Seleção de “pontos fortes” com treinador “inteligente” tem tudo “para dar certo” no Mundial, diz Higino antigo jogador do Nacional

Higino
O antigo jogador de futebol do Nacional, Higino, aponta como mais valias os jogadores jovens da seleção portuguesa que querem mostrar o seu valor ao mundo. Foto Rui Marote

Foi um dos valores madeirenses do futebol, jogador e adepto convicto do Nacional, foi ali que fez a maior parte da sua formação desportiva. Chegou a estar no Sporting, pouco tempo, tinha 14 anos, era muito novo para ficar longe de casa, mas podia ter sido um “pontapé de saída” para outros patamares. Podia, nunca se sabe. Tanto podia ter sido uma carreira nacional a um outro nível, ou até mesmo carreira internacional, como podia ter acabado com a carreira, diz com um olhar que a distância, hoje, permite. Tantos jogadores foram e não passaram de promessas, lembra.

Pés assentes no chão

Higino Gaspar, hoje com 51 anos de idade, casado e com dois filhos, nenhum deles inclinado para o futebol, é mais o basquete. Foi jogador profissional do Nacional, representou também o Felgueiras, chegou a ser chamado aos treinos da seleção, mas teve sempre os pés bem assentes no chão. Via o futebol e o que este podia dar, foi jogando e treinando, mas também avaliando, até que, um dia, sentiu que não iria muito mais longe, a razão foi superior ao coração, suficiente para deixar o futebol, por volta dos 27 anos. Umas lesões pelo meio aceleraram a decisão.

Nunca viu nessa saída um problema, encarou como uma nova oportunidade, voltou a estudar e foi de tal forma que atingiu o ensino superior. Olha para trás e conta, já, 20 anos de carreira como professor de Educação Física, sempre foi um objetivo. O futebol esteve, como deve estar, de passagem, mesmo quando não se dava conta disso. É uma questão de lógica das vidas, a do futebol e a outra.

Uma seleção com muitos pontos fortes”

Higino-Nacional
Uma das equipas que Higino integrou no Nacional, com nomes como Dino, o guarda redes Gilmar, William, Edmilson, Vieira, entre outros.
Higino Sporting
Higino conta, ainda no escalão de formação, com uma passagem pelo Sporting. Na foto temos, da esquerda para a direita, Sérgio, Futre, Higino, outro madeirense Zé António e Morato.

Numa visão virada para o Mundial da Rússia, que começa esta quinta-feira, 14 de junho, acredita que Portugal tem “uma boa seleção”, tem “um treinador inteligentíssimo”, uma equipa com “muitos pontos fortes”, com “jogadores jovens, que querem mostrar o seu valor ao mundo, como Bernardo Silva, Gelson Martins, Gonçalo Guedes, entre outros”. Está convencido que a seleção portuguesa pode chegar longe na competição, contando para isso “com um grande presidente da Federação e toda a equipa que dá apoio aos jogadores e aos técnicos. Há todo o trabalho que vem sendo consolidado ao longo dos tempos, de preparação para dar condições aos jogadores e para protegê-los de situações externas”, referindo-se aos acontecimentos que atingiram a equipa do Sporting e os jogadores selecionados daquele clube, de que Rui Patrício é o foco das atenções, mas que agora se estende a outros “leões” que estão na seleção.

A pressão é boa em qualquer área

Não compreende as atitudes de um presidente (Bruno de Carvalho) que “pensa mais com o coração do que com a cabeça. O clube sai prejudicado, mas o futebol português também”. Não é pela pressão, porque os jogadores estão sujeitos a grande pressão, Higino diz mesmo que “a pressão é boa em qualquer área de atividade. É claro que o futebol está constantemente a ser escrutinado, é mais difícil”. Mas mesmo assim, “temos tudo para dar certo na Rússia”.

Higino regressa ao tempo em que o campo era um centro privilegiado de atenção, ao tempo de jogador. Saíu cedo, explica que “há um tempo para fazer carreira e depois há um tempo para saber sair, não sei se fiz bem se fiz mal, mas decidi que já não dava mais para continuar, tive algumas lesões e sentia que algo estava a falhar. Decidi voltar à escola quinze anos depois. Estudei à noite, foi um período difícil, mas consegui”.

Diz que as pessoas, às vezes, “apostam tudo no futebol e quando chegam ao momento de sair, ficam um pouco sem soluções. Não queria isso para mim. Pensei muito, tive gente que me apoiou à minha volta e resolvi tomar outro rumo à minha vida. Foi, no fundo, o retomar de um sonho que sempre tive, que foi ser professor de Educação Física”.

Formação chega aos juniores e pára

Higino
“Não entendo como é que se trabalha tão bem na formação até aos juniores e depois disso não há um trabalho de ligação.”. Foto Rui Marote

Sobre a formação, reconhece tratar-se de um tema que envolve “alguma polémica”. Mas na generalidade, a formação, nos clubes da Madeira, revela trabalho, uns com resultados melhores do que os outros. Antes de mais, deixa um “ponto de ordem”, diz que em primeiro lugar “antes dos próprios filhos, os pais devem saber o que é a formação e devem estar bem informados”. Afirma que é importante formar um jovem em duas vertentes, a desportiva e para a vida, mas sabe que a prioridade dos resultados nem sempre permite o melhor aproveitamento. Além disso, avisa que “muitos pais são chamados pelo apelo de todos quererem ser Ronaldos quando sabemos que não é bem assim. É mais fácil enganar os pais do que propriamente os miúdos”, no meio da ambição, dos interesses de clubes e dos dirigentes. Os pais querem que os seus filhos vão para o Sporting, para o Manchester, mas para chegarem à equipa sénior têm milhares de candidatos e para isso têm que ser, no mínimo, internacionais”.

Nacional com cinco jovens

Admite que “os treinadores, também eles, melhor fomados hoje, continuam com a prioridade de ganhar” e afirma não entender como é que se trabalha tão bem na formação até aos juniores e depois disso não há um trabalho de ligação. Olha para o Nacional e aponta os cinco jovens que estiveram na subida do clube de regresso à I Liga, Olha para o Marítimo e vê menos, “pouco para quem trabalha tanto a formação”. Daniel Ramos é um grande treinador mas não lançou jovens. Sublinha que “há um grande investimento nos escalões de formação, faz-se um alarido com os campeonatos ganhos, mas depois chegam aos juniores e parece que o processo parou. As equipas seniores têm as competições nacionais e quando estão em dificuldades recrutam atletas de fora e não apostam nos madeirenses. Isso tem acontecido com o Marítimo e com o Nacional. Não estou contra o facto de virem jogadores de fora, o futebol faz parte do mundo global, mas acho que esse recrutamento deveria ser feito com outro rigor, trazendo jogadores mais jovens para incluir na formação e não recorrendo a eles num patamar competitivo acima, fechando as portas aos jogadores formados nos respetivos clubes”.

Jogo a jogo

Na bancada do Mundial, da Madeira com os olhos na Rússia, Higino está ao lado dos que defendem, intransigentemente, este selecionado de Fernando Santos, com um madeirense ao comando dentro do campo, Cristiano Ronaldo. Jogo a jogo, discutindo ponto a ponto, pode ser que seja a solução para encontrar o caminho que reforce um estatuto que Portugal leva para o Campeonato do Mundo, o de Campeão da Europa.