Há terrorismo nas nossas estradas

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Melhores estradas, deveria corresponder a menos acidentes, porque melhor condução e melhor segurança para circular com as viaturas. Porém, não é isso que se vê, melhores estradas está a corresponder a mais acidentes e consequentemente a mais incapacitados e mais mortos por causa dos frequentes acidentes. As vias de alcatrão melhoram, falta melhorar as artérias da educação, do civismo e do respeito pela vida, a sua e a dos outros.

O que se constata desde logo é que, se somos condutores atentos reparamos facilmente, que a forma como muita gente conduz não está à espera de outra coisa senão de colocar em risco a sua vida e a vida dos outros. Não é difícil de concluir que temos verdadeiros terroristas sobre o asfalto.

Tudo isto acontece porque o sentido da vida e do respeito pela vida do outro está nas ruas da amargura. Não é, por isso, surpreendente que as notícias revelem que cerca de metade das mortes nas estradas são de casos de jovens, com idade entre os 18 e os 24 anos. Estas mortes acontecem normalmente no início da manhã entre as seis e as nove horas, depois das noitadas nas discotecas e ou em festas bem regadas com álcool.

Segundo alguns peritos nestas matérias – analisaram e bem – que estes gestos e ações não podem ser vistos como «problemas rodoviários», mas como «comportamentos sociais». Estes comportamentos revelam o nível de respeito e de valor que os jovens depositam na sua própria vida e na vida dos seus semelhantes.

Não vamos aqui acusar os pais dos jovens pelas atitudes, pelos gestos e pelas ações tresloucadas que os seus filhos frequentemente assumem. Mas será necessário pensar que esta forma de sociedade está a gerar jovens sem escrúpulos, insensíveis ao valor da vida e sem a noção do risco que determinados comportamentos implicam, no que diz respeito ao valor da vida. A verdadeira perceção de que a vida é frágil e que merece todo o cuidado para não ser violentada, aprende-se com a educação. Quando tudo é muito fácil e se não exige qualquer esforço pessoal, porque os outros colocam tudo à disposição, faz gerar jovens comodistas, insensíveis, facilmente cansados e sem sensibilidade nenhuma no que diz respeito ao valor da vida.

Há uma condução terrorista de tresloucados, que sem qualquer noção do perigo, se lançam em aventuras que colocam em risco a própria vida e a dos outros. Por exemplo, circular em sentido contrário nalguns troços da via rápida. Ou descontraidamente conduzir na via rápida com o telemóvel colado ao ouvido? – (Tenho observado jovens e menos jovens fazendo esta figura). Ou ainda sem necessidade conduzir acima, muito acima dos kms indicados? Ou fazer ultrapassagens loucas sem qualquer noção do perigo? Não se chama a isto verdadeiro terrorismo? Não se chama a isto doença grave que fere os mais altos níveis de respeito e de educação? Apenas estas perguntas entre tantas outras que podíamos elencar.

Bem sei que as culpas de todo este estado de coisas não são fáceis de descortinar e de atribuir. Até penso que não se trata de encontrar culpados, mas trata-se isso sim de procurar formas de educação para o respeito pela vida e de criar mecanismos de controlo sobre as pessoas que atentem contra a vida de uma forma tão bárbara.

Onde estão os frutos das muitas campanhas rodoviárias, onde estão os resultados do policiamento (será que estão unicamente e apenas nas receitas das multas?) e onde estão as vantagens da abundante sinalização que mascaram as nossas estradas? – São questões que nos devem fazer refletir.

Porém, e acima de tudo melhor seria que nas famílias houvesse uma verdadeira educação para o esforço e que nada se conseguisse como prémio. Há ofertas que se concedem aos jovens que são tantas vezes o cadafalso onde serão imolados. As facilidades que os pais concedem aos seus filhos trazem faturas elevadíssimas para a vida de todos nós. Todo o cuidado e responsabilidade, deve ser exigida a uns e a outros.

As escolas deviam estar apetrechadas com métodos de ensino que sobrevalorizassem a vida e o respeito pelos outros em todas as circunstâncias. Não basta transmitir conteúdos se eles não correspondem a um comportamento adequado perante as coisas do quotidiano.

Se assim não for, de nada servem as abundantes sinalizações, as melhores estradas e o frequente policiamento. O valor da vida merece que todos nós nos entreguemos de forma apaixonada ao combate das atitudes tresloucadas. As nossas e as dos outros.