Calheta mais pobre com a morte da “condessa” da Quinta do Conde, Celeste Teixeira

No primeiro dia deste ano, Celeste Teixeira, no seu jardim, na Quinta do Conde. Foto in Facebook Quinta do Conde.

Celeste Mendes Teixeira morreu e o seu funeral será no próximo domingo, com missa a ser celebrada pelas 15h30, na Igreja de São Brás, no Arco da Calheta. O nome talvez diga pouco a alguns mas é uma referência incontornável na Madeira e além fronteiras pela sua alta cortesia e percurso de empreendedorismo e solidariedade.

A “Condessa” da Quinta do Conde, como era largamente conhecida, partiu e não deixa indiferente quem com ela testemunhou o percurso de uma mulher que se notabilizou pelo trabalho, pela coragem, pela solidariedade e pelo amor à sua terra. Discreta, mas amiga do seu amigo, tinha consciência de que os problemas de saúde se tinham tornado nos seus grandes inimigos. Mas continuava de pé, a receber o outro, a servir com a alta cortesia de uma mulher de outras eras, numa Calheta cada vez mais turística.

 

A “D. Celeste”, como também era conhecida, residia desde a década de 80 na Quinta do Conde, localizada no Arco da Calheta. Um espaço aprazível, visitado por turistas e madeirenses. Todos o sabem que, neste jardim edénico, a “condessa” recebia, de braços abertos, todos aqueles que tinham a honra de a visitar, vindos dos “quatro cantos do mundo”.

Um dos belos recantos da Quinta do Conde.

Anfitriã dos madeirenses na África do Sul

Casou aos 16 anos e foi para a África do Sul, onde foi uma anfitriã de todos os madeirenses. Políticos, empresários, jornalistas e tantos outros foram recebidos na sua casa. De regresso à Madeira, com a família nuclear, adquiriu, a título

oneroso, a Quinta do Conde, bem como outras propriedades neste concelho e noutras paragens do nosso país.

Na Quinta do Conde, desenvolveu a atividade agrícola com sucesso, bem como o alojamento local, dinamizando e dando vida a tantas relíquias perdidas no tempo.

Era uma calhetense, representativa da cultura e da sociedade do concelho da Calheta, porque intervinha de forma ativa em tudo o que dissesse respeito à sua terra e às suas gentes – quem não se lembra de vê-la pela ocasião das últimas marchas de São João, no papel de madrinha da troupe do Arco da Calheta ou então na defesa intransigente de recente causa, na TV, a apelar aos administradores dos CTT para não encerrarem a loja na dita freguesia.
Habitava na Quinta do Conde, antiga propriedade dos Torre Bella (Condes na Madeira ao longo do século XVII, XVIII e XIX), onde a “condessa Celeste” acompanhava duma forma atenta o desenrolar dos acontecimentos regionais, nacionais e internacionais, de forma crítica, atenta e interveniente.
O perfil humano da D. Celeste foi outro traço característico da sua personalidade, deixando marcas da sua humildade e atenção ao próximo, independentemente de serem ricos ou pobres.
Com o tempo, foi-se tornando numa cidadã do mundo e, com muita alegria, recebia mensagens de agradecimento por tudo o que tinha feito, sem nada pedir.
No próximo domingo, é  a oportunidade para a despedida física daquela que de todos cuidou. Na memória, fica o desvelo e o lado humanitário de uma mulher que deixou marca nos corações dos amigos.

Talvez valerá a pena recordar as palavras do também imortal Fernando Pessoa sobre a morte.

“A morte é a curva da estrada,

Morrer é só não ser visto.

Se escuto, eu te oiço a passada

Existir como eu existo.

 

A terra é feita de céu.

A mentira não tem ninho.

Nunca ninguém se perdeu.

Tudo é verdade e caminho.”