Museu “Vicentes” deverá em breve abrir parcialmente ao público, após cinco anos fechado

Fotos: Rui Marote

Está já há cinco anos encerrado ao público. Mas, como a informação que lhe é relativa continua a constar de muitos sites na Internet e guias como um dos locais de maior interesse a visitar na Região, é muito frequente que turistas, principalmente de nacionalidade estrangeira, venham ter às suas portas – que invariavelmente encontram fechadas. No entanto, a sua fachada denota a recuperação de que foi alvo e, no seu interior, funcionários afadigam-se nos trabalhos que precederão a sua reabertura. Trata-se da “Photographia-Museu Vicentes”, um dos mais antigos estúdios de fotografia de Portugal. Situado na Rua da Carreira, também ela uma das mais antigas artérias do Funchal, foi ali que em 1865 Vicente Gomes da Silva fixou residência e instalou o seu atelier. Quatro gerações dos fotógrafos da família “Vicente” desenvolveram ali actividade ao longo dos anos, fixando em imagem todo um rico passado da história da Madeira, de grande valor documental.

A directora regional da Cultura explica que o Museu “Vicentes” foi alvo de uma “intervenção extremamente complexa”, pelo que tem estado tanto tempo fechado ao público. O Funchal Notícias teve oportunidade de visitar o seu interior e constatou que, de facto, o edifício está bem recuperado e praticamente pronto para abrir ao público, necessitando apenas, eventualmente, de alguns pequenos ajustes. “Todo o imóvel foi intervencionado, não só a parte que antigamente era o Museu, mas também a parte onde antes se encontrava o IDRAM [Instituto de Desporto, previamente Direcção Regional dos Desportos]. E foi o tempo que se levou, porque estes concursos públicos frequentemente demoram o seu tempo”, referiu Teresa Brazão ao FN.

Para além disso, todo o material fotográfico, nomeadamente as chapas, foram transferidas para o Arquivo Regional da Madeira, onde estão a ser restauradas e transformadas em ficheiros digitais. As chapas propriamente ditas, uma vez restauradas, serão conservadas com todos os cuidados, nomeadamente humidade, temperatura e ausência de luz. Tudo para que “se possa conservar todo esse património, que é extremamente importante”, salienta a nossa interlocutora. Ao mesmo tempo que se o conserva, pretende-se poder usar essas imagens de forma livre e eficiente através da sua digitalização. “Mas são processos muito morosos. Tudo isto demorou cinco anos, foi isso que aconteceu”.

Questionámos: mas não houve atrasos, na execução dos trabalhos? Teresa Brazão responde: “Sabe, isto é o tipo de coisa que tem de ser feita com extremo cuidado e com muito zelo. Trata-se, por um lado, de um edifício complexo. Por outro, aquilo que se tinha de fazer com o espólio e as imagens é uma coisa que demora muito tempo. Para ter uma ideia, há milhões de imagens – milhões – e só se conseguem processar qualquer coisa como vinte mil por ano. É um número extremamente elevado”.

O espólio, promete esta responsável, será conservado “como deve ser, para memória futura”. Ficará permanentemente alojado nas modernas instalações do Arquivo Regional e Biblioteca Pública da Madeira, não retornando às origens. No antigo edifício da Rua da Carreira, este valiosíssimo acervo “esteve tempo demais”, exposto a condições menos favoráveis para o seu imenso valor histórico e documental.

“Vamos trabalhar é com os ficheiros digitais, que darão acesso das pessoas às imagens”, diz. Nas remodeladas instalações, haverá uma sala de consulta digital, onde as pessoas poderão ter acesso às fotografias captadas pelas quatro gerações da família “Vicentes”.

“Teremos uma sala onde as pessoas poderão ter acesso a esse banco de dados, e imediatamente se encomendar as fotografias”. Uma vez escolhidas as imagens pretendidas, o Museu vendê-las-á, já impressas. Os interessados poderão escolher as fotos “in loco” e também poderão comprá-las online. Os proventos dessa venda, segundo os procedimentos da administração pública, retornarão à Secretaria das Finanças. Isso dará origem “a reinvestimento nos mesmos sítios… Este é um lugar que vai precisar de muito investimento”, para a sua manutenção.

