Funchal Notícias – Estamos perante o seu regresso à administração do hospital, 20 anos depois. Como encontrou a “casa” após a gestão do seu antecessor?
Mário Rodrigues – Encontrei essencialmente um certo mal-estar, uma tensão entre o pessoal.
FN – Está a referir-se a médicos, enfermeiros, funcionários…?
MR – No geral. Nestas organizações com esta dimensão isto generaliza-se facilmente. Havia de facto um mal-estar geral. As pessoas manifestaram até algum medo, medo de falar, o que não faz grande sentido, mas era assim que se sentiam e foi isso que me transmitiram.
FN – Tem sentido, então, a necessidade de pacificar o hospital?
MR – Exatamente. As pessoas manifestaram isso abertamente. Nem sequer foi por meias palavras.
FN – O que tem feito para alterar esse quadro de “medo” e “mal-estar”?
MR – Primeiro, e em conformidade com a minha maneira de ser, procurei ser mais cordato. Em segundo lugar, ouvir as pessoas e dizer-lhes que podiam fazer as reclamações que considerassem necessárias, sem medo.
FN – Regressa ao hospital numa altura em que ninguém esperava.
MR – Nem eu.
FN – Como aconteceu efetivamente esta nomeação?
MR – Aconteceu no dia 18 de dezembro, quando o senhor secretário me chamou ao gabinete para falarmos e convidou-me para assumir estas funções porque havia problemas de relacionamentos, de atitudes… Disse-me que a Dra Sidónia Nunes seria substituída e perguntou-me se eu aceitava ocupar o seu lugar. E, de acordo com o Estatuto do Serviço Regional de Saúde, quando sai o presidente, sai toda a equipa.
FN – Aceitou o lugar mas tem a consciência de que pode ser um líder de transição?
MR – Tenho sim senhora. Mas, se calhar, se não fosse um pouco nessa perspetiva, até podia nunca ter aceite. Eu tenho a minha vida e ela não é bem isto. As circunstâncias de há 20 anos, quando entrei cá, são hoje diferentes, não só pela idade, como pela disponibilidade física. Nessa altura, estava em dedicação exclusiva, se não fazia a consulta de manhã fazia depois, até às sete ou oito horas da noite, depois de tratar dos assuntos da administração. Foi precisamente essa presumível transitoriedade um dos motivos que me levaram a aceitar. Por outro lado, se um amigo, como é o caso, um colega, me pede ajuda porque está com determinadas dificuldades, eu não posso dizer que não. Agora, nunca me passou pela cabeça que era para exercer estas funções.
FN – Nestes meses, tem sentido alguma animosidade ou tem tido algum opositor?
MR – Não noto nenhum opositor. É natural que, quando, como foi o caso, se descomprime e se perde um “inimigo comum” e as pessoas descontraem, começa a aparecer as pequenas tricas de “capela” ou de “grupos”. Mas que haja um opositor à minha pessoa, não tenho conhecimento. Já falei com a dra Sidónia e o dr Miguel e não dei por isso. Pode haver pessoas que queiram vir para o meu lugar, porque isso há sempre, mas se há não me fazem oposição, pelo menos que eu me aperceba.
FN – Há várias questões da saúde na ordem do dia. Uma delas, por exemplo, colocadas pelo seu antecessor em entrevista ao Funchal Notícias, era a de que esta administração está a ceder aos lobbies privados, está a mandar para a privada doentes sem ter dinheiro para sustentar essa situação.
MR – O hospital não tem dinheiro nem capacidade de resposta. E, portanto, é preciso escolher. Eu li essa entrevista do dr Miguel Ferreira. A respeito de lobbies, a única coisa que posso dizer é que só tenho um lobby que são as pessoas que precisam do SESARAM e dos centros de saúde. É o único lobby que tenho e mais nenhum. Agora, o que a generalidade dos colegas sentiam, era que, à exceção das análises clínicas, o sistema não tinha capacidade de resposta, nem na radiologia, nem nos eletrocardiogramas, nem nas provas de esforço, nem em coisa nenhuma. São listas de espera de milhares de pessoas como tem sido divulgado. Isto aqui não tem nada a ver com lobbies mas de ceder ao lobby dos doentes que precisam de ser tratados. Não se está a desviar doentes do hospital para a privada. O hospital não tem capacidade de resposta e se não tem e tem milhares de pessoas em lista de espera, não há outra solução a não ser contratualizar com pessoas lá fora. Só o fizemos até agora em relação à imagiologia. O resto funciona a Convenção.
