FN- Durante a campanha eleitoral, vai pedir a Jardim para subir ao palco consigo, nos comícios?
MA – Neste momento, estamos a programar a campanha que será relativamente sóbria, porque no atual contexto, não faz muito sentido gastar milhões em campanhas eleitorais com artistas. Será uma campanha baseada no contacto com a população.
FN – Quem paga essa campanha?
MA – Quem vai pagar é o partido e as contas serão apresentadas. As contas são públicas.
FN – Voltando a Jardim, como vai gerir essa relação na campanha?
MA – Eu não tenho que gerir. Eu já disse que não sou seu tutor. É um militante relevante do partido e não fica inibido de exercer a vida política, cívica e a sua ação. Eu não tenho que fazer tutelas nenhumas.
FN – Mas se ele quiser aparecer consigo nos comícios, vai permitir?
MA – Eu não tenho nenhum complexo. As pessoas sabem muito bem que eu não estive do mesmo lado que ele nas últimas eleições em relação às propostas. Enquanto presidente do partido, não discrimino nenhum militante relevante ou não relevante. Todos, se quiserem participar, naquilo que são as nossas propostas para o futuro do partido, são bem-vindos. Não vou fazer aquilo que sempre critiquei aos outros.
FN – Tem alguma sondagem que lhe assegure a maioria absoluta?
MA – Eu não tenho nenhuma sondagem. Tenho a sondagem da rua. Acho que temos uma boa aura: a campanha interna, o pluralismo interno, os debates que se estabeleceram dentro do partido e a maturidade que os militantes demonstraram foram importantes para galvanizar a sociedade e o partido. O partido estava numa situação de entropia clara e neste momento acho que está galvanizado e tem expectativas relativamente à melhoria da nossa situação económica mas também cívica. E daí a importância que sempre pus à reforma do sistema político regional.
FN – Falemos do seu governo. Vai reduzir o atual elenco de sete secretarias?
MA – É difícil estar a dizer-lhe o que vai ser o governo. Eu acho que terá de ser um governo com uma componente política forte. O centro do debate político vai deslocalizar-se para o parlamento. O Governo irá com frequência ao parlamento. Mas terá uma componente também técnica para gerir áreas técnicas como a saúde e as finanças. Se ganhar as eleições, o Porto Santo ficará na dependência direta da presidência do governo porque as questões da ilha são transversais e é importante resolvê-las com celeridade.
FN – Vai manter a figura do vice-presidente? Jaime Filipe Ramos é um dos nomes indicados?
MA – Isso é tudo especulação. Vamos ver. Não lhe posso dar nomes. Ainda estamos a pensar. Não tenho nenhum nome para o governo. O único nome que tenho sou eu. Para já, só poderei falar, como já fiz, é da orientação estrutural do futuro governo.
FN – Fala muito dos transportes e com maior acuidade no turismo. O que pretende efetivamente? Fazer uma revolução nestas áreas?
MA- O turismo precisa neste momento de ter um maior peso político no governo.
FN – Mas já tem uma secretaria no governo para o efeito, agências de promoção…
MA – Quando falo de maior peso político quero dizer uma maior atenção política. É um sector com efeitos multiplicadores muito importantes para a nossa economia mas ao mesmo tempo tem algumas dificuldades. Conta com uma competitividade muito maior a nível do destino. Por exemplo, a Tailândia é o segundo destino das férias dos suecos, o primeiro é Canárias, portanto, está a competir diretamente connosco.. É fundamental melhorarmos quer as verbas quer a eficácia na promoção do turismo. É fundamental perceber que a indústria no seu todo precisa de uma requalificação, hoteleira e uma melhoria na própria formação profissional e na eficácia, ou seja, a as verbas disponíveis para a promoção. Por exemplo, o preço” room night” foi em média, em 2013, 34.09 euros; um preço muito barato que tem um efeito na degradação do destino. Em 2013, tivemos 6 milhões de dormidas e aplicámos em promoção só 3 milhões de euros, o que dá meio euro por “room night”. Se olhar para os Açores, para este ano, com 900 mil dormidas, terá 15,2 milhões de euros para a promoção. Também há que ter informação permanente sobre o que o turista vem aqui fazer, ter informação sobre os seus gostos, as suas tendências e ter maior eficácia no próprio marketing.
