Salvemos o Serviço Nacional de Saúde e a TAP

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I – Nas últimas semanas fomos confrontados com uma sucessão de mortes e tragédias pessoais ocorridas nos Hospitais portugueses, onde se instalou o caos nos serviços de urgência, ditado por tempos de atendimento elevados e muito para além do razoável, constante falta de camas para o internamento, deficiências nos meios de diagnóstico, equipes claramente insuficientes para satisfazer as necessidades de acudir aos utentes, e médicos, enfermeiros, e restante pessoal completamente exaustos e esgotados.

De notar que esta ruptura não é pontual, nem de hoje, mas sim um problema frequente que se tem agravado nos últimos anos, determinado pelo sucessivo desinvestimento, descredibilização e degradação do Serviço Nacional de Saúde, numa premeditada cruzada para o substituir pelo sector privado, de forma a drenar recursos do Estado para os bolsos do grande capital, e concretizar o princípio do utilizador-pagador tão ao gosto das opções ideológicas neoliberais e duma estratégia economicista seguida pelo Governo da direita, obediente à velha receita de para o grande capital os lucros e para o povo os custos.

Nesta autêntica cruzada reaccionária multiplicaram o encerramento de muitos serviços de proximidade de cuidados de saúde primários, debilitaram a sua acção através de uma constante falta de meios, fomentaram condições nocivas de trabalho que levaram muitos funcionários a abandonar precocemente os serviços, limitaram a contratação de profissionais de saúde, motivaram com que mais de 15 mil pessoas a quem tinha sido atribuído um médico de família voltassem a não ter quem os acompanhe e assista, e sem qualquer pudor, cortaram ao SNS nos últimos quatro anos mais de 2,4 mil milhões de euros, tudo para o debilitar e satisfazer os gananciosos interesses dos privados e outros comerciantes da saúde.

E o certo é que em consequência destes planeados atentados, os serviços privados de saúde foram progredindo cada vez mais, e hoje já exploram para cima de 9 mil camas, o que significa uma capacidade de internamento de quase metade da existente no Serviço Nacional de Saúde, internando acima de 200.000 mil doentes por ano, e facturando mais de 1,5 mil milhões de euros. Deste modo, segundo dados divulgados pela «Associação Portuguesa da Hospitalização Privada», o cada vez mais anafado e esmagador sector privado conta já com 150 unidades de tipo hospitalar, 50 das quais com um serviço de internamento, onde pontificam poderosos grupos empresariais tais como a “José Melo Saúde” com 1430 camas, a “E.S Saúde” com 1179, a “Lusíadas Saúde” com 740, o “Grupo Trofa Saúde” com mais de 500, e o recente “Hospital Privado de Gaia” com 100 camas, 33 consultórios e 35 salas de exames e tratamento.

 Pôr termo a esta criminosa política que põe em causa a vida das pessoas e condena milhares de cidadãos à morte antecipada, é um urgente imperativo que deve juntar todos os democratas e humanistas na intransigente defesa de um eficiente Serviço Nacional de Saúde, ao serviço do nosso País e da qualidade de vida de todos os portugueses.

II – O Governo Central PSD/CDS, escravo da troika e dos interesses estrangeiros, e enleado em critérios neo-liberais de subjugação ao grande capitalismo económico e financeiro, tem tentado privatizar a TAP, nossa companhia aérea de bandeira, o que além dum crime económico, constitui uma grave traição á soberania nacional, sobretudo num país como Portugal, que possui no Atlântico vastas regiões autónomas que devem ser defendidas e protegidas, além de milhões de emigrantes e seus descendentes espalhados pelos quatro cantos do planeta.

Tentando justificar esta autêntica traição aos interesses nacionais, o bando de malfeitores bolsa velhas e gastas patranhas do tipo de que é em mão privadas e não públicas que melhor se defendem os trabalhadores e os utentes, e que melhor se salvaguarda a qualidade e a produtividade das operações de transporte, garantindo ainda a flexibilidade de gestão mais adequada para promover a paz social e o desenvolvimento futuro da companhia.

E embora seja visível e manifesto que durante dezenas de anos, muitas vezes mal administrada e sem receber um cêntimo do Estado, a TAP tenha demonstrado ser uma sólida realidade económica, nas exportações, no emprego, na dinamização das actividades do tráfico de pessoas e bens, bem como na prestação de valiosos serviços ao País, esses vendem-pátra alegam, sem pudor, que a empresa precisa investir num plano estratégico de desenvolvimento que apenas os privados têm condições de garantir e executar.

Tentando adocicar e branquear a situação, certos sectores da direita do PS propõem que a venda da TAP se faça «por outras vias», de forma a limitar as desvantagens e os riscos para Portugal, esquecendo e omitindo que o certo é que os graves malefícios da privatização e o odioso da mesma são os mesmos, quer a venda da companhia se faça mais depressa ou mais devagar, no gabinete dos Ministérios ou na Bolsa de Valores, de rajada como aconteceu nos CTT e na ANA, ou em prestações como criminosamente se verificou com a EDP e a PT.