FN – Mas o Serviço da Imagiologia – responsável pela feitura de exames complementares de diagnóstico – tem sido um problema. O que se passa nesta área?
MR – O que nós fizemos, no princípio de janeiro, foi uma circular informativa para todos os serviços, terminando com a obrigatoriedade que havia, de que os doentes observados nas instituições públicas tivessem que fazer os exames nas instituições públicas. E não há capacidade de resposta para isso. Há apenas capacidade técnica, de máquinas instaladas. Temos duas máquinas de ressonância, uma delas de última geração, dois aparelhos de TAC, mas também precisamos de ter, e não temos, pessoas para trabalhar com elas. Portanto, por mais que custe ao dr Miguel Ferreira, é preciso assumir que não há capacidade de resposta. Não se pode esperar dois e três anos, como se esperava, por uma TAC, esperar ad eternum por uma mamografia… Não mandámos ninguém embora. Apenas dissemos que, a partir de janeiro, os colegas podiam, se assim o entenderem, requisitar exames nos centros de saúde ou no hospital para serem realizados fora e comparticipados nos termos da Convenção, porque continua a existir uma Convenção com a Ordem dos Médicos. Havia pessoas que muitas vezes me chegavam à consulta com TAC´s e ressonâncias feitas na privada, não comparticipadas, porque estava proibido, e preferiam gastar o dinheiro para não ter de esperar. Mas as pessoas também têm direito, de acordo a nossa legislação, de ser comparticipados pela Convenção, o que era impossível até janeiro deste ano. Com certeza que com isto também aliviamos a lista de espera internamente.
FN – Também é evidente que os custos aumentam para a saúde que já arca com uma grande dívida.
MR – Não aumentam. Está a ver o lado do gasto imediato. E quanto é vai custar não tratar estas pessoas?
FN – Então a sua lógica não é a economicista?
MR – Não é uma lógica economicista nem pode ser. Não se pode tratar a saúde como uma fábrica de pregos com o devido respeito para com as fábricas de pregos. Estamos a falar de pessoas, com necessidades, com angústias e que não podem estar sujeitos a certas coisas. Aliás, havia um concurso que o dr Miguel Ferreira tinha lançado na teleradiologia, para o continente, que todos os colegas diziam mal. Ficou deserto, ninguém concorreu. Achamos que, a fazer contratos de teleradiologia, deverão acontecer com colegas que temos na Madeira. Uma das principais queixas que os meus colegas tinham em relação aos exames da teleradiologia era que, para além de serem relatórios mal feitos, não correspondiam provavelmente àquele doente; além disso, os meus colegas da área da oncologia queixavam-se de que, quando tinham de tirar uma dúvida, não sabiam quem contactar, porque o exame nem assinado vinha. Agora, se forem os nossos colegas a fazer a teleradiologia, de acordo com o concurso que está agora em curso, evidentemente que sabem quem é e no caso de dúvidas são logo esclarecidas. Não encontrei até hoje uma pessoa que estivesse satisfeita com os serviços de teleradiologia que estavam a ser prestados. A diretora da radiologia e o responsável pela neuroradiologia foram por mim informados no início de janeiro que, se fosse necessário de fazer isso, teríamos de contratar pessoas da Madeira. Houve o problema da neuraradiologia que não havia resposta na Madeira, então passámos a ter consultadoria para o Porto com o dr Joaquim Cruz, sem problema nenhum. Inclusivamente, um colega da radiologia perguntou-me quanto é que se tinha gasto em teleradiologia e foram umas centenas de milhares de euros. E ele disse-me que deitámos metade desse dinheiro fora porque foi preciso repetir esses exames. Era um sistema que não funcionava. Estamos agora a tentar fazer as coisas com as empresas da Madeira que fazem ecos, mamografia, ressonâncias, TAC’s. O meu único lobby são os doentes.