FN – Falemos do Parlamento que será um dos focos da atenção do seu governo, caso seja eleito. Diz-se que Cunha e Silva poderá ser o presidente da Assembleia. Isto é boato ou tem fundamento?
MA – É boato.
FN – Então quem será?
MA- Será quem os deputados decidirem.
FN- Temos um presidente da Assembleia que é visto por uma ala da sociedade madeirense como uma espécie de “rainha de Inglaterra”. Como vai inverter isto?
MA – Eu acho que é preciso olhar para o parlamento no seu todo. É óbvio que tem de ser prestigiado, ou seja, considerar o parlamento na sua essência e no quadro do Estatuto Político e da Constituição, porque é o alicerce da nossa autonomia e democracia. Daí a nossa proposta do reforma do sistema político regional que passa pela comparência do governo no parlamento, pela abertura das comissões especializadas à comunicação social, pelo respeito do estatuto da oposição, pela garantia de uma maior proporcionalidade de tempos de intervenção aos partidos em função da sua representatividade, pela redução do número de deputados, e pela redução já feita de 40% nas subvenções aos partidos, entre outras medidas. Há que promover um debate por ano, no parlamento, sobre o Estado da Nação. Temos é de pôr o parlamento a funcionar. Estamos a atravessar uma crise das instituições e se nada fizermos está aberto o caminho aos aos populismos de esquerda e direita. As pessoas devem acreditar num projeto, se bem que às vezes votam como protesto e aí há uma responsabilidade dos partidos em salvaguardar o sistema. A democracia tem muitos defeitos mas eu cá quero viver em democracia e não numa sociedade de ditadura ou com gente esquizofrénica a mandar nisto.
FN – O que vai fazer com os delfins de Jardim?
MA – Cada um vai dar o seu contributo. O Manuel António já faz parte do conselho regional e o Sérgio Marques trabalha no gabinete de estudos. Não vamos ter um partido a uma só voz. É bom o partido estar vivo, ter debate.
FN – E quanto a Cunha e Silva, o homem que mandou fazer auditorias à sua gestão camarária?
MA – São coisas do passado. Não guardo ressentimento. O Cunha é um militante relevante. Todos podem participar.
FN – Desculpe, mas isso não é mera retórica política?
MA – Não. Eu não tenho medo do confronto. Não vou ostracizar as pessoas porque isso não tem nenhum sentido.
FN – Não tem falado no desporto. Vai manter os apoios aos grandes clubes?
MA – Eu já falei do desporto. É certo que falei das questões que são prioritárias para a Madeira. Evidentemente, há um leque de atividades a serem consideradas que é a formação desportiva. Agora a formação desportiva e o desporto de alta competição têm de ser analisados num contexto fundamental que é: o dinheiro a aplicar tem que ser muito bem pensado e racionalizado em função das prioridades da Região. Vamos apoiar a formação desportiva, faz parte da formação integral dos nossos jovens, continuamos a ter alguns défices nessa área, mas em matéria de educação a minha prioridade é combater o desastre que é 27% de abandono escolar e os resultados escolares dos nossos alunos. Isso é que é fundamental para a Região onde se inclui obviamente o desporto.
FN – Mas os sempre polémicos apoios aos clubes?
MA- Relativamente ao futebol profissional, e isso ainda não está auditado, preciso ver qual o retorno efetivo do investimento feito no desporto. A mim dizem-me que o retorno no futebol profissional é feito por via dos impostos, IRS, IVA e IRC. Temos de auditar isso.
FN – Já lhe passou pela cabeça a criação do clube único?
MA – Isso não é a questão essencial mas saber se há retorno ou não.
FN – São muitas críticas aos apoios ao futebol em tempo de desemprego e crise…
MA – Temos de olhar para o desporto não de forma emotiva mas racional. Temos a formação escolar, a formação da população desportiva federada e o futebol profissional, que é uma área à parte, porque há direitos de televisão, julgo que os clubes cá recebem dois milhões de euros, que depois tem um efeito multiplicador a nível dos impostos. Quando o Benfica veio cá trouxe três ou quatro aviões de adeptos, é preciso auditar quais os efeitos multiplicadores disso. Os contribuintes têm que saber o que vão fazer com o seu dinheiro. É a pergunta que se faz nos países anglo-saxónicos. A formação desportiva é feita através dos clubes. Toda a gente, no tempo das vacas gordas, recebia os apoios e entretanto as coisas complicaram-se. Hoje temos dirigentes desportivos que vivem com pânico. É importante planificar os gastos no sentido de saber o que contam. Precisamos de organizar o setor, dizer o que existe e as pessoas saberem o que podem contar.
