Morreu Sara Carreira. A notícia vinha acompanhada de uma foto. Uma menina linda. Quase uma criança.
Não fazia ideia quem seria a Sara Carreira, mas atingiu-me com uma violência atroz. As lágrimas teimaram em nebular os olhos. E foi com olhos nebulados de mãe que li a notícia.
Percebi que Sara era membro do clã Carreira. Filha do Tony e da Fernanda. Irmã do David e do Mickael. Obviamente não os conheço. Nem sou especialmente fã do pouco que conheço do seu trabalho. Mas tenho a ideia de serem uma família unida, que se entreajuda, com uma ética de trabalho excecional. Uma família que se ama. Disso serei sempre a fã número um.
E estes pais? Desta vez o sofrimento tem caras, nomes e identidades.
Fico agoniada com a dor alheia. E abraço muito as minhas filhas com medo que elas me faltem.
Ninguém deveria ter de receber esta chamada telefónica na vida. Ninguém.
Ninguém deveria ter de sentir o seu coração a ser arrancado do peito, o sangue a gelar e o chão a desaparecer no silêncio ensurdecedor. Ninguém.
Ninguém deveria ser condenado à eterna mágoa, ao vazio, assim. Ninguém.
Acordar dia, após dia, sem uma parte de si. Deitar-se querendo que o dia seguinte não chegue. Não fomos feitos para isto.
E acordam. Levantam-se. Deitam-se.
Voltam a acordar, a levantar-se e a deitar-se.
Heróis de determinação sobre-humana. Heróis que dariam tudo para não o ser.
À Fernanda, ao Tony, à Vitória, ao Fernando, ao João, à Sandra, a todos que não conheço, a minha compaixão, o meu carinho e admiração.
Ninguém deveria ter de passar por isto. Ninguém.
Aos que comentam a notícia com “é no que dá o excesso de velocidade” e “o que faziam na rua durante o confinamento”, calem-se. Calem-se.