Pe. Giselo Andrade reflete sobre as igrejas, basílicas e catedrais vazias

Aos poucos, o Pe. Giselo Andrade vai partilhando na sua página do facebook, as suas ideias, pensamentos e reflexões.

Num dos últimos textos, intitulado “A Catedral”, reflete sobre  as igrejas, basílicas e catedrais vazias:

“Nesta páscoa tocou-me o vazio das catedrais, basílicas e igrejas. As portas fechadas, as luzes apagadas, as liturgias abreviadas.

O cardeal Tolentino Mendonça pensou numa escultura do artista francês Auguste Rodin chamada “A catedral”, para falar da situação de pandemia que o mundo atravessa.

A obra apresenta duas mãos direitas de pessoas distintas que juntas formam um arco.

“Uma catedral realiza-se também pelas nossas mãos abertas, disponíveis e suplicantes, onde quer que nos encontremos. Porque onde há um ser humano, ferido de finitude e de infinito, aí se encontra o eixo de uma catedral” – escreveu Tolentino.

Tomando a afirmação de Pascal “as mãos sustêm a alma”, o cardeal poeta continuou: “Hoje precisamos de mãos – mãos religiosas e laicas – que sustentem a alma do mundo. E que mostrem que a redescoberta do poder da esperança é a primeira oração global do século XXI” (In Il potere della speranza).

No domingo de Páscoa, ao assistir em direto o magnífico concerto de Andrea Bocelli na catedral de Milão, recordei-me de uma afirmação de Bento XVI: “As catedrais não são monumentos medievais, mas casas de vida, onde nos sentimos ‘em casa’: encontramo-nos com Deus e encontramo-nos uns com os outros”.

A voz, acompanhada pela luz dos vitrais e o som do orgão, uniram pessoas dispersas pelo mundo numa prece feita de música e poesia.

Nesse mesmo dia, a benção do Papa “Urbi et Orbi” recebida através dos meios de comunicação social, transformou a nossa casa na “Praça de São Pedro”, tal como havia acontecido na Oração pela Humanidade em tempo de epidemia naquela sexta-feira lacrimosa (dia 27 de março).

“Não quero viver num mundo sem catedrais – escreveu Pascal Mercier – preciso do brilho de seus vitrais, de sua calma gelada, de seu silêncio imperioso. Preciso das marés sonoras do órgão e do sagrado ritual das pessoas em oração. Preciso da santidade das palavras, da elevação da grande poesia. Preciso de tudo isso” e acrescentava “mas não menos necessito da liberdade e do combate a toda a crueldade. Pois uma coisa não é nada sem a outra”.

O que nos segreda o vazio das catedrais, basílicas e igrejas? Que mistério se esconde para além das portas fechadas, luzes apagadas e liturgias abreviadas? Talvez nos diga que é tempo de estarmos unidos e darmos as mãos pela construção de um mundo mais fraterno. Esta pode ser a catedral que ainda seja necessária construir”.