A Energia e os Homens

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Há cerca de um milhão de anos, o Homem friccionou duas pedras fazendo-as faiscar. Acabara de descobrir a forma mais elementar de energia. Mais tarde, domesticando animais, usou a sua força como fonte de energia no trabalho agrícola e, nos transportes. O vento foi a forma de energia que a seguir aprendemos a manusear. À máquina a vapor e à electricidade, duas invenções do séc. XVIII, juntou-se-lhes, no séc. XIX, o motor de explosão. O avanço científico do séc. XIX mudou o Mundo e garantiu uma notável melhoria das condições de vida dos Humanos. Descobriu-se a utilidade de um bem conhecido desde a pré-história, o petróleo. Nunca tivera “mercado”, aquele líquido negro e viscoso. Como acontecera com os animais domesticados – cavalos em particular – que ajudavam em tempo de Paz e iam à Guerra, os motores de combustão também substituíram os animais nas duas vertentes.

Barato e abundante, o petróleo foi, face ao incipiente consumo inicial, tido por bem inesgotável, mas desde logo foi encarado como bem estratégico para os poderosos que, imediatamente, trataram de apoderar-se dos territórios onde ele abundava. O consumo disparou. As duas Guerras Mundiais no séc. XX, mostraram à exaustão a importância desta fonte de energia. A ambição Humana é legítima, mas tal como o petróleo, não é (não pode) ser ilimitada. A ciência é amiga, mas nós Humanos, como fizemos com os cavalos, pomo-la ao “serviço do mal”. Lise Meitner encontrou explicação física para fissão/fusão nuclear no seu laboratório de Berlim, em 1939, resultado do seu trabalho conjunto com Otto Hahn. A fissão/fusão nuclear pode merecer aplauso ou repúdio, depende da utilização e, também das suas consequências. Feitas experiências em Almogordo, os EUA usaram a nova arma – e que arma – contra o Japão em 1946.

Nova forma de energia estava encontrada e experimentada, com sucesso militar e muito sofrimento Humano. Se o Homem, na sua aventura planetária, se habituara a formas de energia – força dos animais que domesticara, e vento – começa agora a sentir a necessidade de parar para pensar. Os recursos energéticos, por um lado, não são ilimitados e, por outro, trazem riscos nada despiciendos. Finda a guerra, em 1951, os EUA efectuaram explosões nucleares no Nevada, com consequências sobre as populações que, só há pouco foram tornadas públicas. A 26 de Abril de 1986, em Chernobyl, uma central nuclear destinada a produzir electricidade, explodiu. Em Março de 2011, em Fukushima no Japão registou-se o maior desastre nuclear até ao momento. O Japão já lhe conhecia os efeitos, mas desta vez houve um contributo externo não dependente dos Homens. O terramoto, escala 9, seguido de tsunami, substituíra o Enola Gay – nome do avião – que fizera cair a little boy – o nome americano para bomba – sobre Hiroshima. Estes brinquedos dos poderosos não podem ficar-lhes entregues, como se nada fosse connosco. Finda a 2ª guerra Mundial EUA e URSS dividiram-se quanto ao uso da nova arma, tendo os Russos, durante anos, na guerra da propaganda, chamado assassinos aos Americanos. A mesma energia, despida da componente bélica, provocou duas explosões, uma – Chernobyl, 1986 – ainda em tempo de URSS e no seu território, outra – Fukushima, 2011 – no Japão, fez sofrer os Seres Humanos. Os efeitos devastadores, sejam bélicos ou não, impõem-se-nos sempre. Vá lá saber-se porquê, a comunicação social liga pouco a estes temas mas, erradamente, nós também preferimos não ligar nem interiorizar estas agruras da vida, preferindo as frivolidades intrínsecas à propaganda dos Poderosos sob a forma de futebol e/ou novelas.

A Ciência avançou, mas não nos garante o domínio absoluto sobre o Planeta como insinuam os que mandam. Recurso que inicialmente tinha baixo custo de exploração, o petróleo, foi apesar de tudo, sempre usado como arma política, tendo o seu preço um grande peso nas oscilações do sistema financeiro. Hoje, o sistema financeiro manda em tudo e, começa a ser excessivamente perigoso. A energia continua essencial, mas certas técnicas de extracção de petróleo não colhem apoio na Ciência pelos danos que causam ao Planeta. Ao nuclear, apesar de cientificamente aceite, já lhe vimos as consequências em Paz e em Guerra. Não podemos confiar nos poderosos que, no alto da sua ambição, colocam os negócios muito à frente do sofrimento Humano.

Avisados andam Portugueses e Espanhóis, juntos a propósito de Almaraz. França teve um acidente numa Central Nuclear. Pergunto: Na Madeira, face à sensação de que algumas normas de segurança – falo pelos jornais – estão a sofrer “interpretações hábeis” na Medicina Nuclear, em caso de acidente, haverá alguém responsável?