Rui Marote
Passos Coelho é um líder partidário com ‘guia de marcha’, e saída para a companhia de adidos. Saiu o tiro pela culatra ao PSD-Madeira ao convidá-lo para a abertura do seu congresso.
Na história do PSD-Madeira, por mais de uma vez a palavra ‘convite’ ficou na gaveta, erguendo-se o estandarte ‘orgulhosamente sós’. Os madeirenses não esquecem o garrote que Passos Coelho colocou ao pescoço deste povo ilhéu.
O PSD-M até tinha uma desculpa airosa: o PSD-Açores realizava o seu congresso nos mesmos dias. Passos Coelho, esse, utilizou a fórmula dois em um, como shampoo e amaciador. Na Madeira, abriu o congresso, e nos Açores, hoje encerra. Faz lembrar a despedida de apresentação de cumprimentos da altas patentes, quando encerram os seus mandatos.
Mas vamos ao discurso: – Se eu fosse primeiro-ministro, os madeirenses teriam o hospital, estava escrito. Mas, senhor líder a prazo, está enganado. Os madeirenses não querem novo hospital, esta é uma falsa questão que continua a ser utilizada como bode expiatório, para esquecer outras prioridades.
Queremos, sim, que os actuais hospitais funcionem, que haja medicamentos, fraldas, que os aparelhos de diagnóstico funcionem, que haja elevadores que estejam operacionais, enfim, uma lista sem fim de problemas a ser resolvidos. Temos bons médicos, basta dar-lhes as ferramentas e impor regras.
Será que os único hospitais “velhos” só existem na Madeira? Eu estava em África quando o hospital da Cruz de Carvalho foi inaugurado. Já passou meio século. Será que podemos chamar velho a um edifício com 50 anos? Recordo a cartinha que a minha mãe me escreveu: “Filho, foi inaugurado o novo hospital. Parece um hotel, até tem telefonia nos quartos!”
Deixem-se de balelas: o povo está cansado de tanta mentira. Ao longo das últimas décadas temos assistidos a “melhoramentos”, se é que lhes podemos chamar assim, no bloco operatório e noutras áreas. Quero aqui recordar o Dr. Buller, já falecido, a quem passaram a chamar médico engenheiro, com as obras intermináveis nos blocos operatórios.
Mas vamos entretanto o povo com esta história do novo hospital, uma lenda tipo D. Sebastião, o desejado.
O que o povo quer saber é quanto já se gastou em estudos e projectos? Quanto custaram os terrenos expropriados em Santa Rita? E o que é que ainda está por pagar?
A novela continua sem fim à vista.
Até lá, vão continuar a faltar nos hospitais desde fraldas até medicamentos para a quimioterapia.
Os médicos “não fazem omeletes sem ovos”, por mais competentes que sejam. Falando há dias com um conterrâneo que levou um familiar ao estrangeiro para uma intervenção cirúrgica, o mesmo diz que o hospital onde esse familiar tinha sido operado tinha mais de cem anos. A diferença é que tinha condições… e regras. Funcionava.
Temos o ‘ovo de Colombo’ ao pé do Hospital, em terreno da Região, a custo zero. Basta transferir a Escola Dr. Horácio Bento de Gouveia para outro local. É mais fácil fazer uma escola num ano do que um hospital.
Nessa área nasceriam novas instalações hospitalares, ligadas por túnel e/ou ponte ao hospital Dr. Nélio Mendonça. Após a sua conclusão, iniciar-se-iam obras no antigo edifício, por pisos.
Quanto ao hospital dos Marmeleiros, pertença da Santa Casa da Misericórdia, era chegar a acordo para compra de terrenos, demolir e construir uma unidade para idosos com a vertente hospitalar.
Isto, é claro, é a receita de um leigo. Só aviso que se estamos à espera de Lisboa, vamos continuar a esperar sentados. Hoje oferecem 50 por cento, amanhã 20 por cento. É o preço que estamos a pagar pela autonomia.
Esta ‘química’ de Passos Coelho já não pega. Nos dias actuais, os políticos são uma classe amplamente caída em descrédito, e muito mal vista pela população, pelo mau uso de dinheiros públicos em muitos e muitos casos, neste partido, naquele partido… Entretanto, o povo ficou sem saúde, sem segurança, sem condições de vida.
Passos Coelho achou por bem usar o momento do congresso do PSD Madeira para ameaçar, de longe, a ‘geringonça’, tipo ultimato emitido para António Costa, a partir do Funchal.
Avisou que o seu partido não facilitará vida ao Governo da República, viabilizando medidas para resolver desentendimentos entre as forças que sustentam a criticada “geringonça”. Passos Coelho não falou da questão da TSU, mas deixou perceber que não haverá apoio parlamentar nesta assunto.
Onde está o sentido de estado deste político, que desde estudante já afirmava ter pretensões a presidente da República? A primeiro-ministro chegou, mas o povo madeirense diz-lhe basta… O seu sentido patriótico é apenas o de reduzir entendimentos a cinzas, como se o povo fosse um jogo de cartas que se baralha e dá de novo…