Rui Marote
Noutros tempos era comida de pobre!!! Hoje faz parte da ementa, duas vezes por semana, de imensos restaurantes no centro do Funchal.
Bem dizia a minha avó: – “Meu neto, o milhinho da avozinha é melhor do que o da casa da vizinha”. Nasci no ano em que a segunda guerra mundial acabou. Eram anos difíceis para as famílias madeirenses. Havia quem comesse milho com uma cebola. Arranjar farinha para matar a fome não era fácil.
Hoje é interessante observar que as ementas dos takeaway nos centros comerciais, e também de vários outros restaurantes, incluem milho cozido à terça e ao sábado. Afinal, é um gosto adquirido dos madeirenses. E há quem o adore, com bifes de atum.
Com a crise da semilha, em 1841, provocada pelo míldio, os madeirenses sentiram necessidade de promover uma cultura de substituição, optando pelo milho. A fome de então obrigou mesmo as autoridades de então a enviarem uma delegação a Cabo Verde, para aprenderem técnicas de plantação em escala e para adquirirem algumas toneladas do produto.
O milho constituiu a partir dessa altura a base alimentar da maioria da população madeirense. As famílias mais abastadas apenas esporadicamente o consumiam, como acompanhamento do peixe. Mas não há dúvida de que o gosto ficou e reflecte-se, de forma curiosa, nos dias de hoje.