Reportagem FN na Calheta: pescadores do Blue Marlin põem a Madeira no mapa do mundo

O comandante do “Blue Makaira”, Nuno Gonçalves, com a filha, Joana Gonçalves, apaixonados confessos desta modalidade de pesca. FOTOS FN

No Porto de Recreio da Calheta, quando a população ainda dorme, os aficcionados da pesca do Blue Marlin preparam a linha e as embarcações para mais um dia de pesca. Os comerciantes  da zona já conhecem este ritual e lembram ao FN que são estes aventureiros do mar que “põem a Madeira no mapa do mundo das grandes pescarias”. Um nicho a explorar melhor pela promoção turística da Madeira no exterior.

Ao Porto da Calheta, são exibidos exemplares de 200 a 400 quilos do chamado “rei dos mares” ou espadarte azul como também é conhecido por quem respira o mar e a pesca.

Sean Williams prepara o “Blue Makaira” para mais um dia na mira do pescado.

Pelas 08h00, Sean Williams prepara a embarcação “Blue Makaira”, com 1040 metros, para mais um dia na mira do Blue Marlin. É um dos muitos estrangeiros, de nacionalidade britânica mas a residir na América, que aportam na Calheta e que dinamizam este Porto entre meados de maio e meados de outubro. A embarcação está sob o comando de Nuno Gonçalves, um madeirense também apaixonado pela pesca, assim como a filha, Joana Gonçalves, de 15 anos, que está empenhada em  bater o recorde do mundo de juniores femininos na pesca do Blue Marlin.

Capturar o Blue Marlin, entre a adrenalina e a paixão pelo mar.

Há também outro dado curioso: o “Blue Makaira” é uma paleta de nacionalidades, como outras embarcações do Porto de Rcreio da Calheta. O proprietário é inglês, o comandante é português e o pescador principal tem passaporte inglês mas reside na América.

Sean Williams, com família nos Estados Unidos mas com bisavós com ligações muito antigas à Madeira,  classifica este de um “bom ano” de pesca do espadarte azul. “Isto é a minha vida”, comenta ao FN, ao mesmo tempo que vai enrolando a linha para futuras capturas. “O objetivo não é capturar muito peixe mas bom peixe”, explica com um indisfarçável brilho no olhar. Pele tisnada, olhos claros, mão firme na linha, Williams pede desculpa mas não pode interromper o trabalho enquanto conversa para a nossa reportagem. O tempo urge e há que aparelhar a máquina para seguir rumo ao horizonte. Com 42 anos de idade, pesca, ensina a pescar e vibra com as conquistas feitas em alto mar, apesar de também reconhecer que já enfrentou situações difíceis. Tudo superado com “o fascínio do mar” e as capturas que de vez em quando enchem olho.

Pouco depois, eis que chega ao Porto de Recreio da Calheta Nuno e Joana Gonçalves. Pai e filha entusiastas do Blue Marlin. O capitão do “Blue Makaira” nasceu no Funchal mas reside na Calheta desde os 4 anos de idade.  Com 47  anos de idade, Nuno é um apaixonado confesso da pesca do Blue Marlin e a filha segue-lhe com firmeza os passos.

Nuno Gonçalves está na atividade não pelo lucro mas pela paixão.

Charters de turistas suportam os gastos

Nuno Gonçalves está à frente da embarcação há dois anos. Ninguém pense que se trata de um negócio lucrativo. “O importante é cobrir as despesas”. Curiosamente, o  problema desta atividade prende-se com o facto de não ser o pescado que suporta as despesas mas os charters de turistas que procuram a Calheta para uma incursão pelos mares, na busca de boas pescarias. “A nossa base é pescar e libertar. O que fica em terra, distribuímos pelas instituições sociais ou pelos bombeiros. Os elevados gastos dets projecto são suportados basicamente pelos turistas que nos procuram para pescar”.

Alugar um barco como o “Blue Makaira” poderá ser uma experiência de meio ou um dia, no máximo 8 horas, podendo custar 1200 euros/dia. Antigamente, era maioritariamente o mercado americano a principal clientela, mas agora também os alemães e ingleses procuram a Calheta.

Nos últimos anos, admite Nuno Gonçalves, as autoridades regionais têm apoiado esta atividade. “Naturalmente que gostaríamos que apoiasse mais, mas também compreendemos que têm de acudir a muitas solicitações”.

2017: captura de espécie de 446 quilos

A 4 de julho de 2017, a grande captura do Blue Marlin, feita pelo “Blue Makaira”, foi de uma espécie de 446 quilos, integrada numa das provas do campeonato mundial. Foi pescado entre o Jardim e o Paul do Mar a poucas milhas da costa. Nuno explica que está é a grande vantagem desta actividade na Calheta. “Mal saímos do porto e já estamos a pescar, contrariamente a outras zonas do mundo em que é preciso dobrar muitas milhas para começar a pescar”.

A manhã avança segura e firme e há que se fazer ao mar. O pescador bem sabe que o tempo urge. Nuno Gonçalves confessa ao FN que o seu maior sonho “é manter isto a funcionar”, enquanto conseguir. Acabar a época com os custos pagos já é muito bom. “Não estamos aqui para ter lucros, porque não é fácil fazer disto um negócio lucrativo, mas por gosto ”.

O que se segue, é o ritual de todas as manhãs: motores a trabalhar e mar, mar por descobrir, na mira do Blue Marlin. Um “mar salgado” como diria Fernando Pessoa, fonte de dor e de glória.