
Reza a história que Lazareto é um edifício próprio para as quarentenas, isolado e destinado a receber e a desinfectar as pessoas e os objectos provenientes de lugares onde reine uma doença epidémica ou contagiosa.
Em pleno século XXI, Lazareto é um sítio da cidade do Funchal onde existe um forte que, não tendo lepra nem leprosos, parece esquecido pelas nossas autoridades.
O Forte dos Louros, também referido nalgumas publicações históricas como Forte de Loures, forte do Lazareto ou forte da Ribeira de Gonçalo Aires localiza-se sobranceiro à enseada e foz da ribeira de Gonçalo Aires, no sítio dos Louros, freguesia de São Gonçalo, concelho do Funchal.
O forte dos Louros foi mandado construir pelo comerciante e armador Diogo Fernandes Branco para protecção do seu ancoradouro privado na foz da aludida ribeira, que já tinha tido obras de fortificação com Mateus Fernandes, por volta de 1575.
Dada a elegância das guaritas, de que só resta uma (hoje em ruínas), deve ter sido do mestre das obras reais Bartolomeu João, ainda na primeira metade do século XVII e talvez ainda durante o período filipino.

Para avivar a memória de quem de direito para a urgente intervenção naquela edificação, aqui fica uma pequena cronologia:
-Trata-se de um pequeno forte erguido a expensas de Eusébio da Silva Barreto (título Ataídes/Uzeis nas genealogias madeirenses), que foi também o seu primeiro capitão-mor, em fins do século XVII, no contexto da Guerra da Restauração (1640-1668).
-4 de Setembro de 1647: portaria do rei D. João IV a conceder a capitania do forte dos Louros a Diogo Fernandes Branco, pai, enquanto fosse vivo e que por sua morte, nela sucederia seu filho homónimo;
-1690: era condestável do forte dos Louros o velho tanoeiro Manuel Martins, que em 1698 passa a condestável do Ilhéu, honorário, onde servira 20 anos, pelo falecimento do seu irmão Simão Fernandes Forte, pelo que se lhe dava mais uma pipa de vinho por ano, atendendo-se que por se dar incapaz… assim por ser já velho, como por falta de vista;
-28 de Maio de 1715: é nomeado capitão do forte dos Louros o capitão Nicolau Geraldo de Freitas Barreto;
-1724: era condestável deste Forte, António de Freitas, que recebeu a carga de 5 peças de artilharia de ferro, montadas, de pequeno calibre, uma até 8 libras, e alguns apetrechos de artilharia;
-1729: era condestável do Forte, Bernardo de Sousa, que não sabia assinar;
-1730: idem, Paulo Pereira de Lordelo;
-1790 a 1800: Havia já perdido a função militar quando, ao tempo do Governador e Capitão-general da Madeira e Porto Santo, Diogo Pereira de Forjaz Coutinho, reconhecendo o pouco valor militar do forte dos Louros pretendeu ali instalar uma fábrica de seda;
-1892: Tombo do Forte dos Louros (nº109) descrito como insignificante;
-1900 (c.): passa a residir ali a família do antigo guarda-fiscal Henrique Marcelino de Nóbrega, cujos descendentes ali permanecem cerca de 100 anos.
Resta a quem de direito intervir para que o “Forte da Ribeira de Gonçalo Aires”, também referido como “Forte dos Louros” e “Forte de Loures”, (verbete “Fortificações” in “Elucidário Madeirense”, v. II, p. 90.) não se perda na memória dos nossos actuais responsáveis pelo património.