FN – Tem algum clube preferido?
MA –Sou do Nacional por causa da natação. Mas não sou um adepto de futebol, nada tenho contra, mas não o frequento. Acho que a política nada tem a ver com o futebol. A primeira pessoa a demonstrá-lo em Portugal foi o Rui Rio, no Porto e foi duas vezes eleito contra os clubes. As pessoas sabem distinguir as coisas.
FN – O que fará com a Fundação Social Democrata que tem uma dívida elevada, 6 milhões de euros de passivo?
MA – A minha responsabilidade neste momento é com o partido e aqui temos as contas perfeitamente controladas.
FN – O partido também tem um passivo elevado, 6 milhões…
MA – Tem, mas é um passivo perfeitamente controlado.
FN – E a Fundação?
MA – Eu não sou da Fundação.
FN – Mas Rui Abreu é secretário-geral do partido.
MA – Mas não é da Fundação, que tem os seus órgãos e que é auditada e presta contas nos termos da lei.
FN – Mas qual o rumo que dará à Fundação?
MA – Eu não posso dar rumo, a Fundação é que tem de dizer o que quer.
FN – Mas vai continuar como até hoje, a suscitar algumas dúvidas em termos de gestão.
MA – A Fundação é uma instituição que tem órgãos próprios, gere um património próprio e o nosso partido tem alguns contratos de arrendamento com ela. Mas a gestão da Fundação é uma coisa e o nosso partido outra. Eu e o Rui Abreu somos responsáveis pelo partido e não pela Fundação. Ambos são auditados. As contas do partido estão controladas, pois também conseguimos reduzir os custos. Andava muita gente preocupada com o facto de termos receio em tomar decisões com a redução do jackpot mas não é isso que se verifica. Agora, há partidos, sobretudo na Assembleia, para quem o jackpot era um fulcro de emprego para famílias, amigos e assessores, esses vão ficar mais afetados que nós.
FN – Vamos falar do Jornal da Madeira. Sabemos que defende a privatização, mas sejamos concretos: privatizar como e com quem?
MA – Temos a necessidade de ter dois órgãos de comunicação social escritos. Vamos apresentar no programa de governo a necessidade de privatizar ou outra solução. O que não pode acontecer é o governo continuar a entrar com dinheiro público num órgão de comunicação social. Temos de suster o passivo que já ultrapassa os 50 milhões de euros. Vamos encontrar uma solução no âmbito da privatização, encontrar no mercado um parceiro para continuar a publicar o Jornal da Madeira com uma linha editorial completamente independente do governo. Mas a primeira conversa que vamos ter será com a Igreja.
FN – Mas neste tempo de crise e de retração económica, está a ver alguma empresa com disposição de assumir o passivo do JM?
MA – Vamos ter que limpar o passivo.
FN – O governo então assumirá essa dívida para entregar o título a um privado?
MA – Vamos ter que ver isso. Eu não vejo outra solução. Esse passivo existe, vamos estudar o assunto. Também é preciso salvaguardar alguns postos de trabalho porque já temos jornalistas a mais desempregados. A componente dos jornais não é só informativa mas também cívica. A Região não pode ter o monopólio de um órgão de informação em papel. Como sabe, hoje em dia há outras alternativas em virtude da Internet, porque o mundo da comunicação mudou muito. A nossa obrigação é assegurar o pluralismo. Acho que é importante existirem dois órgãos de comunicação diários e escritos na Região.
FN – Outra questão de fundo é a PAEF- Plano de Ajustamento Económico e Financeiro. Tem tido negociações com Passos Coelho. Como conciliar as obrigações com os timings de cumprimento da dívida?
MA – O PAEF tem corrido com muitos constrangimentos para os madeirenses, mas há uma verdade: tem sido integralmente cumprido pela Região. A perspetiva é melhorar as condições de aplicação do próprio plano, não há outra solução. Isso vai acontecer. Não posso dizer agora qual a solução concreta mas há boas perspetivas no PAEF, porque é algo que neste momento foi importante para salvar a Região da bancarrota.
