A dinâmica Casa da Cultura de Câmara de Lobos

Nesta crónica optei por debruçar-me, um pouco, sobre a dinâmica Casa da Cultura de Câmara de Lobos (Rua São João de Deus, n.º 40), um espaço cultural de excelência, que tem vindo a desempenhar um papel relevante na promoção e divulgação cultural, nas suas diversas vertentes.

Um espaço privilegiado e disponível, onde a cultura tem tido efetivamente uma presença constante, através das mais diversas manifestações e nas diferentes áreas de intervenção artística, mormente, exposições de artes plásticas, teatro, dança, concertos, espetáculos musicais, colóquios e outras atividades que têm por finalidade principal, o enriquecimento cultural dos munícipes e obviamente de todos os interessados que recorrem àquele espaço.

Podemos ver no Plano Municipal de Cultura de Câmara de Lobos que esta casa foi inaugurada a 6 de Dezembro de 2001 (atingindo este ano a maioridade). Na altura surgiu com o intuito de colmatar uma lacuna a nível cultural neste concelho, no que concerne, à falta de um auditório para a realização de atividades culturais e afins. Pois esta casa foi a primeira infraestrutura física deste concelho a possuir um auditório destinado a eventos de carácter cultural. Embora, atualmente a cidade de Câmara de Lobos merecesse um auditório com maior capacidade e melhor equipamento, para realizar-se espetáculos com uma superior qualidade técnica e artística.

Justifica-se um auditório de maiores dimensões, até se tivermos em conta o número de habitantes que existem na cidade e no município em geral; a procura por forasteiros e o próprio aumento de turistas permanentes na baixa da cidade, devido ao surgimento de unidades hoteleiras, com acontece atualmente.

No mínimo, a atual casa da cultura merecia umas obras de reajustamento, por exemplo, a altura do palco, poderia ser aproveitada na totalidade, sendo pintada a teia (parte superior do palco) de preto (qual estética, qual carapuça), sejamos funcionais; colocar uma vara fixa na frente do palco, aproveitar melhor a altura da plateia; recuperar uma sala para exposições; acolher nos seus espaços, preferencialmente, ideias, projetos, associações com ligação direta à área das artes, da cultura e da criatividade. Seria uma espécie de pequeno ”laboratório artístico-cultural-criativo” para servir culturalmente e ainda melhor o município. Também, podia-se criar a partir dali uma agenda cultural (em papel ou somente em formato digital, por motivos ambientais) sobre as diversas atividades artístico-culturais que acontecem nas cinco freguesias do concelho camarolobense.

Se o dinheiro abundasse, seria excelente um investimento na reparação ou substituição das cadeiras da plateia, que fruto do desgaste natural ao longo destes anos, range demasiado para uma sala de espetáculos. As paredes exteriores do edifício necessitam de uns retoques na pintura.

Visibilidade da régie para o palco é absolutamente deficitária devido ao mau aproveitamento da real altura do teto da plateia. E a altura do palco é extremamente baixa para montarmos um cenário em condições ou um desenho de luz, onde falta uma vara de frente para poder iluminar a cara dos artistas (mas isto infelizmente é uma lacuna de muitos dos auditórios construídos na nossa região, por falta de diálogo dos projetistas com os artistas.).

Inicialmente, a Casa da Cultura, acolheu a Biblioteca Municipal de Câmara de Lobos – atualmente localiza-se na parte superior do edifício do Museu de Imprensa da Madeira. A Casa da Cultura de Câmara de Lobos nasce com o objetivo primordial de divulgação da arte cultural produzida neste município e não só, proporcionando o acolhimento de novos eventos culturais de origem externa ao concelho, promovendo um crescimento no dinamismo e minimizando o estigma social de Câmara de Lobos.

Teatralmente, tive o prazer de estrear o palco do auditório da Casa da Cultura de Câmara de Lobos, com a encenação da peça “Auto da India” de Gil Vicente – pai do teatro português – pelo extinto Grutcape (Grupo de Teatro da Casa do Povo do Estreito de Câmara de Lobos) – um dos grupos de teatro mais ativos nos finais dos anos 90 e primeiros anos deste novo século.

Tenho um afeto muito especial com esta casa, por isso, ao logo destes 18 anos, voltei várias vezes a este espaço, com intervenções artísticas, destacando-se algumas apresentações teatrais, nomeadamente: “Poesia e Mar” “Yerma”; “ Bendito Seja o Homem Entre as Mulheres”, “Herança de Faustino Miséria”, “Yerma, Uma Mulher Vazia e Seca”, “Palavras Sentidas” e “Rometa e Julieu”.

É de salientar também que os primeiros espetáculos do conhecido grupo madeirense “4 Litro” aconteceram, precisamente no palco do auditório da Casa da Cultura de Câmara de Lobos.

A Casa da Cultura de Câmara de Lobos, é, certamente, um espaço polivalente, se atendermos que além de toda a vertente artística que apresenta ao longo do ano, acolhe ainda a sede da Junta de Freguesia Câmara de Lobos, um Núcleo do Conservatório – Escola Profissional das Artes da Madeira, Eng.º Luiz Peter Clode, a Associação Insular de Geografia, o Centro de Informação Europe Direct Madeira; e Orquestra de Bandolins de Câmara de Lobos.

A falta de uma sala para as exposições (inicialmente existia, mas foram transformadas para outras valências) faz com que as mesmas, atualmente, sejam montadas no hall de entrada. Imagino que as montagens de exposições naquele espaço, sejam sempre resolvidas com muito engenho e arte.

Das Casas da Cultura a funcionar na Madeira, a Casa da Cultura de Câmara de Lobos, foi a segunda a surgir (a primeira foi a Casa da Cultura de Santa Cruz/ Quinta do Revoredo) e é a única que tem um auditório com capacidade de 160 lugares. O auditório tem, apesar de tudo, um palco e uma plateia intimistas, o que aproxima as energias entre artistas e público.

Uma casa acolhedora de grupos artísticos residentes, como é o caso da Associação ComCordas e de outros projetos consistentes e ativos. Pois um espaço cultural deve ter este desígnio e não somente vangloriar-se que têm um nome de um grupo artístico associado e na realidade pouco apresentam, como acontece infelizmente, em alguns espaços culturais da nossa região. Agora, também não devemos tornar um espaço cultural sede ou saco de tudo e mais alguma coisa, desvirtuando em parte o seu verdadeiro âmbito e objetivos. Afinal, refletir sobre cultura é fazê-la, construí-la, interpretá-la e torna-la viva, (Guilherme d’Oliveira Martins)

Vejo a utilidade de uma Casa da Cultura, quando a mesma é eficaz na apresentação das suas temporadas artísticas com significado social e cultural, construídas com diversas propostas de música, teatro, dança, performance, conferências, exposições, cinema, programação para escolas, famílias e público sénior (que cada vez é maior e por isso temos que dar uma atenção especial a esta faixa etária da sociedade).