Das várias recordações boas que guardo da minha juventude estão, regra geral, relacionadas com o mar. Dias divertidos, passados a dar mergulhos e outras brincadeiras em águas límpidas e cristalinas de tom azul esverdeado.
Por isso, quando confrontada com o facto de que, quatro das seis praias de Portugal com classificação de “má qualidade” estejam na Madeira, pergunto como é possível? Arrepia saber que não sobrevivemos sem o turismo, mas sejamos capazes de negligenciar o cuidado que devem merecer o mar e a natureza, ao ponto de “permitirmos” que alguns dos que nos visitam, possam captar imagens menos abonatórias.
Seria, aliás, interessante conhecer o teor dos comentários que os turistas deixam nos hotéis sobre estas situações. Não é compreensível vivermos rodeados de mar, mas impossibilitados de o desfrutar em condições higiénicas seguras.
Estamos a falar de um problema muito sério, frequente e que, não me parece que esteja a ser tratado com acuidade, eficácia e competência necessárias.
Vejamos um exemplo de como não há o empenhamento necessário. No dia 4 de julho de 2014 – portanto, há precisamente um ano – o Instituto de Administração da Saúde (IASAUDE) interditou a banhos a Praia do Gorgulho, no Funchal, devido à presença de microorganismos patogénicos. A Câmara do Funchal fez então saber que iria abrir um inquérito para apurar as razões da poluição. Passado um ano, alguém conhece o resultado desse inquérito?
Tem faltado vontade para resolver uma parte deste problema sério. Sim, uma parte, apenas, porque a poluição das nossas águas está relacionada com as Estações de Tratamento de Águas Residuais (ETARs), algumas inoperacionais por falta de manutenção. Proporcionam um tratamento primário em que as águas apresentam ainda as características poluidoras iniciais, muito longe do tratamento terciário, mais eficaz e com desinfecção associada. Convém lembrar que após os tratamentos, as águas são lançadas em zonas profundas, através dos emissários submarinos, muitas vezes sem o tratamento adequado.
Paralelamente, ocorrem as reincidentes e crónicas descargas de águas e esgotos para a nossa costa, de que se ouve falar há alguns anos, mas que ninguém consegue travar. Sabemos uma coisa: tudo isso é de uma enorme irresponsabilidade e há que dizer basta a estes “crimes” ambientais.
O Mar é um recurso natural com um activo económico incomensurável. Paradoxalmente, sendo a Madeira um arquipélago, o Mar nunca foi considerado de forma expressiva como uma oportunidade geradora e impulsionadora de actividades económicas importantes. O actual Governo, também não apresentou no seu programa, uma estratégia para o Mar. É essencial tomarmos consciência do seu potencial e reconhecer o Mar como um activo que utilizado com respeito pelas políticas de sustentabilidade, poderá contribuir, consideravelmente, para a economia regional.
Os sectores relacionados com o Mar, surgem como oportunidades de iniciativas empresariais com elevado potencial inovador e geradores de emprego. Contudo, todas estas constatações só poderão ser uma realidade se, a água do mar não estiver poluída, o que, infelizmente, não é o cenário actual das nossas águas do litoral sul.
Está na altura das autoridades com responsabilidade nesta matéria cumprirem com a legislação, reforçarem as acções de fiscalização, de monotorização e de, sem preconceitos, avaliarem e informarem com transparência o estado das ETARs, porque afinal, já não é mais possível continuar a tapar o sol com a peneira.
Impõe-se acabar com as negligências e recuperar a qualidade do nosso Mar!!!