
Sexta feira é dia gordo na Praça do Funchal, no Mercado dos Lavradores. Mas também é dia de muitos curiosos se juntarem para apreciar o movimento de quem vive desta atividade. Mas, comprar, é mais no supermercado. A afluência é sobretudo para o espetáculo, porque a clientela que compra é a habitual.
Pedro Gonçalves é já um ícone da Praça. A palavra é disparada sem filtros e os clientes conhecem-lhe as agruras e as recomendações do homem que percebe bem o que está a vender. À reportagem do Funchal Notícias, enquanto corta o farto atum, arremessa com a primeira picardia: “Nunca vi tanto atum na Madeira como nestes meses de janeiro, fevereiro e março”. Fala a voz da experiência. Paradoxalmente, a tabuleta indica um preço que escalda o bolso do cliente, 12,50 euros, atum cortado ao quilo. Pedro vem em defesa da casa quanto ao preçário: “O peixe está a morrer mas a partir de 50 quilos vai para a exportação. E nestes negócios ditados por quem pode, não podemos interferir. Só cumprir”.

Os supermercados vendem tudo
Mas ainda há outros fatores a concorrerem para encarecer o preço. “Nem toda a gente tem tempo nem dinheiro para parar na Praça. Os supermercados estão abertos até às 23h00 e nós até às 15h00. Naturalmente que os supermercados vendem tudo.”
Além do atum, o peixe espada preto abunda todo o ano e a venda está sempre garantida. Noutra banca, outros histórico da Praça jogam ao cassino com amigos. Cartas para trás e para a frente, piropos pelo meio e o balanço final: “Caramba, desta vez não fiz pontos”. Está como na banca. Faltam os clientes para comprar o dito “peixe bom” que tem para vender e com ótimo aspeto. As palavras do nosso interlocutor, desta vez, são mais ponderadas e o discurso mais telegráfico. “O Passos Coelho não mandou o povo emigrar? Os resultados começam a aparecer. Telefonem-lhes para voltarem”.

Uma coisa é certa: com ou sem lucro, os homens que vendem na praça não perdem o humor nem os piropos aos clientes, alguns habituais a caras conhecidas mas também aos turistas que vêm tirar os retratos para memória futura. Um dos vendedores não resiste: “Em vez de gastar alguma coisa na Praça, vêm fazer o boneco. Está certo! E nós, com os bolsos vazios, sempre a sorrir para eles, para o turista voltar à Madeira”.
