Numa notícia que passou despercebida na esmagadora maioria dos órgãos de comunicação social, apesar de ter sido noticiada em destaque pela agência de notícias Reuters e pelo Bloomberg, um número estimado de pelo menos 50 mil pessoas reuniu-se na Praça de São Venceslau, no coração de Praga, República Checa, para protestar com o custo de vida, em particular com o aumento do preço da energia.
A manifestação intitulou-se “A República Checa Primeiro” e relaciona-se com o aumento do custo de vida e com a inflação experimentada por múltiplos países europeus, no decurso das más sucedidas sanções aplicadas à Rússia e que estão a fazer ricochete nas economias europeias, designadamente no aumento dos custos energéticos, além dos bens alimentícios de primeira necessidade. Realizou-se a 3 de Setembro.
O primeiro-ministro Petr Fiala acusou a manifestação de ter sido organizada por “putinistas” influenciados pela “propaganda do Kremlin”, mas tanto o Partido Comunista como partidos de extrema-direita participaram (além do cidadão comum, que mostrou o seu descontentamento em números que não são para desprezar). Entretanto, existe na Internet uma petição para um contrato de fornecimento de gás barato com a Rússia, e que também exige neutralidade militar face à posição da UE e da NATO e mais apoio para os negócios checos.
Concorde-se ou não com estas tomadas de posição face ao conflito na Ucrânia, o certo é que esta é a primeira grande manifestação de descontentamento dos europeus afectados pela política europeia de sanções à Rússia incentivada pelos EUA, cujas contra-medidas russas deverão causar um Inverno muito difícil no Velho Continente, com crise económico-financeira e aumento brutal do custo de vida. Não é difícil prever que com o agravamento do desemprego, somado a estas circunstâncias, a contestação popular aumentará em muitos países, favorecendo a ascensão de movimentos de extrema-direita.
O curioso é que a BBC referiu-se a esta manifestação, apontando números até superiores aos que referimos, numa reportagem publicada hoje, em que anuncia que o governo alemão prepara um pacote de 65 mil milhões em medidas para contrabalançar o aumento da energia, dizendo textualmente: “Há já pequenos sinais de descontentamento”, referindo-se à manifestação em Praga e apresentando números até superiores aos que referimos: uma estimativa de 70 mil participantes, “protestando contra os altos custos da energia e exigindo um fim às sanções contra a Rússia”.