Um Bispo controverso passeando pelo Bazar do Povo

d-francisco-santana-1979A imagem transporta-nos para uma figura de outras épocas. Pode não parecer, mas estamos a falar daquele que foi Bispo do Funchal, D. Francisco Santana. O Prelado madeirense passeia tranquilamente pelas ruas do Funchal, mais precisamente junto ao emblemático Bazar do Povo, hoje convertido em bazar chinês. Como os tempos mudam!

 

O registo fotográfico é curioso também pela circunstância de não ser nada habitual ver um Bispo da Diocese do Funchal circular descontraidamente pelas ruas da cidade onde exerce o seu magistério. Mas não só. Circula com evidente curiosidade pela montra do Bazar, mãos atrás das costas, qual um simples transeunte que contempla a sua cidade ou o seu rebanho.

 

D. Francisco Antunes Santana foi um Bispo controverso que exerceu a sua missão entre 1974 e 1982. Para uns, uma figura culta e humana do clero, mas para outros um exemplo da submissão ou cumplicidade perigosa entre o trono e o altar. Hoje, há quem considere que D. Francisco Santana poderia ter feito um trabalho de maior abertura das mentalidades no sentido de formar um espírito mais democrático e crítico. Aliás, recentemente, o atual Bispo, D. António Carrilho elogiou as qualidades humanas do seu antecessor, mas o professor universitário, hoje aposentado, André Escórcio, veio a público, no seu blogue, em 2011, dar testemunho da sua experiência: “Ora, eu, como tantos, que conhecemos a História, pelo contrário, entendo que D. Francisco Santana foi  um dos culpados pela situação política que enfrentamos, pelo condicionamento social e pelos constrangimentos da liberdade e da vida democrática culta e plena. E estou à vontade para o dizer, porque Sua Excelência Reverendíssima o Senhor Bispo do Funchal, D. António Carrilho não é mais Católico do que eu nos princípios e valores que emanam do Evangelho, da Palavra de Cristo. Pode ser, indiscutivelmente o é, na prática, pela Sua função, nunca nos valores e no pensamento acerca da Vida e da relação com os outros. Somos iguais. Pode D. António Carrilho falar de um dos seus antecessores como um homem de “bondade e de valores humanos invulgares”. Fica-lhe bem e até acredito que sim. Não tenho dados que provem o contrário. Do ponto de vista político, alto, Senhor D. António, o Bispo Santana tem muitas e muitas culpas no cartório por tudo quanto fez e por tudo quanto não fez por uma sociedade livre dos homens e dos políticos que dela se servem. Eu tenho-o bem presente, pois acompanhei o seu Apostolado desde que regressei da guerra na Guiné (Agosto de 1974) até aos seus últimos dias (1982). Lembro-me do que se passou, das claras indicações de sentido de voto e da sua ligação ao poder liderado pelo PSD. Eu diria que a Palavra foi utilizada mais no plano político do que no plano de uma sociedade com valores, liberta seja lá de quem for (…)”

 

A missão de D. Francisco Santana ficou também marcada pela não menos polémica e insolúvel, até aos dias de hoje, da suspensão a divinis do Padre Martins Júnior. Um assunto que mereceu também o comentário do ex-deputado e dirigente do PS/M, e professor universitário aposentado, André Escórcio: “Numa Missa pelos prelados já falecidos, há tantos e tantos que deixaram uma marca de doação aos outros, de trabalho, muitas vezes não reconhecido, trabalho anónimo, que merecem a nossa vénia e a nossa lembrança como exemplos de vida, de desprendimento, de sacrifício e de entrega à solução dos problemas sociais. Que D. Francisco Santana tem essas qualidades, pois que sejam enaltecidas, mas quanto ao seu passado político seria de bom senso um certo ou total resguardo. A suspensão “a divinis” do Padre Martins Junior constitui, apenas, a ponta de um profundo icebergue”.

D. Francisco Santana faleceu a 5 de março de 1982, vítima de doença prolongada.

 

 

D. Francisco Antunes Santana (19241982) foi um religioso católico portugues, Bispo do Funchal entre 1974 e 1982, precedendo D. Teodoro Faria.

Faleceu em 5 de Março de 1982, vítima de um cancro.