Rui Marote
Não se trata de um concurso de “vítrinismo”, como aqueles que volta e meia são promovidos pela CMF, mas sim de um sem-abrigo que faz da “Pensão Estrela” a sua casa de Verão… e de Inverno.
Uma triste realidade do nosso quotidiano. Nasce o dia, os autocarros voltam a circular, a cidade acorda, a “trombeta volta a tocar” e o confinamento está levantado. E a imagem está ali à nossa frente.
Na Rua Brito Câmara a vinte metros da Rotunda do Infante, mesmo no centro da terceira cidade do País, Melhor Destino Insular do Mundo outros galardões sonantes, encontramos esta imagem arrepiante, que nos leva a reflectir: um homem que faz de uma antiga montra o seu acampamento, para dormir.
Uma vitrina que serviu de montra, outrora, de merchandising de artigos de cozinha.
O vidro da fachada lateral está quebrado e os pés deste “Lázaro” estão rigorosamente no corte da “guilhotina” dos membros inferiores.
O rapaz imigrante que caiu na rua vagueia durante o dia nas redondezas do Centro Comercial próximo, na companhia de um recipiente de cartão com o néctar do “deus Dionísio”, de mão estendida a umas moedinhas.
É um autêntico eremita, sempre só, sujo, embriagado e mal vestido, que faz parte dos 101 sem abrigo existentes nos “censos” do Funchal “sempre à Frente” denunciados na estatísticas desta nova força. Nem por um lado nem por outro tiramos, mas isto certamente nem nos parece “à Frente”, nem nos inspira “Confiança”. Este é um verdadeiro sem-abrigo, não um dos muitos ladrões que por aí andam fazendo vida de subsistência à custa da Segurança Social, enquanto roubam um estabelecimento ou assaltam um cidadão. A persistência destas situações é a todos os títulos de lamentar. Mostra incapacidade para as resolver. Não é exclusiva do Funchal, mas é desumana e um péssimo cartaz.
Temos chamado a atenção ultimamente para estas cenas que se multiplicam. Uma pandemia que há muitos anos habita nesta cidade que intitulamos como a Melhor Ilha do Mundo. Aqui fica a nossa revolta e o nosso alerta.