Foi com extrema perplexidade, mesmo indignação, desculpem a expressão, que li recentemente uma notícia sobre mais um grito de alerta protagonizado pelo Instituto Português do Sangue e Transplantação (IPST) quanto à escassez de sangue em Portugal, sobretudo nos meses de Janeiro e Fevereiro, realidade que parece ser recorrente. Como cidadão e dador benévolo de sangue não posso deixar de lamentar tal circunstância, quer pela gravidade e risco para a Saúde que a situação em si mesma encerra e representa para quem dele necessita ou poderá vir a necessitar, quer pelo facto de a solução para o problema (dificuldades de stock – reservas), se encontrar nas nossas mãos (leia-se por parte daqueles em objectivas condições para efectuar as bem-ditas dádivas).
Na Madeira, que tudo leva a crer ser auto-suficiente, a situação parece absolutamente sob controlo, graças aos dadores (serão à volta de 3000), assim como ao trabalho levado a cabo pelas entidades com responsabilidades organizacionais, institucionais, formais neste âmbito, designadamente o Serviço de Sangue e Medicina Transfusional do Serviço Regional de Saúde EPERAM, e a Associação de Dadores de Sangue da Madeira, fundada a 4 de Abril de 2016 (a este propósito, da auto-suficiência Regional, bem assim da cooperação institucional, sublinhe-se que em 2022, creio, a Madeira doou, pela primeira vez, ao Continente (entenda-se Instituto Português do Sangue), 125 unidades de sangue).
Quaisquer dádivas de sangue consubstanciam sempre um acto de solidariedade, de altruísmo, de amor ao próximo, razão pela qual nos devemos encontrar todos implicados nas iniciativas e processos tendentes à sua concretização regular.
Sou dador benévolo de sangue há já algum tempo, e em todas as vezes que doei tão “precioso bem” (o sangue é verdadeiramente uma mistura de várias células suspensas num líquido chamado plasma) fi-lo expurgado da busca e obtenção de qualquer benefício pessoal, individual, como é óbvio, e assim deverá ser em todos os casos. Sempre que o faço, sinto-me, antes de mais, cumpridor de um dever de cidadania, orgulhoso em poder auxiliar quem necessita, quer por motivo de “doença instalada”, quer no decurso de algum evento trágico de vida que possa levar qualquer nosso semelhante a um bloco operatório, a uma cirurgia, situação que ninguém pode prever, controlar, evitar…
Enquanto Seres Humanos, não raras vezes possuímos e construímos ideias pré-concebidas acerca de determinadas realidades que nos rodeiam ou até desconhecemos. No que concerne a este assunto, dádiva de sangue, importará aqui transmitir e/ou relembrar algo (por ordem absolutamente aleatória) que reputo de significativo para ajudar a desconstruir, desmistificar alguns aspectos ainda infelizmente prevalentes na nossa sociedade relacionados com esta matéria, e com isso procurar cooperar, enquanto mero cidadão e dador, na promoção e sensibilização para a adopção de um comportamento, o mais difundido possível, tão natural quanto humanista:
Primeiro, uma pessoa saudável pode dar sangue frequentemente, sem que essa circunstância prejudique, de todo, a sua saúde (o sangue doado é rapidamente reposto pelo nosso organismo).
Segundo, todos os tipos de sangue são necessários, mesmo os mais raros.
Terceiro, dar sangue é algo simples e absolutamente seguro (todo material utilizado em sede de colheita é descartável e usado uma única vez).
Quarto, qualquer pessoa pode dar sangue, desde que seja saudável, possua peso superior a 50 kg e tenha idade compreendida entre os 18 e os 65 anos.
Quinto, qualquer pessoa pode dar sangue várias vezes por ano (os homens de 3 em 3 meses e as mulheres de 4 em 4 meses).
Sexto, a cada dádiva apenas são colhidos cerca de 450 mililitros de sangue, e momentos após doar sangue qualquer pessoa pode regressar à sua vida/ocupação normal (há raras excepções, como por exemplo pilotos de aviões, mergulhadores…Nestes casos, as actividades profissionais não devem ser retomadas nas horas seguintes à dádiva).
Sétimo, não obstante haver, felizmente, um número significativo de pessoas a doar sangue, a procura de sangue e seus derivados não pára de aumentar (“as necessidades terapêuticas dos doentes exigem cada vez mais dadores…”).
Oitavo, todo o sangue é necessário. A cada momento é crucial a existência de sangue nos nossos hospitais.
Nono, todo o processo de dádiva tem a duração média 30 minutos.
Décimo, a dádiva de sangue consubstancia sempre um acto livre e voluntário.
Décimo primeiro, ao dador é conferida a possibilidade de agendar dia e hora que mais lhe convier para a dádiva, dentro obviamente do horário de funcionamento do serviço onde a colheita é concretizada.
Décimo segundo, as ausências ao trabalho por parte do dador para efeitos de dádiva de sangue encontram-se sempre justificadas e não implicam perda de quaisquer regalias profissionais. Neste âmbito os dadores de sangue na Madeira têm direito a dois dias de dispensa ao trabalho (a este respeito sugere-se e/ou aconselha-se consulta do Decreto Legislativo Regional n.º 16/2015/M, de 29 de Dezembro) – a esmagadora maioria dos pontos atrás elencados encontra-se mais desenvolvida e para consulta em Site do SESARAM, EPERAM https://www.sesaram.pt/portal/cidadao/outras-informacoes-cidadao/dador-de-sangue e em documento disponibilizado On-line, da autoria do Serviço de Sangue e Medicina Transfusional do SEARAM, EPERAM, passível de ser consultado em https://www.sesaram.pt/portal/images/ficheiros/ServicosClinicos/20_DuVIDAS_sobre_dar_SANGUE.PDF, intitulado “20 Dúvidas sobre a Dádiva de Sangue”.
Na Madeira as colheitas de sangue são vulgarmente realizadas no Serviço de Sangue e Medicina Transfusional do SESARAM, EPERAM, de 2ª a 6ª feira, das 8:30 às 13:00 horas e sábados, das 8:30 às 12:30, convindo, para o melhor funcionamento do Serviço aludido, e respectivo atendimento aos dadores, o agendamento prévio para a concretização de qualquer potencial dádiva (para o efeito sugere-se o contacto através do número 291 705 752).
Os Principais Organismos da Saúde, nacionais e internacionais, parecem ser unânimes quanto ao facto de que “cada unidade de sangue poder salvar entre 3 a 4 vidas”…Se assim é, deverá ser este o mote, o lema a seguir para quem doa o continue a fazer, e para aqueles que nunca o fizeram que comecem a fazê-lo desde já, num contexto institucional e profissional competente, securizante e acolhedor, como o Serviço mencionado.
Na linha do exposto e da complexidade que a questão aqui analisada encerra, a verdade é que “…algo está [muito] mal, se é o doente que está à espera do sangue e não o sangue à espera do doente” (In, “ 20 dúvidas sobre a Dádiva de Sangue”, Serviço de Sangue e Medicina Transfusional do SESARAM, EPERAM).
Nota: Artigo de opinião redigido na qualidade de mero Dador Benévolo de Sangue.