FN – A Secção Regional da Madeira da Ordem dos Médicos aprovou na passada quinta feira, em assembleia geral, que a medicina privada tivesse acesso, com consentimento do doente, ao processo que tem no hospital, para evitar duplicação de exames. Vai permitir isso?
MR – Pessoalmente concordo. A internet é seguríssima nos tempos que correm. Foi uma luta que tive há 20 anos foi a informatização do processo clínico. A resistência à mudança era um facto. As pessoas tinham dificuldade em perceber que é mais seguro ter o processo informatizado do que andar a circular com papéis. O processo informatizado obriga a códigos, a autenticação, a informação não está disponível a todos os profissionais e, na verdade, antes de termos radiologia com o continente, já muitas das urgências de imagiologia feitas na Madeira eram com teleradiologia para casa dos médicos que, a partir daí, viam as imagens e relatavam. Não deixa de ser seguro e facilitaria o nosso trabalho. Aliás, seria uma medida com algum impacto económico, porque, muitas vezes em medicina privada, o doente nem sempre sabe os exames que tem, não sabe quando fez os exames e somos levados a pedi-los quando já poderiam ser vistos no sistema. Se tivesse ido a essa reunião da Ordem tinha votado a favor. Pode haver eventualmente um problema de constrangimento técnico porque aumentará os acessos aos serviços, havendo uma sobrecarga de consultas. Mas não é por aí. Já o fazemos para os centros de saúde e não vejo por que não estender aos consultórios privados. É bom para todos e vai-nos até poupar dinheiro.
FN – Há médicos que se aposentaram, ora desgostosos com a gestão hospitalar, ora por terem atingido a idade para tal. O Estado permite agora o regresso aos serviços destes profissionais. Como trata esta questão?
MR – Ainda não permite bem, mas o sr ministro já fez esse despacho.
FN – O Hospital precisa desses profissionais?
MR – Precisa, de facto. Há áreas carenciadas. Podemos fazê-lo de duas maneiras: um, prevista pela Caixa Geral de Aposentações, que é a suspensão da aposentação. Tivemos um caso de um colega que se aposentou em dezembro e abertamente se disponibilizou para voltar. Provavelmente não voltará, não pelo conselho de administração, mas por tricas entre colegas do serviço.
FN – Mas quem manda afinal?
MR – O problema não se coloca aí. Coloca-se no próprio colega que, vendo a resistência dos colegas do serviço, já não quer voltar. A outra situação, que já está resolvida, foi o regresso do dr Ricardo Alves à psiquiatria, que tinha pedido exoneração, assim como a dra Carla Mendonça, que também tinha pedido para sair e já não o faz, o que resolve o problema da psiquiatria. Também o problema de instalações já está resolvido. Podem visitar as unidades de apoio à saúde mental das Irmãs Hospitaleiras e Casa de Saúde São João de Deus. A Madeira tem neste momento uma capacidade de resposta de centenas de camas de internamento, quer em pedopsiquiatria, quer em psiquiatria de homens e mulheres, agudos e crónicos, que é de facto invejável. Temos também um colega de Vila Nova de Gaia que quer vir para cá trabalhar, com quem já falei também, mas nesta fase de transição não é possível decidir sobre isso.
FN – Como ficou o polémico controlo de assiduidade dos médicos?
MR- O controlo de assiduidade não é polémico mas a forma como queriam implementar. Na verdade, está parcialmente implementado. Ainda nem todas as classes profissionais estão a fazer o controlo biométrico.
