Um murro na mesa que deu uma grande dor de dentes!

A última sexta-feira foi dia do mais recente episódio da novela socialista “poder a qualquer custo”. Se existiam dúvidas para alguém que esta nova liderança socialista na Madeira era apenas uma sucursal da liderança nacional e que sem qualquer pudor tinham abdicado de toda a autonomia regional do partido para tentar conquistar o apoio do Governo Nacional socialista para a sua jornada de ganhar o poder regional a qualquer custo, essas dúvidas foram dissipadas com este mais recente episódio.

Num país com uma cultura democrática mais avançada seria inimaginável que um primeiro-ministro reunisse com um presidente de uma Câmara Municipal e futuro candidato do seu partido a eleições regionais propositadamente no dia de apresentação do Plano de Estabilidade e Crescimento do país dando a entender que essa pseudo-reunião teria qualquer influência na tomada de decisão sobre esse documento de estratégia nacional. Seria ainda menos imaginável que o Presidente da República confrontado com esta atitude claramente eleitoralista, que coloca o Governo de Portugal ao serviço do Partido Socialista, não tivesse uma reacção de força e total repúdio.

Todos nós sabemos que na verdade essa reunião não teve qualquer influência nas decisões do Governo. Primeiro porque, como é óbvio, o documento já estava pronto antes desse dia em que seria apresentado, ainda mais quando sabemos que o actual governo precisa de negociar com os seus parceiros de esquerda qualquer documento relevante para o futuro do país e para a estabilidade do governo. E também, porque o próprio texto desse documento esclarece que não há nenhuma novidade em relação à única matéria da Madeira que lá é explorada, que é o Hospital do Funchal. O apoio nacional a essa obra continua “em análise” como já está há muito tempo! Assim sendo, toda esta história da reunião e do murro na mesa não passou de um número de campanha pré-eleitoral montado numa tentativa desesperada de caça ao voto. É um número que nem sequer teria qualquer relevância ou interesse não fosse o facto de o primeiro-ministro do país, que deveria ser o primeiro-ministro de todos os Portugueses, estar metido ao barulho!

De todo este número ainda surge outras duas questões muito importantes e interessantes que devem merecer um escrutínio e análise por parte dos Madeirenses que são: o desrespeito que Paulo Cafôfo demonstrou pelos órgãos de poder regional e assim sendo perante a escolha eleitoral dos Madeirenses. Segundo, a tentativa de Paulo Cafôfo  em manipular a opinião pública quando este em declarações posteriores à reunião dá a entender que a questão do hospital está definitivamente resolvida, quando, na verdade, a leitura do documento apresentado mais tarde demonstra o contrário. Com tudo isto, talvez sem sequer se aperceber e provavelmente mal assessorado, por pessoas cuja a ambição desmedida já lhes venceu qualquer bom-senso, o Paulo Cafôfo demonstrou um enorme desrespeito pelos órgãos de poder Regional democraticamente eleitos e com isso desrespeitou a autonomia da Madeira, a vontade expressa dos eleitores e a própria história da Madeira e todos aqueles que lutaram pela autonomia regional.

Com este resultado final, parece-me que o único grande prejudicado com este número de teatro político é o próprio Paulo Cafôfo! A imagem que ele foi construindo ao longo destes anos de que era diferente e que não estava associado a “joguinhos políticos” fica irremediavelmente manchada depois das jogadas de bastidores para chegar à liderança do PS, mesmo sem ser candidato e agora com este número que mancha a credibilidade de todos os que fazem política, mas principalmente os seus actores. Foi por isso que, seguramente, este foi um murro na mesa que lhe deu uma grande dor de dentes!

 

*Este autor escreve segundo o antigo acordo ortográfico da Língua Portuguesa.