O papel do exercício nas doenças mentais em Portugal

Segundo o documento “Retrato de Saúde de 2018”, realizado pelo SNS (Sistema Nacional de Saúde), as doenças cérebro-cardiovasculares e o cancro são as principais causas de morte em Portugal. Quanto à qualidade de vida dos portugueses, esta é afetada sobretudo pelas doenças musculoesqueléticas, depressão, doenças da pele e enxaquecas.

Estima-se que cerca de 400 mil portugueses entre os 18 e os 65 anos sofram anualmente de depressão num grau bastante elevado, de acordo com a presidente da Associação Portuguesa Conversas em Psicologia. Já o último relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), denominado de Health at a Glance 2018, revela que 18,4% da população portuguesa sofre de doença mental, entre elas a depressão, ansiedade ou problemas com o consumo de álcool e drogas. Numa visão mais económica, em Portugal, a estimativa do custo total das doenças mentais é de 6,5 milhões de euros (3,6% do PIB).

A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima ainda que, em 2020, a depressão e a doença isquémica do coração sejam as duas principais causas não só de mortalidade, mas também de limitação das capacidades da população em geral.

 

Mas então, onde é que se enquadra o exercício e em quê que ele pode vir a ser útil para pessoas que sofram deste tipo de doenças que afetam tanto a sua qualidade de vida, travando esta tendência mundial?

 

Em traços gerais, existe uma influência positiva do exercício físico na promoção da saúde mental, contribuindo para a melhoria do humor e autoconceito, maior estabilidade emocional, controlo do stress e melhoria da função intelectual.

Especificamente, uma das hipóteses mais consensuais na investigação que explicam este fenómeno tem sido a das endorfinas. Estas são substâncias químicas utilizadas na comunicação entre os neurónios e o sistema nervoso que estão associadas à sensação de bem-estar, diminuindo assim a ansiedade e depressão, aumentando a sua produção com a prática desportiva. Embora hajam alguns estudos que não sustentam esta hipótese, é no entanto a mais consensual dentro das hipóteses fisiológicas.

Por outro lado, no que concerne ao treino, este deverá ser programado de acordo com as capacidades do indivíduo e com o próprio prazer que este retira durante uma sessão de treino, uma vez que o benefício psicológico será o resultado da interpretação mental da atividade pelo aluno como uma experiência agradável.

Se juntarmos todos os possíveis benefícios já explanados e adicionarmos a distração dos estímulos stressantes do “mundo exterior”, um maior controlo sobre o corpo, melhoria da autoimagem e ainda a potencial interação social positiva promovida pelo convívio com outras pessoas, o exercício pode ser uma forte arma de combate às doenças mentais, promovendo um bem estar geral.

Por isso, se sofre ou conhece alguém que sofra desta patologia, contacte um profissional, pois a prática do exercício poderá servir de ajuda no tratamento, tornando o processo de recuperação muito mais rápido do que o normal e possibilitando ainda obter outros benefícios para além dos que aqui referi.


 

Referências:

Ribeiro, S. N. P. (1998). Atividade física e sua intervenção junto a depressão. Revista Brasileira de Atividade Física & Saúde3(2), 73-79.

 

Werneck, F. Z., Bara Filho, M. G., & Ribeiro, L. C. S. (2008). Mecanismos de melhoria do humor após o exercício: revisitanto a hipótese das endorfinas. Revista Brasileira de Ciência e Movimento13(2), 135-144.

 

https://www.publico.pt/2018/11/22/sociedade/noticia/quase-quinto-populacao-portuguesa-sofre-problemas-mentais-1852004#gs.74hweOfr

https://lifestyle.sapo.pt/saude/noticias-saude/artigos/depressao-pode-ser-prevenida-com-terapia

https://observador.pt/especiais/numero-de-portugueses-com-depressao-dispara-43-mas-consultas-ainda-sao-so-15-minutos-para-dar-medicacao/