Caçadores lançam petição online para repovoamento do Porto Santo com coelhos-bravos

A secretaria do Ambiente prepara o repovoamento do coelho bravo na ilha dourada.

Apesar de não agradar a todos tal solução, o repovoamento do Porto Santo com coelhos-bravos está na ordem do dia e, entre detractores e apoiantes, e enquanto o tema é debatido e o Instituto das Florestas e Conservação da Natureza se prepara para avançar com o repovoamento, os caçadores mobilizam-se para levar a bom porto o que entendem ser a melhor medida.

Nesse sentido, movimentaram uma petição para o “repovoamento urgente de coelho-bravo na Ilha do Porto Santo”, dirigido à secretária regional do Ambiente e Recursos Naturais, Susana Prada. A petição aproxima-se, actualmente, das duzentas assinaturas.

Diz o texto da mesma que, “à semelhança da actual situação “negra” que o coelho bravo atravessa na Península Ibérica, onde, inclusive, já estão a ser tomadas medidas para salvar esta espécie fundamental no equilibrio do ecossistema terrestre (consultar http://www.soscoelho.pt/?page_id=8), o mesmo está a acontecer na Região Autónoma da Madeira, com maior intensidade na ilha do Porto Santo”.

“Nos últimos anos, a ilha do Porto Santo tem sido afetada por doenças que dizimaram as populações de coelhos bravos, principal espécie cinegética da região. No ano de 2012, esta ilha foi atingida pelo vírus da mixomatose que provocou uma enorme mortalidade destes animais, o que levou a crer a muitos, que estes estavam extintos no Porto Santo. Recentemente, a mortandade que se verificou no final de 2016, nos coelhos do Porto Santo, foi provocada pela variante tipo 2 da Doença Hemorrágica Viral (DHV)”, refere a petição.

No documento, considera-se que “uma vez que:
– Os últimos censos realizados na ilha do Porto Santo, com o objectivo de verificar o estado evolutivo da colónia de coelhos bravos, confirmaram que esta nova variante do vírus da DHV matou cerca de 98% da população então existente;
– o coelho-bravo é uma espécie basilar nos ecossistemas, sendo a presa fundamental e preferencial para a maior parte dos predadores, incluindo várias espécies com elevado estatuto de conservação;
– o coelho-bravo é uma espécie com elevada importância socioeconómica, sendo a espécie de caça menor preferida dos caçadores, gerando receitas muito significativas para a economia local;
– o coelho-bravo é a principal espécie cinegética da região e faz parte da cadeia alimentar de outras espécies;
– os coelhos-bravos fazem parte do ecossistema do Porto Santo há mais de 600 anos, desde os descobrimentos;
– sendo o Porto Santo uma ilha habitada, com tradições cinegéticas enraizadas, e portanto, a necessidade de conciliar a conservação da natureza com a atividade cinegética;
– os efeitos de uma depressão súbita de coelho-bravo são, na realidade, muito mais profundos, afetando toda a biodiversidade e funcionamento do ecossistema local, nomeadamente a estrutura da paisagem, diversidade de flora, densidade e diversidade de outras presas, entre outros;
– na falta de coelho bravo, a pressão cinegética e predadora (espécies carnívoras locais) será maior sobre as outras espécies, nomeadamente, sobre a perdiz vermelha e a codorniz, o que levará a um total desequilíbrio da fauna e da flora local.
Face ao exposto, surge a necessidade urgente de proceder ao repovoamento de coelho-bravo na ilha do Porto Santo, coelhos estes, oriundos da ilha da Madeira (…)”.

O repovoamento do coelho-bravo no Porto Santo é motivado pela extensa mortalidade que afectou a espécie, na sequência de um surto de Doença Hemorrágica Viral, altamente contagiosa entre os coelhos.

Porém, a solução não é vista com bons olhos por todos. Há quem considere absurdo introduzir coelhos no Porto Santo, “só para alguns darem uns tirinhos”.

Por seu turno, José Rosado, antigo delegado do Governo Regional no Porto Santo, veio a público em Janeiro deste ano para lembrar que há três ou quatro anos, quando se colocou a hipótese de repovoamento do Porto Santo com coelhos, a resposta foi de que tal estava fora de questão. E considerou que “trazer coelhos de qualquer outro local quando os de cá ainda vivem é ‘crime’ igual à largada de coelhos das cores do arco-íris (…)”. Rosado sustenta que o coelho do Porto Santo tem características especiais, adaptadas ao ecossistema.

A Associação de Caçadores da Madeira e Porto Santo, a Associação de Caçadores do Porto Santo, a Associação de Caçadores da RAM e o Clube de Tiro Caça e Pesca da Madeira “apoiam sem reservas” o repovoamento com coelhos de fora da ilha do Porto Santo, conforme o FN já noticiou.

O presidente da Associação de Caçadores da Madeira e Porto Santo, Joaquim Sousa Lino, entre outros, tem movimentado a supracitada petição.