FN – Mas o que são “boas perspetivas”?
MA – Inevitavelmente vai haver um alívio da austeridade. Agora, não lhe posso dizer neste momento, nem adiantar propostas demagógicas.
FN – A Zona Franca é outro tema de fundo para resolver, com o receio de se poder perder empresas caso os benefícios fiscais sejam reduzidos como tem sido falado. Como tenciona solucionar esta situação?
MA – É importante que o IV regime fiscal da Madeira seja diferente do de Canárias e que se mantenha a questão dos plafonds. Temos de centrar a Zona Franca ou Centro Internacional de Negócios numa perspetiva de receita fiscal. Mais do que os plafonds na criação da empregabilidade, esta tem que ser vista como uma segunda questão que vem por via fiscal. Portanto. a receita fiscal é essencial.
FN – Mas persiste o problema: como solucionar o impasse fiscal da Zona Franca?
MA – Posso adiantar-lhe que o governo português já tomou a posição da defesa do IV regime fiscal junto de Bruxelas. Isto significa que o governo português defende a manutenção do regime fiscal anterior em diferenciação com o de Canárias, o que nos permite tornar o nosso Centro Internacional de Negócios atrativo para as empresas. Já temos essa confirmação e, portanto, vamos evitar que muitas empresas saiam da Zona Franca, porque continuará a ser competitiva.
FN – Isso é uma garantia do Primeiro Ministro?
MA – Não, já avançou.
FN – Em termos de relação da Região com o governo central, já se percebeu que vamos entrar numa nova era de diálogo. Vai mudar os deputados madeirenses do PSD na Assembleia da República?
MA – Isso será uma decisão que vamos tomar na altura própria, só depois das eleições.
FN – Mas na sua nova linha de intervenção está a pensar mudar alguma coisa?
MA – É óbvio, porque neste momento, no partido não há lugares permanentes. Aliás o meu está estabelecido nos estatutos que tem a limitação de três mandatos.
FN – Vamos falar dos transportes marítimos e do famigerado monopólio do Grupo Sousa nos portos, saída do Armas…
MA – Nós vamos apresentar no programa de governo um objetivo muito simples e não vale a pena estarmos a inventar a roda. É importante que o preço de transporte de mercadorias para a Madeira seja reduzido. Relativamente ao transporte de passageiros, há a possibilidade de abrir concurso no sentido de assegurar uma ligação marítima com a Madeira.
FN – Através do Armas ou de outra companhia?
MA – Vamos abrir concurso e logo se vê. Existe aqui uma questão, se devemos ou não subsidiar o passageiro, mas penso que vamos ter de fazê-lo no sentido de viabilizar a própria operação. A outra questão visa estabelecermos um regime para o transporte aéreo que fixe um teto tarifário para os residentes e estudantes. Desde que foi estabelecida a liberalização, nas alturas de pico, vimos que as passagens para residentes e estudantes atingem valores incomportáveis e é importante que o princípio da unidade territorial seja assegurado. Estas são prioridades que vamos cumprir.
FN- Ainda voltando à terra, aos portos, tem coragem de mexer com os alegados interesses do Grupo Sousa?
MA – Eu não preciso de coragem. Se for eleito, tenho algo que é essencial, o voto democrático dos madeirenses e portossantenses para salvaguardar os interesses do arquipélago. O problema dos portos e do transporte marítimo de mercadorias é um problema que tem a ver com a nossa vida. Portanto, os custos da operação têm que ser reduzidos.
FN – Mas depois comenta-se que são esses grandes empresários que financiam as campanhas do partido…
MA – Não financiam nada, desculpe lá. Tomo as decisões que tiver que tomar. Também quando foi a campanha interna diziam que eu não conseguia nada, que era os lobbies, este e aquele. Não aconteceu nada. A gente às vezes vive com uns receios do que não existe. Quem manda e deve mandar neste país é o poder político e tem toda a legitimidade para o fazer.
FN – Tem falado do Porto Santo. Tem um bombom para o Porto Santo?
MA – Não tenho bombons nem varinhas de condão. Vamos tentar inverter a situação complicada que o Porto Santo está a atravessar. É fundamental termos lá uma boa formação profissional, revitalizar a economia, melhorar as acessibilidades e alargar o período de sazonalidade turística, porque se diz que é sazonal mas a grande afluência ao Porto Santo é de mês e meio. Portanto, temos que trabalhar muito porque há 600 desempregados na Ilha.
