Caso Padre Giselo ainda não tem solução encontrada mas Bispo não quer falar de casos concretos

D. Nuno Brás afirma que a debilidade faz parte da história da igreja e não há que a temer. Fotos e vídeo Lúcia Pestana.

A situação do padre Giselo Andrade esteve também na mesa da conversa do Bispo do Funchal com o Funchal Notícias. Há alguns anos, o então pároco do Monte agitou a sociedade e a própria igreja com o anúncio publico de que assumira a paternidade de uma criança. O antecessor de Nuno Brás, o Bispo D. Carrilho, decidiu, em comunicado, dispensar o sacerdote das suas funções como pároco do Monte, mas iria “continuar a exercer o ministério pastoral” como sacerdote, noutras funções. Assim permanece até hoje, concelebrando as eucaristias e como responsável do “Jornal da Madeira” (on line). Acontece que tudo isto continua a ser visto com grande perplexidade e inquietação na comunidade, até mesmo em termos de definição do percurso futuro de Giselo Andrade. Será uma solução deixar andar o caso ou tomar decisões?

Vídeo Lúcia Pestana

O FN confrontou o Bispo da Diocese com a questão, a partir das dúvidas que o caso suscita dentro e fora da igreja. D. Nuno Brás reage: “Peço desculpa, mas eu não falo de casos concretos”. Acontece que foi e é um caso de grande exposição pública: “Está bem, mas os casos concretos falo com a própria pessoa. Não me vou justificar assim publicamente. Aquilo que eu posso dizer é que, obviamente, estes casos assim concretos são o que são e há sempre a tentativa de encontrar alguma solução. Se ela não foi encontrada é porque ainda não foi encontrada. Creio que podemos e devemos falar em comunidade diocesana. Portanto, a comunidade diocesana, que tem à sua frente o Bispo, não pode deixar de perceber que nem todas as coisas se podem resolver de um dia para o outro, nem de um ano para o outro, muitas vezes exigem vários anos”

“Nessa caminhada de vários anos”, volta o FN a insistir, estamos a falar concretamente de quê, de uma reflexão ou …? “Estou a falar de tudo, quer dizer, estou a falar de uma reflexão, de amadurecimento, do que é necessário para um determinado caso, qualquer que ele seja, no geral. Muitas vezes, há coisas que se resolvem de hoje para amanhã, há outras que levam um ano, outras muitos anos e há coisas que levam a vida inteira a resolver”. Não receia que esse compasso longo de espera possa ser visto como um sinal de debilidade da igreja? D. Nuno Brás mostra-se tranquilo e repousa a resposta na história da igreja: “Mas a debilidade faz parte da vida da Igreja. Nós não podemos esquecer que tudo isto começou na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo. E mais debilidade que essa é muito difícil. Portanto, a debilidade marca a vida da igreja. Quem estudar minimamente a vida da igreja, vai deparar-se sempre com duas constantes, em qualquer período, mesmo na igreja dos Atos dos Apóstolos: o pecado, a crise, a igreja sempre esteve em crise, desde o princípio, e a santidade. Estas duas constantes marcam a igreja do nosso tempo como de há dois mil anos. Conta-se que Napoleão terá dito a um cardeal que em 25 anos eu acabo com a igreja. E o cardeal terá respondido vai ser difícil porque andamos há mil e tantos anos a tentar e não conseguimos. De facto, a crise, as dificuldades, os pecados dos cristãos marcam sempre a vida da igreja negativamente. Ao mesmo tempo, depois, a santidade é também uma marca da igreja. Como diz o Papa Francisco, seja a santidade dos grandes santos… na Madeira temos vários exemplos, seja a santidade do Beato Carlos da Áustria, passando pela Madre Wilson, Madre Virgínia, passando por tantos exemplos sacerdotais, como o padre Paiva, sacerdotes ainda vivos, no ativo, e leigos, tantos e bons… Houve aqui umas alturas em que eu saia de casa e encontrava ali em baixo um senhor a rezar o terço. Quando eu passava dizia boa tarde sr Bispo, louvado seja Nossos Senhor Jesus Cristo. Acho isto caso único… De facto, o pecado e a santidade. Portanto, não temos de ter medo da debilidade, temos de a viver, temos sobretudo de perceber que a igreja não pode existir nem reagir com os critérios do mundo”.