Entrevista Irmã Glenda
Fabíola de Sousa
Já deu meia volta ao mundo com a sua voz e a sua guitarra, e apenas com estes instrumentos consegue reunir em concertos milhares de jovens. O seu trabalho pastoral com os jovens é enorme pelo testemunho que dá através das suas canções. O estrelato chegou à vida da Irmã Glenda depois da XVII Jornada Mundial da Juventude em Toronto, em 2002, onde cantou para mais de um milhão de pessoas e para o Papa João Paulo II.
A Irmã Glenda realizou, recentemente, um concerto na Madeira e em entrevista ao Funchal Noticias revelou como uma freira pode cantar e dar concertos.
Funchal Notícias – Como é que uma religiosa canta e faz espectáculos para multidões com uma guitarra e a sua voz?
Irmã Glenda – Não tenho explicação. Eu sempre pensei que queria servir a Deus na área da psicologia para ajudar as pessoas que sofrem e fiz esse trabalho em escolas, colégios e na catequese durante muito tempo. E foi uma surpresa para mim quando me convidaram para cantar na Jornada Mundial da Juventude, em Toronto, em 2002.
F.N – Foi aí que nasceu o fenómeno “Irmã Glenda”?
I.G– Sem dúvida. Mas foi um percurso reflectido porque eu senti o chamamento mas não tinha produtora, nem agente, só a minha voz e a guitarra. E tudo nasceu do chamado “boca a boca”, foi essa a publicidade.
F.N – Encontrou na música uma forma de consolar o povo?
I.G– Sim. Para mim a música é uma linguagem privilegiada porque a música é algo humilde, enquanto muitas vezes a palavra é algo prepotente, soberbo, muito forte, a música é muito humilde e escutar uma canção é inofensivo, não provoca uma reacção adversa para o evangelho. As canções que componho ajudam as pessoas a orar, e para mim é sempre um mistério que tanta gente venha apenas escutar uma guitarra e uma voz. A forma como esses dois elementos ajudam a acalmar a dor e o sofrimento humano é algo que só se explica através do amor de Deus. A música para mim é como Deus: não se vê mas faz sentir o coração e tocar a mente das pessoas.
F.N – A Igreja e a sua congregação aceitaram bem esta mudança no seu trabalho pastoral?
I.G – No princípio, quando recebi muitos convites, a congregação teve medo porque não sabiam onde esconder a esta irmã Glenda para que me deixassem tranquila. Mas com o passar do tempo houve sensatez para perceber se era um fenómeno de momento ou algo meu.
Não posso deixar vinte anos de trabalho num colégio como algo passageiro. Foi um processo de discernimento com muitas dúvidas da Igreja e minhas. Eu digo: (risos) antes era a freira psicóloga, agora serei a freira da guitarra e todos se vão rir. Eu tinha muitas dúvidas e medo de cair no ridículo mas tudo isso há que discernir e entregar a Deus. Até ao momento Deus quer mas de repente, no próximo ano, diz Irmã Glenda não canta mais, volta ao colégio. Fico feliz, porque me dá igual. Agora acredito que Deus quer isto para mim, mas com o passar do tempo não sei.
Para a sociedade pode ser estranho ver uma freira cantando pelo mundo mas também Santa Teresa, pior que eu, no século XV, deu a volta à Espanha num burro. E às mulheres custa sempre mais porque têm sempre de trabalhar mais, como por exemplo a primeira médica, a primeira advogada, a primeira política, agora é uma freira que canta mas acredito que quando é de Deus a Igreja apoia e foi isso que aconteceu.
F.N – Qual foi a sensação de cantar e tocar para mais de um milhão de pessoas na presença do Papa João Paulo II?
I.G – Primeiro tive medo porque é como um monstro – um ruído gigante- mas quando senti o silêncio no meio da multidão e comecei a cantar, dei-me conta do milagre da música e da palavra de Deus, como faz com que a música chegue às pessoas e estas permaneçam em silêncio a escutar. Foi emocionante estar em frente a um santo: mesmo que seja apenas de longe, dá uma sensação de paz. Ao mesmo tempo senti medo, devido à quantidade de jovens que estava ali e porque era a primeira vez que cantava em público para tanta gente.
Eu cantava para os alunos da catequese e do colégio, mas cantar para tanta gente e para o Papa foi emocionante. A emoção foi ainda maior porque cantei depois de uma grande orquestra francesa e de uma orquestra inglesa. E de repente, eu sozinha com uma guitarra e a minha voz a cantar “Porquê tengo miedo”. Foi uma coisa que me impressionou muito e por momentos senti que o Papa também cantou comigo.
F.N – O que a levou a mudar a sua forma de evangelizar passando de um trabalho de comunidade da congregação para um mundo da música e do estrelato?
I.G – Eu já tinha sentido uma chamada da igreja que me convidava e chamava: venha cantar, venha pregar. E eu perguntava-me porque me estão chamando. Será que Deus tem algo para mim? E foi assim que fui deixando o meu colégio para dedicar-me exclusivamente, por agora, a servir a Deus através da música. Mas Toronto foi o pontapé de saída. Foi aí que a Irmã Glenda começou com esta chamada evangelização com a música.
Não gostava muito no início, porque não consegui acabar o meu doutoramento em psicologia já que começaram as viagens e fiquei sem tempo para estudar, mas senti que Deus queria uma evangelização através da música e segui esse caminho.
F.N – Quantos álbuns já editou?
I.G– Nove. Para este ano ainda não tenho nada novo. Acredito que surja algo no próximo ano, 2016. Como 2015 é o ano de Santa Teresa talvez seja algo relacionado com a liturgia das horas. Eu tenho as canções, mas não tenho tempo para sentar-me e gravar.
F.N – Que trabalhos tem previstos para este ano?
I.G -De Fevereiro até Junho vou estar entre os Estados Unidos e a América Latina cantando. Depois volto para a Europa em Junho e trabalho até Janeiro de 2016.