FN – Há uma Câmara socialista em Porto Santo. Como vai gerir essa relação?
MA – A minha relação com as câmaras será sempre institucional, normal. Não vou discriminar nenhuma câmara por ser da oposição ou não. O que interessa é o serviço à população.
FN – Falemos das empresas públicas e dos seus gestores, Eletricidade da Madeira, Horários do Funchal, Cimentos da Madeira… Vai mexer aqui?
MA – Vamos analisar e tomar as decisões.
FN – Não há lugar cativo também aqui?
MA – Não há lugar cativo em lugar nenhum. Fazemos uma ideia do trabalho que foi feito. Temos bons quadros aqui como temos bons técnicos no governo. Temos é de motivá-los e pô-los a trabalhar. Quando cheguei à Câmara, também diziam que os funcionários não trabalhavam… Eu mobilizei ao longo dos anos todas as pessoas e trabalhavam com eficácia. Isso não é verdade. Há as pessoas necessárias na administração pública e é preciso saber mobilizá-las.
FN – Relativamente à privatização das empresas públicas, uma das condições do PAEF, julgo que para si a Horários do Funchal não é uma prioridade.
MA – A Horários do Funchal é uma concessão. É essencial assegurar o serviço público, nomeadamente aquelas carreiras, por exemplo, para as zonas altas, que é deficitária. Este serviço tem de continuar a ser prestado. O poder público tem de continuar a ter poderes de intervenção na definição para estabelecer áreas de ordenamento, política energética, circulação e mobilidade.
FN – Como concilia essa vontade com a alienação acordada no PAEF?
MA – Como disse é um regime de concessão, vamos analisar depois o caderno de encargos.
FN – A nível da Empresa de Eletricidade?
MA – É uma empresa estratégica, podemos eventualmente abrir parte do capital mas será sempre uma empresa estratégica para a Região.
FN – A Cimentos Madeira?
MA – Do meu ponto de vista não é uma empresa estratégica.
FN – Já tem algum privado em vista para a Cimentos Madeira?
MA – Não.
FN – Também a nível do Centro Internacional de Negócios, há uma concessão à SDM que está prestes a terminar…
MA – A ideia é estudarmos a questão no sentido de garantir um modelo que sirva os interesses da Madeira.
FN – O que significam essas palavras na prática?
MA – Significa que o modelo deve ser repensado quando acabar esta concessão. Acho que é importante que a Região tenha uma participação. Não há gestão, há participação. Portanto, aumentar a participação da Região que não existe neste momento.
FN – A saúde é um setor com um défice de contas elevado e com grande agitação interna. Como vai gerir esta área?
MA – A situação da sustentabilidade do sistema regional de saúde é essencial. Em 2013 gastámos 354 milhões no sistema. Acho que este setor deve assentar num sistema público e privado, através da convenção. Mas temos uma prioridade: o diálogo entre os parceiros. Tem que haver diálogo entre os médicos, enfermeiros, técnicos de saúde. Tem que haver uma pacificação do sistema neste momento. Logo, ter, por um lado, a preocupação de assegurar a convenção, diálogo com as farmácias em termos de protocolo e dar muita atenção à medicina familiar ou preventiva. A prevenção é essencial para também controlar os custos. Por outro lado, é preciso racionalizar o sistema em termos de convenção, não duplicar os custos. Temos de fazer as convenções de forma transparente e centrar o sistema no bom serviço ao cidadão.
FN – Esta administração hospitalar é de transição?
MA – O Dr. Mário Rodrigues, que conheço bem, tem feito uma pacificação do sistema hospitalar e tem corrido bem. É evidente que esta administração está até ao próximo titular e depois será tomada a decisão. Vai depender do próximo governo.
FN – Fala-se muito na possibilidade de convidar Manuel Brito, adepto da sua candidatura, para o SESARAM?
MA – O Dr Manuel Brito é uma pessoa por quem tenho grande consideração e amizade, sobretudo pela sua competência técnica. Tem provas dadas na saúde local e nacional. Não tenho nenhuma escolha feita neste momento para lugar nenhum. Conheço muitas pessoas na área da saúde, mas o que interessa é os problemas. E o primeiro problema é estabelecer diálogo com os profissionais. Num sistema com dificuldades, se as pessoas se sentirem bem, tudo corre melhor. A situação estava muito crispada.
