Do Parlamento dos Jovens para a Síria e para o Mundo

O que se passa na Síria tem que nos envergonhar a todos! A quase indiferença do mundo ocidental perante as imagens de terror e desumanidade vindas daquela zona do planeta diz muito mais sobre o “terrorista” que há em nós, do que das razões que alimentam o medo do mundo árabe!

As ciências naturais ensinam-nos na escola que o que torna a nossa espécie diferente de todas as outras é a racionalidade. Essa nossa característica dá-nos a capacidade única de empatizar com os outros, de percebermos o que sentem os outros, mesmo sem termos passado pelas mesmas situações. É essa capacidade de empatia que pode transformar o mundo! Se todos nós exercermos essa capacidade de empatizar, principalmente com aqueles que mais sofrem e que mais desfavorecidos e frágeis estão, temos a capacidade de fazer a diferença. Um conhecido provérbio Africano diz “se achas que és demasiado pequeno para fazer a diferença, é porque nunca passaste a noite com um mosquito”. Todos nós temos o dever perante a Humanidade de dar o nosso contributo, por mais pequeno que seja, para reduzir o sofrimento e dar novas oportunidades a todos aqueles que sofrem, não só na Síria, mas por todo o planeta! Se não o fizermos, então não existirá Humanidade, apenas uma espécie animal igual a tantas outras!

Infelizmente a Síria não é o único exemplo actual de situações extremas de sobrevivência. A Venezuela é um exemplo bem mais próximo de nós e novamente aqui, os comentários e conversas xenófobas e populistas de muitos dos nossos conterrâneos dizem muito mais sobre nós do que sobre aqueles que regressam às suas origens! Esse populismo tem levado a melhor em quase todos os regimes democráticos Europeus. Muitos políticos no desejo de uma eleição fácil e rápida vendem a sua alma ao diabo e alinham nestes discursos que desrespeitam a sua própria dignidade e a dignidade da sociedade que representam. Todos nós temos o dever de agir enquanto é tempo e devolver a dignidade às nossas democracias. Citando Martin Niemöller, símbolo da resistência aos nazis, “quando os nazis vieram buscar os comunistas, eu fiquei em silêncio; eu não era comunista. (…) Quando eles vieram buscar os judeus, eu fiquei em silêncio; eu não era um judeu. Quando eles me vieram buscar, já não havia ninguém que pudesse protestar”. Vamos garantir que agimos enquanto é tempo para salvar o Humanismo que queremos que caracterize as sociedades Europeias!

Durante os tempos recentes, e por esta e tantas outras razões, eu senti uma enorme desconfiança e desconforto no nosso sistema de sociedade. Foi assistir ao Parlamento dos Jovens que me voltou a dar a motivação, reconforto e vontade de continuar a acreditar e sonhar com uma sociedade melhor. Os dois dias de trabalhos do Parlamento dos Jovens ficou marcado pelo enorme talento dos participantes, mas ainda mais, pela sua vontade genuína de defender o que acreditam, de votar naquilo que acreditam e não de acordo com estratégias político-partidárias e por mostrar empatia pelos outros! Compete à minha geração e às gerações mais velhas que a minha estar à altura destes jovens e ajudar a construir um sistema onde jovens como estes possam continuar a dar o seu contributo assim de forma despretensiosa, livre e empática. Se conseguirmos isso, haverá sem dúvida razões para acreditar num mundo melhor! Razões para acreditar que haverá Humanidade no mundo e que situações como a Síria nem chegam a acontecer, mas que acontecendo não fecharemos os olhos e os ouvidos, durante vários anos, dessa vez!