As imagens, explica Teresa Brazão, serão de consulta livre. Só não será permitido retirá-las sem as comprar. As fotografias estão a ser colocadas num banco de dados que está online no ABM. Ali já existe uma quantidade grande de fotografias que pode ser consultada. É difícil prever quando todo o trabalho de digitalização a partir das chapas e negativos estará concluído. “Poderá levar anos, décadas”, estima a directora regional da Cultura.

Todo o trabalho que está a ser actualmente realizado não passa exclusivamente pela criação de ficheiros originais: muitas vezes a original placa de vidro tem de ser restaurada, diz Teresa Brazão. “Há umas que estão mais bem conservadas… Mas também há outras que estão mal conservadas. Uma vez digitalizadas, são organizadas por temas, por épocas”.

O edifício, no entender da artista plástica e directora regional, é um local de “muitíssimo interesse por motivos culturais e turísticos, na medida em que terá aberto ao público a parte do Museu propriamente dito, “o atelier Vicentes, que esperamos pôr em funcionamento, com captação de imagens e revelações de forma tradicional”.

O Museu de Fotografia, esclarece Teresa Brazão, apresentará não apenas espólio dos Vicentes, mas também dos fotógrafos Perestrelos, dos Figueiras, da Foto Sol, de Carlos Fotógrafo e de “muitos particulares, que têm vindo a doar não apenas as imagens, mas também máquinas fotográficas e outros equipamentos do género”. Será o Museu da Fotografia da Madeira.

Referindo-se ao previsível funcionamento desta instituição, uma vez reaberta, e dado o seu espaço limitado, a entrevistada refere que, se houver demasiada procura, “teremos de organizar grupos, de cerca de vinte pessoas de cada vez, para dar a volta ao Museu”. Os espaços “são exíguos, embora este seja um Museu de alguma dimensão. Os corredores são estreitos, não é possível acolher muita gente de cada vez”. Depois, o respectivo director, ainda por designar, irá organizar o “modus operandi”. Deverá ser escolhido por concurso público. “Neste momento, vão ser abertos dois concursos: um para director do Museu, e o outro para funcionários para o Museu”. Aproximadamente duas dezenas de funcionários operacionalizarão este Museu. A cerca de 10 funcionários, deverão vir somar-se outros dez, apurados através de concurso.

Promover-se-á ainda uma ligação efectiva às escolas, havendo uma importante ala dedicada a serviços educativos. “Normalmente, o que fazemos é requisitar pessoas ao Ensino, que depois organizam esses serviços [Educativos] num contacto permanente com escolas, com lares de terceira idade, às vezes com grupos de estrangeiros”.

De acordo com Teresa Brazão, o prazo previsto para a reabertura do Museu será para breve: está-se a pensar no princípio de Julho. “Ainda há muito trabalho a fazer. Vamos fazer o possível. Há muita gente empenhada nisto. Espero que se consiga”. Pode é não abrir todos os serviços de uma vez, mas por fases, “na medida em que um Museu, em termos de excelência, não é uma coisa que se faça de um dia para o outro”. Provavelmente, antes de estar totalmente operacional, em todos os aspectos e valências, passará ainda “mais um ano, ou seja, o Museu deverá estar a funcionar em pleno em Julho de 2020”.

O Museu incorporará ainda um espaço de cafetaria, que deverá ser dado à concessão de um privado, e que sem dúvida constituirá, como no passado, um lugar aprazível a lembrar as velhas tertúlias.

Teresa Brazão: o Museu deverá abrir em breve, mas apenas parcialmente. Deverá estar totalmente operacional em Julho de 2020.

 

A este espaço nunca faltaram interessados, Nos passados cinco anos, foi com esta imagem que os turistas que ali sempre acorriam se depararam: um Museu de portas fechadas e com ervas daninhas a crescer no interior. Em breve, o espaço renascerá devidamente remodelado.