O convite dirigido ao Arcebispo Rino Fisichello, presidente do Pontifício Conselho para a Nova Evangelização, partiu do Bispo do Funchal. Com um objetivo muito claro: ser o orador principal da Semana de Atualização do Clero, Leigos e Consagrados. E bem pode dizer-se que D. Nuno Brás acertou em cheio no convidado, já que, na noite de hoje, o também responsável pela organização do Ano Santo de 2025, pregou e convenceu o auditório que encheu a Igreja do Colégio, sinal de que a sede de Deus não é pouca, pesem embora as nuvens que pairam sobre os tempos que correm e a própria evangelização.
No encontro desta noite, D. Rino Fisichello não se ficou apenas pelo discurso densamente teológico, mas soube acompanhar e responder às inquietações do auditório, de forma muito concreta e até pedagógica, de quando em vez com uma pitada de humor. Na sua intervenção, D. Fisichello frisou que a questão central da evangelização “é o testemunho pessoal do encontro com Cristo. Tu, encontraste Cristo na tua vida? Esta é a pergunta fundamental para um cristão”.
De resto, a tónica central da intervenção de D. Rino bem pode resumir-se à afirmação “Deus, hoje, mais que negado, é desconhecido”.
Em tempos tão conturbados em que vivemos, o desafio que se coloca à igreja é o de “pensar como inculturar o Evangelho na nova cultura dos nossos dias: a cultura digital. Pensar na evangelização e olhar para o lado, como se não existisse a exigência da inculturação, é um caminho que não pode ser percorrido. A coragem da evangelização impele inexoravelmente a descobrir novos percursos e a segui-los sob a ação do Espírito, que não pode ser limitado por cálculos meramente humanos. Neste contexto, há uma dupla tarefa que, hoje, compete à Igreja na sua obra de evangelização: por um lado, a exigência de transmitir aquilo que sempre, por todos e em toda a parte foi acreditado; por outro lado, a tarefa de compreender a nova cultura que se apresenta e determinará os próximos séculos, criando condições para nós impensáveis que nos fazem sorrir porque parecem ficção científica, mas já estão quase a apresentar-se com todo o seu alcance histórico”.
Numa análise cultural e até mesmo antropológica, o orador convidado sublinhou o facto de que “o homem está em crise”. Consequentemente, o tema da “necessidade de Deus” salta sempre para o centro da discussão. Mas D. Fisichello clarifica o diagnóstico: “A crise dos nossos dias é determinada por poder e saber falar de Deus; é algo que não pode deixar-nos na neutralidade. Deus, hoje, mais que negado, é desconhecido”.
Questionando sobre qual a imagem que estamos a passar de Deus às novas gerações, o orador sugere que se lance “uma pedra no charco: o charco da indiferença que, muitas vezes, domina o contexto cultural sobre esta problemática, e o da obviedade, que evidencia quanta ignorância domina, de forma muitas vezes soberana, sobre os conteúdos religiosos. Infelizmente, a indiferença e a obviedade corroem pela base aquele senso comum religioso que ainda existe, enfraquecendo cada vez mais a questão sobre Deus e, sobretudo, a opção consciente e livre da fé”.
Tirar Deus de cena e banalizar ou reduzir ao supérfluo a experiência religiosa, o homem perdeu-se a si mesmo. Por isso, “o único rosto que continua refletido é o da própria pessoa”.
Após alertar para os perigos da tecnocracia, o arcebispo Rino fechou a sua intervenção com um compromisso e ao mesmo tempo desafio a todos: “Nós católicos não aceitaremos ser marginalizados. Com efeito, estamos convencidos de que a nossa presença no mundo é essencial. Não podemos ser substituídos por mais ninguém a transportar aquele contributo peculiar que nos pertence e que, ao longo dos séculos, marcou uma incomparável história de humanização. Sem a presença significativa dos católicos, o mundo seria mais pobre e menos atraente. Não queremos que isso aconteça; por isso, pedimos para ser escutados e postos à prova para verificar uma vez mais a riqueza do nosso contributo para o genuíno progresso do pensamento da sociedade”.