FN – Portanto, passar o dedo para registar a assiduidade…
MR – Sim, o famoso dedo. Quando entrou aqui, estava lá em baixo a máquina com o registo. O pessoal de cá faz, da consulta externa e da entrada principal também passa o dedo. Mas não fazem todos porquê? Porque, segundo informação da área de pessoal, aqueles equipamentos têm de ter parâmetros das classes profissionais e números mecanográficos. Entre fim de dezembro e janeiro, fechámos com os sindicatos os acordos de empresa e os contratos de trabalho .Tudo isso foi alterado, porque a Assembleia Legislativa Regional tinha determinado em agosto que todos os serviços adotassem as 35 horas semanais, o que implicou a alteração de todos os horários. Estamos a falar de 4700 funcionários do hospital. A harmonização de horário só se conseguirá fazer em março e mesmo assim tenho dúvidas, porque estava a pensar nos trabalhadores a recibo verde. Portanto, não há uniformidade. Enquanto este problema não estiver resolvido, a área de pessoal não pode dar os parâmetros sobre fulano, número mecanográfico tal, entra e sai às tantas… Depois há outras questões polémicas: saber se a intenção é controlar as pessoas ao minuto. Há situações em que isso é fácil e razoável fazer-se, como o trabalho por turnos, trabalho no serviço de urgência… o turno começa às 20 e acaba às 08hs…um dos problemas que se colocou é que o dr Miguel não aceitava que o trabalho prestado em regime de prevenção contasse para esses efeitos e aqui já tínhamos um problema sério com os médicos. Embora as pessoas possam não entender bem isto, mas sei que isso se faz com boa vontade. Se apertamos muito ao minuto, a boa vontade também se perde, e isto tem consequências. Não se pode apertar e ser muito exigentes para um lado e depois querer a boa vontade do outro, as pessoas são humanas. Uma das consequências que daqui poderia advir era, por exemplo, um médico estar no bloco, por algum motivo haver um atraso, e dizer, então não opero o doente porque tenho de sair a horas. Não conheço nenhum hospital do continente que aplique o controlo biométrico nos moldes em que o dr Miguel queria implementar. Não estou a defender baldas, nunca o fiz há 20 anos nem agora, mas as pessoas não têm é que ser transformadas em mangas de alpaca. Portanto, o sistema não era prático e viável. Temos também cerca de cinco mil cartões de assiduidade que permitem obter a mesma informação sem causar certos constrangimentos.
FN – Como devem ser as equipas de cirurgia na urgência: exclusivas ou não?
MR – Já há países onde isso acontece. Não é uma utopia. O ideal seria ter pessoas formadas só em urgência, quem diz cirurgiões diz pediatras, internistas, etc… é um objetivo que é perseguido e não se atinge em 10 anos. É um trabalho altamente desgastante. Não temos recursos humanos para isso neste momento.
FN – Para a chefia dos serviços do hospital é preciso ter cartão do PSD ou o mérito?
MR- Que eu saiba isso nunca foi critério. Os critérios são de competência e a lei é clara nessa matéria, exigindo qualificação em relação às pessoas. Agora que tenha havido casos em que isso claramente não foi o que aconteceu em tempos recentes, onde se a lei foi secundarizada, infelizmente aconteceu. Mas não foi por cartão mas por outras razões.
FN – Qual é a situação da hepatite C na Madeira, não há controlo, não há dinheiro para a Região tratar estes doentes com o novo medicamento?
MF – A hepatite C na Madeira tem sido tratada na Madeira pelos médicos habituais e, tanto quanto é do meu conhecimento, à exceção de um doente que já fez novo tratamento, já foi transplantado e está bem, todos os outros doentes estão controlados e ficaram curados. Agora, tem havido este barulho todo à volta do assunto e, quem sabe que é portador do vírus, evidentemente e legitimamente não se põe com meias tintas e também diz que quer o tratamento. O nosso governo central, por ser ano de eleições, até disse que se iria erradicar a hepatite C. Eu estou cá para ver isso. Na Madeira, em diálogo com a infecciologia e gastroenterologia, e de acordo com as orientações clínicas determinadas, sabemos que temos 15 doentes que já cumprem as normas clínicas para fazer os novos tratamentos. Estes doentes estão identificados, não são doentes urgentes, estão controlados, e podem esperar uma ou duas semanas pelo tratamento, embora se perceba a ansiedade das pessoas. Tanto quanto sei através do sr secretário que esteve na última semana em Lisboa, foi acordado com o Ministério da saúde que os madeirenses fossem tratados como portugueses e não como oriundos de um país diferente. Isto é, os doentes são tratados pelos mesmos preços que custam os do continente. Não é barato. 15 doentes leva-nos para valores entre 300 a 500 mil euros. Mas, se for caso disso, vamos fazer um orçamento retificativo para acudir a essa despesa. Os doentes não vão ficar sem o seu tratamento.
