população do “bom trabalho que tem sido feito na gestão camarária, por parte do presidente Ricardo Nascimento”.
A situação de Ricardo Nascimento e da proposta política que encabeçou é peculiar, reconhece. “Uma equipa que foi feita na Ribeira Brava, e para a Ribeira Brava”, e que se assumiu como alternativa, como um movimento independente. “Foi um teste àquilo que as pessoas queriam”, para o concelho. O apoio popular foi inequívoco e reconhecido nestas últimas eleições autárquicas pelo PSD, partido do qual Ricardo Nascimento se tinha afastado há anos para encabeçar a sua candidatura à Câmara. Os social-democratas apoiaram desta feita a candidatura de Nascimento, “e bem”, como realça David Sousa.
“Reconheceram que eram estas as pessoas que os ribeira-bravenses queriam, para gerir os nossos desígnios políticos e a autarquia”, refere. “Tanto de um lado como do outro, prevaleceu o bom-senso e as divergências acabaram”.
O relacionamento de Ricardo Nascimento com as instâncias governamentais, que se manteve cordial e evitou as guerras políticas, concorreu para o actual quadro político no concelho. “Embora com dúvidas, ou diferenças, ambos os lados procuraram trabalhar em prol da Ribeira Brava”, tanto o lado autárquico como governamental, buscando um entendimento profícuo para o concelho.
Agora relativamente aos desafios que enfrenta enquanto presidente da Junta, David Sousa reconhece que a situação, como acontece nas freguesias mais rurais, se caracteriza por uma população envelhecida. Há dificuldade na criação de empregos e na fixação dos jovens na localidade. “Esse é um grande problema”, assume.
Outros problema de monta dizem respeito às acessibilidades. “Temos muitas veredas e muito poucos caminhos. E os poucos caminhos que temos, além dos principais, são muito pequenos, muito apertados, não garantindo a necessária qualidade de vida aos nossos fregueses. Por exemplo, é muito complicado passar em vários sítios com uma ambulância, quanto mais com um camião de bombeiros ou outros meios de socorro”. No Campanário há muitas pessoas de idade já avançada que vivem em veredas longe da estrada, tendo dificuldades de locomoção. “A mobilidade é um grande flagelo da nossa freguesia”, reconhece o nosso interlocutor.
Há investimentos que têm de ser pensados para o futuro, mas que nunca poderão ser efectuados apenas por uma Junta, talvez nem mesmo apenas por uma Câmara Municipal. “Provavelmente não haverá orçamento para tal em quatro anos”, admite. Por isso, diz contar com a solidariedade do Governo Regional para a necessária resolução de algumas destas situações.
“Esses problemas, no entanto, têm de ser identificados agora, e projectados já para um futuro”, salienta. A equipa que agora foi eleita para Junta garante que reivindicará sempre o uso correcto dos dinheiros públicos para, nesta como em outras matérias, ir ao encontro das necessidades mais prementes da população. E a mobilidade é definitivamente uma delas.
“Precisávamos, aqui, da reformulação do nó da via rápida”, refere. Trata-se de um problema no acesso à freguesia. A falta de uma praceta para a realização de eventos, um espaço de parque infantil para as crianças da freguesia, um auditório para eventos culturais são carências apontadas pelo entrevistado ao FN. “Não temos, também, um pavilhão com capacidade para abranger as modalidades desportivas que se praticam na freguesia”, adianta. São investimentos, sustenta, que precisam de ser levados a cabo, para o desenvolvimento de Campanário.
“O nosso papel será sempre o de chamar a atenção e reivindicar, já que muitas destas necessidades, a serem concretizadas, sê-lo-ão a longo prazo e provavelmente com o apoio do Governo Regional”, refere-nos.
Num comentário à situação social da freguesia, David Sousa reconhece a existência de algumas carências, agravadas pela situação da pandemia de Covid-19. “Existem associações locais também a dar uma boa resposta, por exemplo a Casa do Povo, da qual posso falar com conhecimento de causa. Tem tido um papel muito importante, através de um programa denominado FAROL, que proporciona bens de primeira necessidade”.
Actualmente, há cerca de 280 famílias a serem apoiadas em cabazes alimentares, num universo de quatro mil e tal pessoas. Isto, admite o novel presidente da Junta, já representa uma percentagem grande de famílias a necessitarem de apoio social.
Há outras associações, como a ADBRAVA, que também procuram responder a estas carências. A própria câmara procura apoiar as pessoas necessitadas, assevera, inclusive na reconstrução de moradias.
Um dado interessante referido por David Sousa é o retorno, nos últimos dois anos, de pessoas emigradas, principalmente da Venezuela.
“Essas pessoas vêm com vontade de trabalhar, mas muitas vezes não têm, também, informação suficiente. As associações e a Câmara têm procurado desenvolver um papel activo na orientação dessas pessoas, para que consigam fixar-se, obter emprego e estabilizar a sua vida cá”, diz-nos.
Existe na freguesia um pólo de emprego, uma aposta da Casa do Povo, que presta um serviço de apoio à empregabilidade e que é muito solicitado.
A Junta de Freguesia, diz David Sousa, continuará por outro lado a manter os serviços à população, os CTT, os levantamentos de reforma, todos os serviços que já existem, e pugnará por fazer as limpezas do espaço público com os poucos meios humanos de que dispõe. “Tentaremos fazer o máximo para manter o espaço público asseado e conservar veredas, com reconstrução de degraus e construção de varandas, bem como a recuperação de levadas, miradouros e fontenários”.
“São obras pequenas, de proximidade, mas que para a população, têm muito valor”, conclui.