E agora, Igreja Católica da Madeira?

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José Luís Rodrigues, padre

Obviamente que não pergunto nada de novo se a questão está à vista de todos.

Haverá nos próximos tempos uma mudança na Madeira em termos políticos. Este dado colocará alguns novos desafios à Igreja Católica da Madeira. Também será muito óbvio que não teria cabimento esta reflexão se todos nós não soubéssemos do que foi e do que vai sendo a parceria de interesses entre o altar e a política partidária nos últimos quarenta anos na Madeira.

Este arranjo no partido que governou a Madeira quase quarenta anos vai obrigar a Igreja da Madeira a marcar também a sua posição.

No historial destes quarenta anos descobrimos claramente que, o posicionamento da principal figura da hierarquia da Igreja da Madeira foi estar claramente ao lado da personagem principal. E agora?

A trilogia de bispos, D. Francisco Santana, Teodoro de Faria e D. António Carrilho, foram os mentores e cuidaram de cavar zelosamente os alicerces daquilo que hoje se chama jardinismo.

As suas opções pastorais estavam bem posicionadas diante daquilo que se considerava ser a luz da salvação da Madeira e revelavam a sua determinação contra tudo o que mexia em sentido contrário dentro da Igreja e fora dela, facilmente isso se revestia de vermelho e encarnava a personificação do diabo a gerir a «fornalha ardente».

Não fora neste tempo o caso do padre Martins Júnior que vergonhosamente será perseguido na sua comunidade paroquial até ser suspenso da sua função clerical, por uma razão puramente infantil. Hoje ao ouvirmos a razão para tal suspensão concluímos que só pode ser uma piedosa anedota que se mantém sem solução à vista.

Assim, foi a história de bispo em bispo, que tinha a função de pacificar a Igreja Católica da Madeira, mesmo que para tal algumas vezes se apresente com laivos de força como foi o caso da invasão policial da Igreja da Ribeira Seca, entre 27 de Fevereiro e 18 de Março de 1985, perfazendo agora 30 anos.

A aliança entre poder político/partidário e o altar, vai se revelar pujante nas cerimónias religiosas subsidiadas pelo poder político, a construção de novos templos por todo o lado, a dispersão do Grupo dos Dez, a nomeação de padres ao gosto do poder político partidário para determinadas paróquias cuja população estava debaixo de olho eleitoralmente falando, a parceria mutuamente interesseira sobre o Jornal da Madeira, que de cristão se revelou ter zero, mesmo que apresente um caderno dominical de fotografias com as homilias dos vários bispos… Tudo isto entre tantos outros sinais que foram ajudando a manter o poder tal como se foi revelando em pensamento único e várias vezes antidemocrático.

Por isso, há um misto de inquietação e sobressalto porque os interesses são muitos. Face a essa angústia que paira no ar, esperamos nós serenamente para ver como vai ser a partir de agora a atitude da Igreja Católica da Madeira. Esperemos que se quebre o enguiço que na Madeira se viveu em pleno inspirado num texto de Santo Ambrósio de Milão onde fala da Igreja como «a casta meretriz».