“Assalto” à comunicação social

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O mercado de comunicação social, no nosso País, foi “assaltado”. Há uns bons anos. Nunca mais foi o mesmo, nunca mais conseguiu erguer-se de um afundamento acelerado, vendendo-se por um prato de lentilhas e deixando que valores e princípios – que alguns dizem não dar de comer – fossem atropelados pelo domínio avassalador dos tecnocratas, que destruíram jornalistas, muitos de valor inquestionável e, talvez por isso, “emprateleirados”, construíram gente sem formação, mas partidariamente seguidista e bem colocada por militância, que chegou às redações e acabou com a memória, porque esta sabia de onde vinham, o que (não) sabiam e ao que vinham. Vinham ao tudo vindo do nada. E do nada fizeram tudo, num ápice, como se não soubéssemos (os que sabem!) o tempo que o tudo demora a fazer. Outro tudo, claro.

Atravessamos, um pouco por todo o lado, uma fase de grandes constrangimentos, em que os jornalistas, os poucos que sobreviveram, passam por momentos dramáticos dentro das redações, com raríssimas exceções, sejam de orgãos de informação grandes, médios ou pequenos, tenham maior ou menor expressão, por vendas ou por publicidade. O jornalismo, infelizmente, afundou-se no economicismo e no jogo de interesses, políticos e económicos, que ocupam, desabridamente e desavergonhadamente, algumas palavras que outrora serviam para informação.

A pretexto da crise, tudo se fez, tudo se destruíu, todas as negociações foram possíveis, sempre com a economia e a política de braço dado e uma sociedade “a ver a banda passar”, aplaudindo sem conhecer a música, mas é a música que lhe querem dar. E hoje, ainda funcionam os “três efes” – Fado, Fátima e Futebol – que em tempos idos alimentavam o dia a dia de um povo, com amarguras tão grandes que, em muitos casos, o vinho tinto ia enganando. Agora, continuamos com Fado, com Fátima e com Futebol e engana-se com tinto, com branco e com uma delicadeza polida mais pelo engenho primário do que pela formação, mas com o mesmo objetivo do passado: manter rédea curta na comunicação social, controlando-a política e economicamente, com uma proliferação de recibos verdes em catadupa, com alguns recibos em branco pelo meio, e jornalistas de carteira, o chamado núcleo duro das redações deste País, que ainda têm uma ténue esperança que se mantenha aquela expressão popular “mais vale cair em graça do que ser engraçado”, sendo que a graça não dá trabalho nenhum e ser engraçado é cá uma trabalheira. Está fácil de ver o caminho a seguir…

Aquilo a que se chama de liberdade de expressão começa a estar em causa. Pela precariedade de emprego, pelo atropelo de direitos, pela estratégia propositada de confrontar gerações, fazendo crer que a idade é um empecilho à entrada dos mais novos no mercado de trabalho, pela inexistência de respeito e pela falta de pudor de alguns. E isto acontece em empresas sólidas e em empresas em dificuldades. Estas precisam, aquelas aproveitam-se.

E os meios ditos de regulação, já regulam, não com a visão de ganhar, mas sim com a visão de perder por poucos, para utilizar uma expressão futebolística. O mais vale pouco do que nada tem dado para tanta coisa. Para alimentar silêncios, para justificar inércias, para encobrir cumplicidades de muitos “senhores de bem”.

Quem se conforma, come e cala. Uns porque não podem (trabalho de sobrevivência, compreende-se), outros porque não querem (as migalhas dos poderes ainda podem trazer alguma coisa, aqui não se compreende nada). E há os outros…