Celeste Mendes Teixeira morreu e o seu funeral será no próximo domingo, com missa a ser celebrada pelas 15h30, na Igreja de São Brás, no Arco da Calheta. O nome talvez diga pouco a alguns mas é uma referência incontornável na Madeira e além fronteiras pela sua alta cortesia e percurso de empreendedorismo e solidariedade.
A “Condessa” da Quinta do Conde, como era largamente conhecida, partiu e não deixa indiferente quem com ela testemunhou o percurso de uma mulher que se notabilizou pelo trabalho, pela coragem, pela solidariedade e pelo amor à sua terra. Discreta, mas amiga do seu amigo, tinha consciência de que os problemas de saúde se tinham tornado nos seus grandes inimigos. Mas continuava de pé, a receber o outro, a servir com a alta cortesia de uma mulher de outras eras, numa Calheta cada vez mais turística.
A “D. Celeste”, como também era conhecida, residia desde a década de 80 na Quinta do Conde, localizada no Arco da Calheta. Um espaço aprazível, visitado por turistas e madeirenses. Todos o sabem que, neste jardim edénico, a “condessa” recebia, de braços abertos, todos aqueles que tinham a honra de a visitar, vindos dos “quatro cantos do mundo”.
Anfitriã dos madeirenses na África do Sul
Casou aos 16 anos e foi para a África do Sul, onde foi uma anfitriã de todos os madeirenses. Políticos, empresários, jornalistas e tantos outros foram recebidos na sua casa. De regresso à Madeira, com a família nuclear, adquiriu, a título
oneroso, a Quinta do Conde, bem como outras propriedades neste concelho e noutras paragens do nosso país.
Na Quinta do Conde, desenvolveu a atividade agrícola com sucesso, bem como o alojamento local, dinamizando e dando vida a tantas relíquias perdidas no tempo.
Era uma calhetense, representativa da cultura e da sociedade do concelho da Calheta, porque intervinha de forma ativa em tudo o que dissesse respeito à sua terra e às suas gentes – quem não se lembra de vê-la pela ocasião das últimas marchas de São João, no papel de madrinha da troupe do Arco da Calheta ou então na defesa intransigente de recente causa, na TV, a apelar aos administradores dos CTT para não encerrarem a loja na dita freguesia.
Habitava na Quinta do Conde, antiga propriedade dos Torre Bella (Condes na Madeira ao longo do século XVII, XVIII e XIX), onde a “condessa Celeste” acompanhava duma forma atenta o desenrolar dos acontecimentos regionais, nacionais e internacionais, de forma crítica, atenta e interveniente.
O perfil humano da D. Celeste foi outro traço característico da sua personalidade, deixando marcas da sua humildade e atenção ao próximo, independentemente de serem ricos ou pobres.
Com o tempo, foi-se tornando numa cidadã do mundo e, com muita alegria, recebia mensagens de agradecimento por tudo o que tinha feito, sem nada pedir.
No próximo domingo, é a oportunidade para a despedida física daquela que de todos cuidou. Na memória, fica o desvelo e o lado humanitário de uma mulher que deixou marca nos corações dos amigos.
Talvez valerá a pena recordar as palavras do também imortal Fernando Pessoa sobre a morte.
“A morte é a curva da estrada,
Morrer é só não ser visto.
Se escuto, eu te oiço a passada
Existir como eu existo.
A terra é feita de céu.
A mentira não tem ninho.
Nunca ninguém se perdeu.
Tudo é verdade e caminho.”