FN – Qual é o ponto da situação das listas de espera? Consta que o número de cirurgias baixaram para metade comparativamente ao ano passado.
MR –Nas listas de espera, há que definir duas coisas: para situações graves ou prioritárias, não existe lista de espera. Lista de espera de casos não graves, embora possam ser incómodas, o maior número são as hérnias (mais de mil doentes), inguinais, abdominais, pedra na vesícula e outras, aguardam porque são preteridas por outras situações mais grave como tumores e outros casos que é preciso passar à frente. Temos talvez uns 3 mil doentes em lista de espera para a cirurgia, mas mais graves são os exames complementares, num número falado de 15 mil.
FN – Por que baixaram as cirurgias?
MR – Baixou porque o SESARAM está a fazer 4 novas salas de cirurgia em ambulatório, que deverão estar prontas o mais tardar em abril, e houve que desativar as que existiam. Houve uma série de intervenções, nomeadamente da oftalmologia que passaram para o bloco central. Como o sistema não é elástico, houve que fazer menos cirurgias. Mas a partir de maio volta tudo a funcionar em pleno.
FN – Quais os números das altas problemáticas?
MR – É um problema grave que interfere com a nossa principal vocação que é o tratamento de agudos. Tenos o quarto andar do Hospital dos Marmeleiros ocupado com as altas problemáticas. Mas há sempre candidatos. Só o quarto piso dos Marmeleiros é mais de 80, a juntar a outros que estão nos serviços do Hospital Dr Nélio Mendonça ultrapassa largamente a centena.
FN – A unidade da dor volta a estar independente da anestesia e passa para a direção clínica. Porquê?
MR – Por opção dos médicos da dor e a pedido deles próprios que apresentaram razões à direção clínica- porque lhes dá mais autonomia, ou seja, por mera questão funcional – que se considerou pertinentes e voltou a passar para a dependência da direção clínica. Não sei se algum dia se vai fazer ou não o serviço de medicina da dor na Madeira, como no continente. O dr Duarte Correia regressará à Madeira, após uns tempos no IPO, já pediu a sua reintegração. Vamos ver.
FN – Qual é a sua grande dor de cabeça no hospital?
MR – Do ponto de vista clínico, resolver o problema da imagiologia. Pôr aquele pessoal a se entender todo e a arrefecer os ânimos e a conseguir retomar a normalidade do funcionamento com os recursos humanos que temos. O que se passou é relativamente incompreensível. Até janeiro, estava tudo bem, as pessoas e equipamentos eram os mesmos, então o que mudou? Penso que este é um problema de pessoas. Na minha perspetiva, a melhor maneira é que as pessoas se entendam. Estamos a dar esse tempo para as pessoas se entenderem. A sra diretora de serviço demitiu-se, mandou para o conselho de administração a escala de urgência, o que é algo impensável. Foi de férias e estamos a dar tempo para que as questões se resolvam e, entretanto, a direção clínica assegura a gestão.
Por outro lado, os constrangimentos financeiros também nos preocupam mas isso é chover no molhado. Temos as restrições e limitações que são conhecidas.
FN – É defensor da construção do novo hospital?
MR – Sim, concordo com o novo hospital dadas as limitações da atual estrutura Mas o essencial das questões de saúde da Madeira não é o novo hospital. Pode ser uma boa bandeira política. A problema é repor os cuidados de saúde primários no seu devido lugar, que é o sustentáculo do sistema. Por aqui é que é preciso ter uma intervenção. Tenho andado pelos centros de saúde e as pessoas queixam-se de um certo abandono, falta de motivação, instalações degradadas. Tenho visitado unidades de saúde familiar em Lisboa e temos de dar esse passo em frente. Para tal, é preciso que haja apoio, quer da secretaria quer das direções técnicas do SESARAM. É necessário que os profissionais da medicina de saúde familiar sejam, apoiados e todo o sistema deve ser repensado.
FN – A urgência está em rutura?
MR – Não. Ainda hoje lá estive. Estamos outra vez, não com gripes mas com infeções respiratórias agudas, por parte de pessoas ativas, na casa dos 50 e poucos anos. Penso que tem a ver com este arrefecimento que houve e que atingiu estas pessoas.