Acidente da Ethiopian – haverá razão para temer o Boeing 737MAX8?

Foto do 737MAX8 irmão (ET-AVM), tirada em Tel Aviv no final de Novembro.

Mais um trágico acidente assola a aviação, e em particular parece ensombrar o novel Boeing 737MAX8. À semelhança do malogrado voo da indonésia LionAir, que acabou no mar no ano passado, este terminou fatalmente minutos após descolagem, sem chegar a atingir altitude significativa. Pelas imagens dos destroços, o elevado grau de fragmentação deixa a indicar impacto com o solo a grande velocidade, possivelmente fora de controlo. Não costuma coincidir, com falha de motor, mas pouco mais se poderá adiantar sem dados das “caixas negras”.

Segundo reporta a Lusa, a própria companhia revelou que foi reportada uma dificuldade pelos pilotos do ET302, já em voo, e indicada a intenção de regresso ao aeroporto de partida. É importante perspetivar que poucos factos se conhecem, a maior parte ecos de informação obtida de maneira não oficial, ou divulgada por entidades não acreditadas. Existe muito espaço para especulação, e este artigo não é exceção. É possível que em poucas horas sejam dados a conhecer eventos que possam dar um sentido totalmente diferente

Foram entregues 350 Boeing 737 da série MAX, e não parece haver registo de mais sustos similares em dois anos de operação. Clamores histéricos de que se assiste a uma recriação da situação que se viveu com os acidentes com o DeHavilland Comet (na altura inexplicáveis), ou o McDonnell Douglas DC-10 (abertura inusitada da porta de carga), ou o Boeing Dreamliner (baterias queimadas), não fazem sentido. Estes falhavam devido aos avanços tecnológicos que os caraterizavam. O Comet foi o primeiro avião de passageiros movido a jato, e as lições que foram tiradas após se estudar a fundo o acidente, e compreender o real motivo que o fazia desmantelar-se em voo, foram cruciais para a segurança de todos os modelos vindouros, e influenciaram os testes de certificação, obrigatórios ao dia de hoje.

O 737MAX8 nada tem de tecnologicamente inovador senão o motor CFM Leap, muito mais eficiente que o predecessor, sendo o mesmo que equipa também grande parte dos A320NEO.

Na década de 70, quando caiu um DC-10 da American Airlines, após se separar um dos três motores General Electric CF6, durante a descolagem, um responsável do governo americano pela área de transportes queria impedir todos os modelos equipados com o mesmo motor de voar. Um deles era o Airbus A300, o que levou o presidente da Eastern Airlines, ligar ao ilustre senhor e dar-lhe um berro. Mais tarde se concluiu que o motor se destacou por incumprimento dos procedimentos de manutenção por parte da própria American, e que o resultado catastrófico só se verificou por causa do mau desenho da McDonnell Douglas, posteriormente retificado. Com isto se quer demonstrar que decisões precipitadas, motivadas por medo, ou alvitre de decisores políticos, nada contribuem para a segurança da aviação.

As investigações de acidentes devem ser conduzidas com o propósito de contribuir para a segurança de voo.

A todas vítimas do ET302, R.I.P.