Angola versus Madeira

Em Angola tal como na Madeira o poder político nunca mudou de mãos. Quer na antiga colónia portuguesa quer nesta Região, a governação tem pertencido sempre ao mesmo partido. Em Angola, ao MPLA. Na Região ao PPD/PSD.

Em ambos os territórios, essa governação confundiu-se num caso (Angola) com o próprio Estado e na Madeira com a Região.

E tem sido, quer num caso quer noutro, graças a um controle absoluto do poder e dos diferentes poderes que os aludidos partidos se foram eternizando no poder.

Na Região, quando em 2013, a oposição conquistou a maioria das Câmaras Municipais, os mais optimistas anteviram que finalmente na Região poderia estar próxima a alternância no poder. Uma possibilidade que o PS desperdiçou ao perder as eleições regionais de 2019 e que o CDS impediu ao disponibilizar-se para coligar-se com o PPD, garantindo dessa forma a sua manutenção no poder.

Com a derrota nas últimas eleições autárquicas verificada na capital madeirense, as perspectivas relativamente às eleições regionais de 2023 são claramente mais favoráveis ao partido sediado na Rua dos Netos que poderá até, quiçá, dar-se ao luxo de escolher, em caso de necessidade, um novo parceiro de governação.

E para complicar o cenário vimos assistindo a declarações do novo líder do PS local que revelam uma incapacidade em se distanciar de interesses económicos a que esteve anteriormente associado.

Afirmar como fez a esta publicação que na Região “não há monopólios” ou que os mesmos são “legais” significa que da sua parte e do partido que lidera(?) nada será feito para pôr em causa actividades e sectores que funcionam sem concorrência com claro prejuízo para o público consumidor que paga esses serviços e produtos mais caros.

Declarações que, ao fim e ao cabo, se não estranham tendo em conta o seu percurso profissional, mas que indiciam que está condicionado pelos aludidos interesses, se não mesmo capturado.

Um condicionamento e captura que, de resto, se estende à própria comunicação social escrita.

Com efeito, não é por acaso que, por exemplo, os custos da operação portuária deixaram de constituir manchete nos dois matutinos locais ou que a problemática em torno da retirada ou colocação de inertes no leito das ribeiras tenha desaparecido, como se, de repente, como que por milagre, tivéssemos passado a viver no melhor dos mundos. Ou seja, basta consultar a estrutura societal das referidas publicações para perceber por que é tais temas deixaram de ser assunto nas respectivas páginas ou nunca o foram.

Neste quadro, acredito que, apesar de tudo, será mais provável que no futuro próximo, em Angola a alternância política venha a ocorrer primeiramente do que nesta Região.

Afirmo-o sem qualquer prazer. Simplesmente porque, ao contrário do que ocorre entre nós, há em Angola, como se viu nas recentes eleições, um grande envolvimento da sua juventude ansiosa por uma mudança política, de que os resultados em Luanda constituem um fortíssimo sinal.

 

*  por opção, o presente texto foi escrito de acordo com a antiga ortografia.

 

Post-Scriptum: 1) Escassez de mão-de-obra: Já cansa ouvir a conversa em torno da falta de mão-de-obra em determinados sectores de actividade como se a questão se resumisse ao desinteresse em trabalhar das pessoas que recebem subsídios. E se os empresários seguissem a recomendação do presidente dos EUA como resposta ao problema: “pay them more” (paguem-lhes mais)?!

2) Ocaso: O imbróglio em que se meteu Ronaldo relativamente ao clube em que vai ou pretende jogar na presente temporada é revelador de quem não percebeu de que ninguém é eterno. A novela já é patética e deprimente.

3) Apropriação/Plágio: O “independente”, cujo director passa a vida a pretender dar lições de ética a todo o mundo e mais alguém, publicou no final de Julho passado uma “investigação” sobre o sacerdote madeirense César Teixeira da Fonte sem respeitar a deontologia profissional, na medida em que o trabalho tem autor (o advogado João Lizardo) que não o diário em causa. Enfim, quem tem telhados de vidro devia abster-se de pregar moral!

4) A salivar: O anúncio de uma nova via para ligar o Funchal (desta feita em túnel!) pôs a salivar as empresas de construção civil. E até o “pai” da dívida “oculta” veio congratular-se com a decisão. Pudera! O que importa é obrar. No final, pagam os mesmos de sempre: os contribuintes.

5) Subsídio-dependência:  A lata não tem limites. Ouvir gentinha do PPD/PSD (no activo ou na reforma) pregar contra a proliferação de subsídios atribuídos é o cúmulo da hipocrisia por porvir de quem se fartou (e farta) de subsidiar tudo e todos. Até uma égua teve direito a subsídio! Não têm qualquer moral para agora queixarem-se.