
D. Nuno Brás passou a manhã de hoje no centenário “Liceu”, por entre alunos, professores e funcionários. Sorridente, acessível e extremamente sereno, o Prelado da Diocese assinou o livro de honra da instituição e esteve como peixe na água a falar aos alunos sobre a importância de acompanhar os novos tempos de emergência tecnológica sempre com um olhar vigilante e crítico sobre os riscos que daí decorrem, colocando no centro a importância do bem comum e do ser humano.
O Bispo da Diocese do Funchal foi o preletor da conferência “Ética e Inteligência Artificial”, a convite dos docentes Elisabete Cró e António Freitas, respetivamente dos projetos Blogue de Memórias e Equipa da Saúde da ESJM. A oportunidade para um reencontro com os jovens e a clarificação do pensamento cristão sobre as novas luzes tecnológicas que marcam o ritmo do nosso tempo.

A presidente do conselho executivo, Ana Isabel Freitas, mostrou a D. Nuno Brás os espaços mais emblemáticos da instituição centenária, numa visita guiada pelos vetustos corredores do “Liceu”, memórias e painéis históricos. Na sala de conferências Dr Jorge Moreira, a presidente justificou a importância da palestra como uma necessidade de dotar os alunos de uma informação clara e rigorosa. “Alunos mais informados estarão certamente mais preparados para os desafios do futuro”, defendeu. Lembrou ainda a multiplicidade de aplicações digitais que acompanha a evolução da sociedade, a que o ensino não é alheio, mas também colocou o enfoque, na importância do pensamento crítico dos alunos, na seleção criteriosa de conteúdos, fruto de um esclarecimento prévio, como ocorre com as palestras que a ESJM dinamiza.

Possibilidades e riscos
D. Nuno Brás não foi ao Liceu diabolizar a questão da “inteligência artificial”. Reconhece a inevitabilidade do progresso tecnológico com a serenidade da evolução dos tempos. “Traz consigo uma série de possibilidades”, admite, mas também alerta para o facto de “trazer uma série de riscos para a humanidade, nomeadamente em relação à liberdade, uma das principais dimensões que carateriza o ser humano e que pode estar em risco. A questão é esta: até que ponto as máquinas não nos obrigam a agir de uma forma que não é escolhida por nós?”
Outro aspeto abordado com a comunidade educativa prende-se com “a perceção da realidade. A inteligência artificial tende a sobrevalorizar o indivíduo em detrimento daquilo que é a relação com o outro. Portanto, corremos o risco de sermos uma “carrada” de indivíduos e de perdermos tudo aquilo que é a riqueza da relação com os outros, que nos interpela, a gratuidade do estar com o outro, uma sociedade que não seja uma colagem do próprio indivíduo”.
Falar para o público jovem, defendeu o Bispo, é pertinente, sobretudo porque esta faixa etária “muito facilmente se deixa deslumbrar pelas maravilhas da técnica”. Sem dúvida, sublinhou, “é uma realidade que precisamos dominar e garantir que está ao nosso serviço e não nós, seres humanos, ao serviço da máquina”.
No entanto, em declarações aos jornalistas, o Prelado da Diocese admite que há o risco de sermos escravos das máquinas num mundo excessivamente dominado pelas novas tecnologias. Daí o discernimento que se impõe a cada indivíduo para não se deixar controlar pela máquina, mas colocá-la ao seu serviço.
Perceção da Fé
Questionado pelos jornalistas sobre a essência do ser cristão nos tempos que correm, nomeadamente na juventude, em tempos laicos, o Bispo da Diocese aludiu a um estudo feito há pouco tempo, em Itália, com os adolescentes italianos, com os seguintes resultados: só 29% dos inquiridos nunca tinham rezado. “Interessante. Esta relação com Deus tem expressões que se veem. Eu diria que a relação com Deus está presente. Resta saber: que Deus? Nesta questão da inteligência artificial, corremos o risco de nos ser proposto um Deus que sirva os nossos interesses ou que confirme o que já somos e não a sermos melhores? Esta é a questão central: que Deus? Para nós cristãos, o Deus é Jesus Cristo, Jesus de Nazaré, Jesus feito homem. Este encontro com Jesus Cristo não sei se está melhor ou pior mas parece-me que há uma relação com Deus, há uma sede de autenticidade”.