Mangas de 2,3 milhões de euros desmanteladas no Porto do Funchal por falta de utilização

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As mangas foram instaladas em 2010, uma nunca funcionou, a outra funcionou pouco. Os eventuais problemas técnicos e a taxa de utilização por parte dos cruzeiros, ditaram o fim. Foto Rui Marote

 

Com Rui Marote

As mangas do porto do Funchal, para desembarque e embarque de passageiros dos cruzeiros, adquiridas por concurso público internacional e montadas em outubro de 2010, deverão ser desmanteladas, apesar de não haver decisão oficialmente tomada e assumida. É praticamente inevitável. Uma das mangas nunca funcionou, a outra funcionou pouco. Foram investidos 2,3 milhões de euros, com formação incluída, mas a falta de funcionamento, seja por razões de taxa elevada de utilização, desencorajadora para os cruzeiros, seja por impedimentos de ordem técnica, foi decisiva para o previsível destino. Um investimento que se revelou, ao longo dos anos, sem retorno.

O objetivo de então estava virado para a celeridade no movimento de passageiros, num porto em franco crescimento, mas também em favor do conforto, motivos mais do que suficientes para que a aposta fosse observada como prioritária e de futuro. As mangas vieram e foram instaladas pela empresa espanhola ITP, vencedora do respetivo concurso, com sede em Barcelona e com uma larga experiência de 30 anos na matéria, em países como Espanha, Itália e Marrocos. Os técnicos ainda vieram duas vezes à Madeira, no âmbito do que estava contratualizado dentro do prazo de garantia, a inauguração esteve para acontecer em janeiro de 2011, depois em março do mesmo ano, mas nada.

Aventavam-se várias hipóteses, os problemas técnicos ganhavam consistência, o projeto parecia condenado pouco tempo depois do investimento. O tempo foi passando e a empresa, a dado momento, descartou responsabilidades em função de já estar fora do período consignado de supervisão e responsabilização da obra. Além de que, rezam as publicações da altura, a ITP avançar que nunca tinha sido comunicada qualquer anomalia que justificasse nova deslocação dos técnicos à Região. Nem tão pouco a APRAM chegou a levar o caso aos tribunais, acabando por ficar com a obra de pouca utilização, sendo que a Região nunca seria ressarcida, sequer, de parte do que investiu. Nem houve retorno. Era então diretor do Porto Bruno Freitas, ali colocado pela secretária Conceição Estudante, que tinha à época a tutela dos portos da Região.

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As mangas iriam permitir mais conforto e celeridade no desembarque de passageiros dos cruzeiros. Foto Rui Marote

A Ingenierias Tecnicas Portuarias (ITP) venceu a “corrida” do concurso público internacional, ganhou a uma empresa britânica. A obra tinha tudo para dar certo, a agilização no processo de circulação de passageiros dos cruzeiros, nicho de mercado que a Região vinha ganhando de forma crescente, como veio a confirmar nos anos subsequentes, até hoje, era deveras relevante do ponto de vista estratégico. Os argumentos então expressos pela APRAM, foram projectar e construir “tendo em conta a amplitude máxima e mínima das marés no porto do Funchal, “uma situação que garantirá a sua utilização em todas as alturas de maré”, sublinham fontes contactadas pelo FN.

Dizia, também, que “as estruturas permitiriam uma adaptação ao portaló dos navios e que poderiam se deslocar ao longo do cais da Pontinha”.

Uma maior celeridade no desembarque e embarque de passageiros, em segurança, inclusive para os passageiros portadores de deficiência, permitindo o desembarque na gare marítima pelo passadiço superior”. Eram estes argumentos muito fortes, que acabariam por justificar a instalação das referidas mangas, sendo que os exemplos verificados a nível internacional, permitiam, aos responsáveis, uma base de garantia de funcionamento que poucos imaginariam como resultado o dinheiro deitado fora.

As lideranças da APRAM, que sucederam à de Bruno Freitas, ficaram com o problema nos braços. Com duas mangas, envolvendo 2, 3 milhões com formação incluída, mas sem poder utilizá-las, continuaram a ser usadas “as suas velhas soluções de rampas manobradas com uma empilhadora, situação que até hoje se mantém”, dizem as mesmas fontes colocadas junto dos portos.

Em novembro de 2015, uma notícia do Funchal Notícias dava conta que “as mangas de acesso de passageiros aos navios de cruzeiro, no molhe da Pontinha, junto à gare marítima, não estavam a ser usadas “devido a problemas de ordem técnica, relacionados com o sistema de alimentação elétrica”. A Secretaria Regional da Economia, Turismo e Cultura, que tutela as infraestruturas portuárias da Região, avançou, então, ao FN, que “a situação está a ser acompanhada pela Administração dos Portos da Madeira (APRAM), entidade que “aguarda os orçamentos solicitados para o efeito”.

Contactado hoje o gabinete de comunicação da APRAM, a informação foi a de que “relativamente à situação das mangas, não existe, ainda, qualquer decisão tomada no sentido do desmantelamento das mesmas”.