Comércio de madeirenses está a sofrer com a crise da COVID-19 na África do Sul

O advogado José Nascimento, è esquerda, com o ministro português dos Negócios Estrangeiros, na recente deslocação de Santos Silva à África do Sul.

O advogado José Nascimento, um lusodescendente com créditos na comunidade portuguesa na África do Sul e com ligações a diversos setores da vida sul-africana, filho de pais naturais da Madeira, revela que existem 45 portugueses à espera de repatriamento e que o regresso está a ser tratado, de forma diplomática, que poderá envolver a Alemanha, numa operação para transportar mais de cinco mil turistas alemães que se encontram na África do Sul. “Julgo que o transporte dos portugueses deve estar a ser negociado neste contexto”.

Os portugueses que aguardam repatriamento encontravam-se naquele país em trabalho ou em negócios, pelo que foram apanhados pelas medidas de restrição relativamente à mobilidade das pessoas em todo o mundo.

Confinado à sua residência, garante que a comunidade portuguesa tem cumprido as recomendações, mas lembra que muitos dos madeirenses têm os seus pequenos negócios, que estão a sofrer perdas elevadas durante esta fase, sendo por isso imprevisível saber quais as consequências que daí advêm para o pós crise da COVID-19.

“A África do Sul está num período que é classificado como de desastre nacional, uma vez que não querem utilizar o “estado de emergência”, que tem conotações políticas ligadas ao passado, onde as entidades policiais, a coberto disso, cometeram alguns excessos. Neste momento, as autoridades preferiram o politicamente correto e as polícias têm poder mas limitado. Estamos confinados durante 21 dias, já vamos no nono dia, só podemos sair para comprar medicamentos, produtos alimentares, ou para os trabalhos que ainda estão em funcionamento. Os pensionistas podem ir levantar as suas pensões e os carros só podem transportar uma pessoa. Só os serviços essenciais podem circular, designadamente profissionais de saúde, funcionários dos supermercados, farmácias, transportadoras, bombeiros, polícia, pessoal de limpeza”.

José Nascimento considera que a situação, até ao momento, “tem bons indicadores, uma vez que a África do Sul regista 9 mortos e 1500 pessoas infetadas. Para um País que em termos oficiais tem 60 milhões, mas que na realidade tem 70 milhões, com todos os ilegais que aqui vivem, é um resultado muito positivo. Mas a verdade é que não vamos conseguir estas estatísticas, uma vez que vamos no início desta crise. Dizem que esta próxima semana será a mais perigosa”.

Mas ao lado deste retrato de otimismo, o advogado faz um reparo à realidade, diz que a África do Sul tem uma franja grande da população que vive no limiar da pobreza e que, por isso mesmo, vivem em casas onde existem cinco e seis pessoas num quarto, a partilharem uma casa de banho, além de não conseguirem armazenar produtos alimentares, porque muitos não têm frigorífico e são obrigados a ir todos os dias ao supermercado. E para agravar a situação, o dinheiro está a acabar, muitos ficaram desempregados e há uma aflição grande”.

Para José Nascimento, a crise económica que resulta da crise “será mais grave do que o problema sanitário”, uma vez que as pequenas e médias empresas são empregadoras de mais de 90 por cento do mercado. Se vão à falência, é o descalabro. E é aqui que o problema atinge o comércio de madeirenses de forma muito particular, já está a sofrer as consequências, estão fechados e a incerteza é grande”.