FN – Em termos de cenários eleitorais, sabe-se que corre para a maioria absoluta. Acha que o vai conseguir?
MA – Acho!
FN – Tem algum dado estatístico, para além da sondagem da rua?
MA – Para mim a rua é importante. Há pessoas que não ligam à rua mas é importante para mim. Tenho boas perspetivas, este é o meu cenário. Vão surgir dificuldades, mas vamos conseguir.
FN – Num cenário de não conseguir a maioria…
MA – A Democracia tem essa vantagem de poder encontrar os acordos todos num quadro parlamentar que for eleito.
FN – Então terá de virar-se para o CDS-PP?
MA – Isso depende, vamos ver qual o quadro que sai das eleições.
FN – Mas não descarta essa possibilidade?
MA – Eu não posso descartar uma possibilidade que decorre do próprio sistema. Mas eu penso que isso não vai acontecer.
FN – Sempre teve uma boa relação com José Manuel Rodrigues…
MA – Vamos ver como é que decorrem as eleições.
FN – Como vê o papel da oposição?
MA – A oposição está com o problema de ter estado a dormir à sombra da bananeira. Habituou-se a mandar umas bocas, com base em algumas fragilidades que o PSD apresentava. Julgava que o nosso partido se ia fragmentar nas eleições internas. Ficou sentada nos seus lugares à espera que isso acontecesse. E não aconteceu. Neste momento, nem conseguem entender-se relativamente às coligações. Acho fantástico! Se não conseguem entender-se entre eles, como vão governar uma Região com a complexidade que nós temos.
FN – Vai ter então o caminho facilitado?
MA – Eu não vou ter o caminho facilitado, porque tenho um grande respeito para com os eleitores. Nunca entrei numa campanha que não levasse em linha de conta a necessidade de esclarecer devidamente os eleitores.
FN – A CDU está a fazer um trabalho de levantamento do que prometeu e não cumpriu, nas suas intervenções junto das populações.
MA – A CDU pode ter aí um pedaço azar, porque andou durante anos a dizer que dominava as zonas altas e eu aqui tinha sempre mais de 85% da votação.
FN – Também se comenta que é mais o eleitorado feminino a votar em si…
MA – O eleitorado feminino, porquê? Já estou velho e enrugado.
FN – Acha que o lado privado da sua vida poderá ser um problema político? Isto é, comenta-se que emagreceu muito, fuma…
MA – Eu tenho uma vida normal. Fumo, estou a tentar reduzir o tabaco…Perdi peso e ainda bem porque já vou fazer 54 anos e é fundamental perder peso. Faço uma alimentação controlada, sem dietas. Tive um problema há uns anos, de pedra nos rins, que foi público e que me forçou a ter outros cuidados. Tive um ano a trabalhar no estrangeiro, mas viajava quase todas as semanas. Porém, procurei sempre manter-me ligado à realidade, atento à vivência das pessoas. Tenho uma vida normal, gosto de ir ao supermercado, de botânica, de cozinhar, de ir a um bom espetáculo, ir às livrarias…
FN – A sua vida conjugal também é por vezes falada pelo facto de ser marcada pela mudança. Como comenta?
MA- Tenho uma vida pessoal normalmente estabilizada. As minhas opções pessoais estão assumidas, não tenho nenhum arrependimento nem nenhuma vergonha até porque tenho uma vida perfeitamente organizada.
FN – Essa vertente não o prejudica?
MA – Não porque não temos aquela hipocrisia anglo-saxónica. A sociedade portuguesa teve uma grande evolução em relação aos costumes e ainda bem. Já não é uma sociedade conservadora mas liberal. Basta ver o que se passou em relação ao casamento homossexual, o papel da mulher na sociedade, enfim…
FN – Comenta-se também que está muito ligado ao Jaime Ramos e que este lhe poderá estar a pagar as contas…
MA – Isso foi uma situação que decorreu do próprio exercício das últimas eleições internas do PSD/M. Eu não tenho ligações a espécie de lobbie algum. O único lobbie que exerço é o das roseiras de jardim. Não tem nenhum sentido. Não gosto de diabolizar as pessoas, mas do ponto de vista político, o posicionamento do antigo secretário-geral do partido sempre foi ao lado do Dr Alberto João Jardim.